Entrevista | 24-03-2019 07:00

Um enfermeiro ribatejano nas arábias

Um enfermeiro ribatejano nas arábias
TÃO LONGE E AQUI TÃO PERTO

Diogo Gaivoto, natural de Santarém, emigrou em Janeiro de 2016 para a Arábia Saudita.

Foi viver sozinho para Riade, capital da Arábia Saudita, com o objectivo de evoluir na carreira e ganhar estabilidade financeira. Apesar das grandes diferenças culturais entre Portugal e os países árabes, o jovem conseguiu adaptar-se ao novo país, muito graças à velha arte lusitana do desenrascanço.

Diogo Gaivoto, 30 anos, estava feliz em Portugal, mas nunca colocou de parte a vontade de emigrar. Um dia, após uma conversa com uma colega que reside e trabalha há alguns anos na Arábia Saudita, decidiu arriscar e candidatar-se a uma oportunidade de trabalho na área da enfermagem naquele país do Médio Oriente. A resposta positiva veio logo depois. Fez as malas e em Janeiro de 2016 partiu à aventura para Riade (Arábia Saudita).

“Desde adolescente que sempre quis conhecer o Médio Oriente. Depois, a Arábia Saudita é um país que dá estabilidade financeira e permite evoluir na carreira. Foi juntar o útil ao agradável”, confessou o jovem natural de Santarém, dizendo que nos primeiros dias contou com a preciosa ajuda da sua capacidade de desenrascanço, tão característica dos portugueses.

“Inicialmente tinha dificuldades em distinguir as mulheres que usavam niqab (para tapar a cara). Comecei então a decorar os sapatos que tinham calçados. Parece uma anedota, mas resolvi o problema”, conta o emigrante que se licenciou em Enfermagem na Escola Superior de Saúde de Santarém.

Diogo Gaivoto diz que existem bastantes diferenças entre Portugal e a Arábia Saudita, mas a que lhe causa mais confusão é o tabu no relacionamento entre homens e mulheres. Enquanto em Portugal a taxa de casamentos de membros da mesma família é baixa, nesse país árabe é bastante alto, o que explica o elevado número de crianças com doenças devido à consanguinidade. Depois, existe uma grande dificuldade em comunicar com as mulheres. Mas, adianta, “no meu caso até foi fácil porque trabalho num hospital com muitas mulheres sauditas e consegui relacionar-me facilmente e criar laços de amizade com elas, algo impensável fora do hospital”.

Uma ida ao barbeiro que não esquece

Como a religião mulçumana obriga o comércio a fechar durante a hora da reza, uma das peripécias que ainda hoje não esquece foi quando se deslocou ao barbeiro numa hora que coincidia com o momento de oração. Estava já sentado na cadeira quando fizeram o primeiro chamamento para a oração e o barbeiro desligou a luz para continuar a trabalhar. Entretanto, pouco tempo depois, alguém na rua grita e avisa os comerciantes que a polícia religiosa estava a fazer uma ronda. “Inicialmente não entendi nada, mas vi toda a gente a saltar para fora da barbearia, clientes e barbeiros, e fui atrás. No final, até tive sorte porque já tinha o cabelo cortado. Já o cliente ao lado saiu com um corte sui generis”, revela.

Apaixonado pelo seu país, o jovem diz que do que sente mais saudades de Portugal é da família, dos amigos, do vinho e da comida portuguesa. É que, confessa, não tem sido fácil vir a Portugal, especialmente porque o tempo é pouco e tem outros países que gosta de visitar. Felizmente, adianta, vive-se numa era em que a tecnologia ajuda imenso a encurtar distâncias, graças às vídeo-chamadas, mensagens de whatsapp e emails. Outra forma de matar saudades é confeccionar pratos portugueses. “Quando vou a Portugal trago sempre o bacalhau. Depois, aventuro-me a cozinhar os pratos tradicionais”, revela.

A trabalhar numa unidade de cuidados intensivos pediátricos, Diogo Gaivoto conta que o seu dia-a-dia é passado no hospital, fazendo turnos de 12 horas debaixo de um ambiente stressante, lidando com crianças bastante doentes e famílias em sofrimento. Durante os tempos livres, vai ao ginásio ou à piscina. Quando tem três ou quatro dias de folga seguidos, aproveita para conhecer alguns dos países vizinhos ou fazer mergulho em Jeddah, que fica na costa do Mar Vermelho.

De príncipes a beduínos

Diogo Gaivoto conta que já lhe passou de tudo pelas mãos, desde príncipes a beduínos que vivem no meio do deserto. Diz ainda que nos primeiros nove meses que esteve na Arábia Saudita e trabalhava num serviço de medicina de adultos, nunca cuidou de uma mulher. Mas desde que foi para os cuidados pediátricos nunca mais teve esse problema. “Cuidar da saúde dos árabes é um enorme desafio. Não só pela língua, mas pelas crenças e mezinhas que são difíceis de desconstruir”, refere.

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