Entrevista | 04-08-2020 12:30

“Não gostei de ver o Presidente da República ignorar a morte de Mário Coelho”

“Não gostei de ver o Presidente da República ignorar a morte de Mário Coelho”
TRÊS DIMENSÕES

Rosa Barral é professora e autarca na Assembleia de Freguesia de Póvoa de Santa Iria e Forte da Casa.

Nasceu em Moscavide há 63 anos, mas há 36 que se mudou para o Forte da Casa, terra pela qual se apaixonou e onde fez vida. É professora de História e trabalha no Instituto de Apoio à Comunidade há 24 anos. É também um dos rostos mais visíveis da bancada do movimento independente António Inácio Póvoa Mais Forte (AIPMF) . Gosta de servir a causa pública e apoiar quem mais precisa. Tira-a do sério a ingratidão, detesta cozinhar e defende que toda a gente devia conhecer o seu vizinho.


Com um acesso à auto-estrada nos Caniços a Póvoa e Forte seriam dos melhores sítios para viver. Somos uma terra de grandes oportunidades com boa qualidade de vida, embora ainda haja muita coisa a melhorar, como a necessidade de criar mais parques infantis e espaços públicos como campos de futebol. Vialonga já nos conseguiu superar nessas matérias. Não sei como é que numa freguesia com tanta população não há um pavilhão multiusos nem um espaço para as festas.


Tira-me do sério o desrespeito pelos outros e a ingratidão. Sou líder da bancada do AIPMF mas já estive oito anos na assembleia de freguesia e 12 anos no executivo do Forte da Casa. Não gostei de ver o Presidente da República ignorar a morte de Mário Coelho. Se o encontrasse dizia-lhe que está a tentar agradar às minorias e que isso é uma má política. É presidente de todos os portugueses, os taurinos e anti-taurinos, e deve comportar-se como tal. Como é que pode dizer a 50 miúdos que não podem ir a um bar conviver por causa da Covid-19 quando depois vai ao funeral de um actor com outras dezenas de pessoas? Não pode ser.


Quem diz que o Forte da Casa é um bairro social não sabe do que fala e não conhece a terra. É uma vila bairrista onde as pessoas se conhecem umas às outras. Não somos uma vila dormitório. Somos uma comunidade diferente e muito unida. As pessoas no Forte, hoje em dia, não conhecem o presidente da junta. Ele é completamente ausente. É preciso saber unir as pessoas e criar um bom ambiente. O vizinho deve ser um dos nossos maiores amigos e devia ser obrigatório toda a gente conhecer os vizinhos e ser sócio dos bombeiros. Quando estamos aflitos é a eles que recorremos.


O confinamento foi o pior que tive de fazer. Adoro o Verão para poder andar na rua e respirar. Gosto de sair de casa. De Inverno, quando tenho de ficar em casa enrolada na manta, fico deprimida. Foram terríveis os tempos que tive de passar em casa. Sempre gostei da área social e apoiar quem mais precisa. Cheguei ao concelho dando programas de alfabetização. A ideia era retirar miúdos de bairros problemáticos e dar-lhes ferramentas para encontrarem um emprego e construírem vida própria. Felizmente alguns conseguiram e quando me encontram contam-me as novidades das suas vidas. É uma alegria imensa e gratificante, ver que deixámos marcas em todas essas pessoas e as ajudámos a serem cidadãos com valores.


Acredito nas novas gerações e sou uma eterna optimista. Acredito que os melhores podem ser capazes de influenciar outros a serem melhores também. Infelizmente as redes sociais vieram trazer algumas alterações grandes e têm-se perdido alguns valores. De certa forma as redes vieram estupidificar-nos.


Chegaram a convidar-me para ministra da Cultura em Timor Leste. Fui das primeiras pessoas a dar aulas de português a timorenses refugiados que estavam a viver no Forte da Casa, no final dos anos 90. Era uma comunidade fabulosa, humilde e muito bons em matemática. Tiraram excelentes notas. Xanana Gusmão chegou a ligar-nos nessa altura. Quando finalmente voltaram a Timor alguns passaram a ser quadros governamentais. Desafiaram-me para ir, mas tinha a minha vida aqui no Forte e não quis abdicar dela. Ensiná-los foi uma experiência que me enriqueceu e marcou pela diferença.


A acção social é o que faz mudar as sociedades no trabalho autárquico. Pela vontade, mentalidade e mudança consegue-se fazer o melhor para a maioria. Envolvi-me cedo no movimento associativo e actualmente sou presidente do conselho fiscal do Clube Recreativo e Cultural do Forte da Casa. Fui membro fundador do Gruta Forte e estive também 17 anos na comissão de festas. Temos de gostar de dar um pouco de nós a quem nos rodeia. A aproximação à população deve ser a génese da política local e saber ouvir as pessoas. O executivo actual da junta não tem brio e acredito que é possível fazer mais e melhor pelas duas localidades. Tínhamos potencialidade para ser a maior união de freguesias do concelho. Mas não há visão de futuro, querer mudar, fazer melhor, é gerir o que já existe.


Estar na oposição é o maior desafio que já tive politicamente. A palavra deve ser honrada e devemos, quando nos comprometemos com ela, cumpri-la. E também temos de ter a humildade de saber pedir desculpa quando algo está além do nosso alcance. Quando vejo pessoas eleitas porque estão à procura de algum protagonismo isso incomoda-me, porque não é o meu caso. A Póvoa e o Forte estão esquecidos. A junta de freguesia deve ser aberta à população. Não faz sentido o presidente não atender pessoas em dificuldades com a justificação que não o faz por causa da pandemia. Agora é que temos de atender, apoiar e conhecer mais e melhor os reais problemas das pessoas.

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