Entrevista | 19-02-2020 15:00

“A falta de concentração dos alunos é o grande problema da educação”

“A falta de concentração dos alunos é o grande problema da educação”
IDENTIDADE PROFISSIONAL

Jónatas Ferreira é professor de violino e responsável pela Orquestra de Vialonga que está ligada ao agrupamento de escolas daquela vila.

O surgimento das consolas de videojogos, nos anos 80, lançou as bases para o desinteresse crescente dos alunos pela escola e pela aprendizagem. A ideia é defendida por Jónatas Ferreira, 40 anos, professor de violino e responsável da Orquestra de Vialonga, que tem hoje 249 jovens.

“Consigo olhar para trás e ver quando o interesse dos alunos pela escola começou a mudar e isso aconteceu com o advento das consolas. Aí foi lançada a semente. Também gosto de jogos e compreendo a paixão mas temos um aparelho com som, imagem e tacto, que envolve quase todos os sentidos, a fazer concorrência à escola, algo ainda monolítico, arcaico e menos tecnológico”, defende a O MIRANTE.

Para piorar a situação, hoje em dia todos os alunos trazem a consola consigo nos seus smartphones. “A falta de concentração dos alunos é o grande problema da educação hoje em dia. O livro ainda reina mas usa-se cada vez menos”, lamenta.

Jónatas Ferreira diz que o maior desafio do seu trabalho é convencer os alunos “da absoluta necessidade” de estarem empenhados e de trabalharem individualmente. “Os alunos chegam muito entusiasmados, na música temos essa vantagem face a outras disciplinas, mas a partir do momento em que percebem que aprender violino dá muito trabalho começam logo a pensar duas vezes”, confessa.

Jónatas Ferreira é coordenador do ensino integrado de música no Agrupamento de Escolas de Vialonga. É natural do concelho de Oliveira do Bairro, distrito de Aveiro, e veio com os pais para a zona de Lisboa quando ainda andava na faculdade. Casado e com três filhos, dava aulas de música no Conservatório Silva Marques em Alhandra quando soube que o Agrupamento de Vialonga precisava de um professor de música.

Chegou à freguesia em 2006. Um ano depois nasceu a orquestra, que tem tido um percurso ímpar na região e até já recebeu do município a medalha de valor cultural.

Começou a aprender música, inicialmente, com a ajuda do pai, que também era músico. “Não foi fácil porque ser professor dos filhos é sempre complicado”, confessa com um sorriso.

A partir dos oito anos, por vontade própria, começou a estudar música a sério. Aos 12 iniciou-se no violino e desde pequeno que sonhava dar aulas de música. “A música dá-nos ferramentas para trabalhar que são importantes, sobretudo a capacidade de concentração e de sentido estético. A educação artística é importante, seja tocar um instrumento, pintar ou dançar. O ser humano precisa disso”, defende.

A educação é o verdadeiro elevador social

A Orquestra de Vialonga, além de formar os mais novos na área musical, desempenha também um importante papel social, juntando crianças de diferentes estratos sociais que, de outra forma, nunca estariam a conviver mutuamente. “Queremos tornar a escola numa experiência positiva para todos. Promovemos a interacção entre diferentes franjas da população que de outra forma não estariam juntas. Na orquestra todos temos de trabalhar em conjunto”, explica.

Nos concertos que realizam por todo o país as palmas contribuem para a motivação e auto-estima dos alunos. “Quando começámos ninguém sabia o que era a orquestra. Fomos pioneiros e tivemos de dar o litro. Ao fim destes anos demonstra-se que foi uma boa aposta. Já temos alunos a terminar os seus cursos superiores de música. O nosso objectivo principal é dar essa oportunidade para os alunos escolherem seguir, ou não, uma carreira na área da música”, conclui.

Para Jónatas Ferreira a educação é o “verdadeiro elevador social” que pode fazer a diferença do futuro das crianças. Mas tira-o do sério as dificuldades que as autoridades competentes têm em compreender que a educação é realmente importante. “Ela deve ser a prioridade para qualquer país”, remata.

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