Entrevista | 08-04-2020 16:00

“Há pessoas que se aproveitam das associações para terem visibilidade”

“Há pessoas que se aproveitam das associações para terem visibilidade”
TRÊS DIMENSÕES

José Pires, 62 anos, é presidente do Grupo Dadores de Sangue de Vialonga há nove anos e defende que dar sangue é um dos actos mais solidários.

Não confia nos políticos e desvaloriza clubismos e futebol. Começou no associativismo aos 17 anos e a experiência diz-lhe que nem todos o fazem para trabalhar em prol dos outros mas para saírem bem na fotografia.

Tudo o que tenho saiu-me do corpo, a trabalhar duro como construtor civil. Os meus pais não tinham nada para me dar ou deixar. Aprendi a agradecer tudo aquilo que tenho. Não sou de ganâncias ou invejas. Nasci em Gouveia, mas vivo em Vialonga há 47 anos. Já me sinto meio ribatejano, mas nunca nego as minhas origens. Na memória guardo o calor da família sentada à volta da lareira que estava sempre acesa.

Faltou-me muitas vezes o colo da minha mãe. Aos 14 anos deixei o meu lar para ir carregar baldes de massa para Lisboa. Venho de uma família de cinco irmãos e pais agricultores. Todos ajudávamos nas lides do campo. Não houve tempo para grandes brincadeiras.
Comecei a dar sangue aos 40 anos e arrependo-me de não o ter feito mais cedo. A verdade é que tinha medo de agulhas e adiava sempre este compromisso que é de todos. Agora chego a dar quatro vezes por ano. Dar sangue é um dos actos mais solidários que o ser humano pode ter. Só lamento que algumas pessoas só percebam isso quando a necessidade lhes bate à porta. A inovação é uma constante, mas o sangue não se fabrica nem se vai fabricar. É preciso doá-lo para que se salvem vidas.

Antes de agir penso sempre duas vezes. Inimigos não os tenho e amigos de copo dispenso. Apenas valorizo as amizades de longa data, que já deram prova que valem a pena ser preservadas.
Estar em casa sem fazer nada para mim é uma doença. Não sou homem de sofá e durmo apenas quatro horas por noite porque o corpo não me pede mais.

Sou um homem do associativismo que gosta de fazer o bem sem olhar a quem. Comecei aos 17 anos, como sócio fundador, na Associação para o Bem-Estar Infantil de Vialonga. Pertenci aos órgãos sociais dos Bombeiros de Vialonga e sou presidente do Grupo Dadores de Sangue de Vialonga há nove anos.

Há pessoas que se metem no associativismo para se servir e não para servir os outros. Aproveitam-se das associações para ter visibilidade, mas quando é para trabalhar e arranjar soluções encostam-se a um canto. O futuro das associações vai sofrer cada vez mais com a falta de novos dirigentes. As pessoas estão cada vez mais comodistas. Só se lembram de Santa Bárbara quando ouvem os trovões.

Não gosto de futebol e não tenho clube. Ver jogadores a andarem aos pontapés a uma bola enquanto ganham milhões é um negócio que para mim não faz sentido, por isso não o alimento. Mas há quem diga que não tem dinheiro para dar de comer aos filhos e vai ao estádio ver a bola.

Fervo em pouca água quando acho que tenho razão e sou contrariado. Mas a teimosia não dura muito e reconheço quando me provam que estou errado. Foi algo que aprendi em 40 anos de casamento. À política não passo cartão nenhum, apesar de contribuir sempre com o meu voto nas eleições. Nas eleições os políticos prometem o mundo, mas depois esquecem-se do eleitorado.

O dia que mais marcou a minha vida foi o do meu casamento. Apesar de só ter tido dois amigos e a família mais próxima, porque o dinheiro era pouco, foi um dia muito feliz. A lua-de-mel foi passada em casa dos meus pais, numa noite gelada e de muita neve, em Gouveia.

Ainda me falta conhecer muitos recantos do nosso país. Viajo de carro sempre acompanhado pelos meus CD de fado e música popular portuguesa e não dispenso uma noite de fados no Ribatejo. Para cantar é que não tenho jeito. Gosto de viajar por cá e evito para o estrangeiro. Só passei a fronteira uma vez para ir a Espanha. A próxima viagem será aos Açores.

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