Entrevista | 07-09-2019 10:00

Nasceu em Samora Correia um dos meninos de ouro do andebol nacional

Nasceu em Samora Correia um dos meninos de ouro do andebol nacional
DESPORTO

Salvador Salvador deu os primeiros passos da carreira no Núcleo de Andebol de Samora Correia.

Queria ser futebolista como a maior parte dos meninos da sua idade. E chegou a usar os pés para atirar às redes da baliza até que problemas de crescimento ditaram o fim de uma possível carreira nos relvados. Mas não desistiu do desporto e virou-se para o andebol. Aos 18 anos, com 1,98m de altura, Salvador Salvador é o lateral esquerdo de ouro da selecção portuguesa de andebol sub-19 que em Agosto conseguiu um inédito quarto lugar no Mundial Sub-19. Já o jovem ribatejano destacou-se como o sexto melhor marcador da prova, com 45 golos em nove jogos.

É com garra e afinco que treina diariamente. Não se considera “um felizardo que nasceu com talento”, mas um jogador persistente que nasceu num corpo grande. “A qualidade de jogo só vem com o trabalho”, afirma. E o de Salvador começou aos nove anos, no Núcleo de Andebol de Samora Correia (NASC), incentivado por um primo e pelo tio António Madaleno, presidente do clube. Uma década depois é nas bancadas do pavilhão gimnodesportivo de Samora, onde se estreou a jogar, que Salvador se senta para falar com O MIRANTE. “Este clube foi uma boa escola. Para aprender a técnica e a paixão pelo andebol”, introduz.

Mas foi o Sporting quem o ‘roubou’ a Samora e o lançou. A primeira proposta veio do rival Benfica mas Salvador optou pelos leões, onde já chegou à equipa sénior, apesar de ainda ter idade de júnior. Com a ida para a capital, a escola passou para segundo plano e o andebol tomou-lhe conta da vida. “Comecei a levar o desporto mais a sério e a perceber que podia ir mais longe”, recorda. Hoje estuda gestão desportiva e arrepende-se de não ter dado mais atenção aos livros.

Deixa Samora por amor à camisola

Salvador é o mais velho de três irmãos e muito chegado à mãe. Morava a cinco minutos da EB 2,3 Fernandes Pratas onde estudou até ao nono ano, mas com treinos à noite, o clube ditou-lhe a mudança. Mora em Lisboa e sente falta de “acordar cinco minutos antes das aulas e atravessar a rua”.

Rotina que mudou aos 15 anos e o fez seguir um percurso diferente da maioria dos jovens. “Eles chegam a casa com a comida na mesa e eu chego à meia-noite com roupa suada dos treinos para lavar e o jantar por fazer”, desabafa. Se foi difícil a mudança? “Muito. Deixar a família e os amigos quando se é adolescente e ir para um lugar onde não se conhece ninguém é duro. Há dias em que me sinto completamente sozinho”, diz.

A agenda é preenchida. Faz treinos bi-diários, vai à escola, ao ginásio e o calendário de jogos ocupa-lhe o resto do tempo. Teve de aprender a dizer não. A si e aos outros. Não come doces, fritos, fast food, nem ingere bebidas alcoólicas. As saídas com os amigos traduzem-se no “máximo em beber um café”, se no dia seguinte não houver treino ou jogo. Mas há quase sempre. O único ‘não’ que lhe custa dizer é à mãe quando não pode passar mais que meio dia em casa, num fim-de-semana. Se vale a pena? Salvador diz que sim, sorridente. “O andebol é paixão. Nunca teria saído de Samora se não fosse por amor ao que faço”, diz.

Mas até um craque que remata certeiro pensa em desistir. “Será que isto me vai levar a algum lado e que vale todo o esforço? Questionei-me muitas vezes”, confessa. O ombro amigo foi sempre o do treinador, o primeiro que teve. “O Norberto Cordeiro (NASC) foi quem me puxou nesses momentos”, refere, destacando o apoio incondicional da mãe, dos tios e primos, que deram “carinho extra, para compensar a falta do pai”, com quem não tem relação.

Os cinco títulos de campeão nacional pelo Sporting e o de vice-campeão olímpico, a jogar andebol de praia, nos Jogos Olímpicos da Juventude Buenos Aires (2018) levam o jogador a acreditar que pode ir mais longe. “Tenho ambições no andebol. Daqui a uns anos quero estar a jogar a Liga dos Campeões num grande clube”, refere, apontando o Barcelona e o Paris Saint-Germain como o top da sua lista de preferências. Outro desejo é poder continuar a ter o orgulho de carregar um país às costas, jogando pela selecção.

A próxima época vai ser a jogar na primeira divisão com a camisola do Boa Hora FC, emprestado pelo Sporting, para ganhar mais minutos de jogo.

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