Entrevista | 23-09-2020 15:00

“Foi bom trabalhar no campo para perceber que não era o que queria para mim”

“Foi bom trabalhar no campo para perceber que não era o que queria para mim”
IDENTIDADE PROFISSIONAL

Sara Segurado nunca sonhou ir para a universidade. Desde cedo aproveitou as férias escolares de Verão para ganhar uns trocos. Começou a trabalhar depois de concluir o curso tecnológico de administração.

Sara Segurado, 40 anos, sempre gostou de trabalhar. Aos 11 aproveitava as férias de Verão para participar nas campanhas de apanha de tomate e vindima para ganhar dinheiro para as suas coisas. Em vez de ir para a praia, como as suas amigas, preferia trabalhar. Recorda-se das amigas irem passar o dia à piscina enquanto ela ia trabalhar. “Foi bom trabalhar no campo para perceber que não era aquilo que queria para mim. É um trabalho que valorizo muito, porque é muito duro”, afirma. Já incutiu o espírito de trabalho nos filhos, de 16 e 10 anos, que também aproveitam as férias escolares para ganharem uns trocos.

Natural de Marinhais, concelho de Salvaterra de Magos, sempre teve noção que não queria ir para a universidade. A sua meta era entrar no mercado de trabalho o mais cedo possível. Tirou o curso tecnológico de Administração na Escola Secundária de Benavente e fez o estágio num escritório, porque era o que gostava na altura. No entanto, estar fechada num gabinete e não conviver com pessoas fê-la perceber que não era aquele caminho que pretendia seguir.

Foi à procura de outra oportunidade que encontrou numa clínica em Salvaterra de Magos, onde foi assistente de medicina dentária durante oito anos. Não sabia como se faziam as coisas, mas aprendeu rapidamente. “Temos que aproveitar as oportunidades. Tinha um mês para aprender e foi o que aconteceu. Correu bem e fiquei lá oito anos”, recorda a O MIRANTE.

Saiu porque teve o primeiro filho, actualmente com 16 anos, e decidiu ficar em casa durante o primeiro ano de vida do menino. Fez o mesmo com o segundo filho, que tem agora dez anos. Foram os únicos períodos em que não trabalhou.

Ainda esteve quatro anos como recepcionista numa empresa em Muge até que ficou desempregada. Sem feitio para estar parada, perguntou à sua sogra se não a queria a trabalhar com ela no seu negócio, as Frutas Pimentel, a tempo inteiro. Sara e o marido, Nuno, já ajudavam na loja de venda de frutas e legumes nos tempos livres, que existiu durante cerca de quatro décadas. Sara trabalhou dez anos ao lado da sogra com quem aprendeu tudo desde o atendimento ao público até a arranjar encomendas. Quando a senhora decidiu retirar-se Sara assumiu os comandos do negócio, há cerca de dois anos.

A loja, renovada e modernizada, agora chama-se Mercadito da Sara e vende todo o tipo de frutas, legumes, hortaliças e pão. A empresária trata todos os clientes pelo nome e por norma sabe o que cada um vai comprar. “É a vantagem de viver num meio pequeno, aproxima as pessoas”, afirma. O que mais vende é fruta da época. Nesta altura, o melão, melancia, pêssego e uvas são as frutas com mais procura. Além do atendimento na loja, o marido de Sara faz a distribuição dos produtos em creches, lares e restaurantes onde são fornecedores.

Têm uma pequena horta com produtos biológicos. Alguns dos produtos que vende são caseiros mas a maioria vem do mercado da Castanheira do Ribatejo, onde existem mais produtos nacionais.

Tem clientes que todos os dias vão à sua loja fazer compras, sobretudo pão. A empresária não se queixa do negócio e confessa que nunca trabalhou tanto como durante os meses de confinamento. “Fechei apenas durante duas semanas para acompanhar o meu filho mais novo na escola em casa. Quando percebi que ele estava autónomo regressei ao trabalho”, conta. “As pessoas tiveram receio dos hipermercados e optaram por lojas mais pequenas. Confiam mais nos produtos dos mercados mais pequenos”, realça.

Dedicação, persistência e amor são, para Sara Segurado, a receita do segredo do sucesso do Mercadito da Sara. Com três funcionários, a empresária considera que o negócio está a correr bem e espera que assim se mantenha. “É preciso ter amor ao que se faz e eu gosto muito do que faço. Isso faz com que tudo o resto resulte e sejamos felizes”, conclui.

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