Entrevista | 16-11-2020 12:30

“Os confinamentos não erradicam o vírus mas adiam os problemas”

“Os confinamentos não erradicam o vírus mas adiam os problemas”
TRÊS DIMENSÕES

Vítor Esteves tem 62 anos e nasceu em Isna, uma aldeia do concelho de Oleiros, distrito de Castelo Branco. Aos sete anos foi viver para Abrantes com a família, mas nunca esqueceu as raízes e volta com frequência à aldeia natal.

No dia da entrevista com O MIRANTE pediu a uma das funcionárias para separar algumas caixas de máscaras descartáveis que produz na sua empresa, Medisigma, para dar a algumas pessoas mais necessitadas e instituições locais. Especializado nas áreas nuclear, biológica e química, dedica o seu tempo livre à neta Carminho, a produzir vinho biológico e à prática da vela.

Tenho as melhores memórias de infância da minha terra natal e da minha avó materna. Nasci em Isna e vivi lá até aos sete anos. Os meus pais tinham uma mercearia e taberna e decidiram vender tudo e mudar-se para Abrantes, onde os meus dois irmãos mais velhos estavam a estudar. Nesse processo de mudança a minha avó materna veio connosco e eu, como era o mais novo, passava muito tempo com ela, de quem tenho as memórias mais doces.

Fiz o meu percurso militar no corpo de tropas pára-quedistas em Tancos. Tirei o curso geral de milicianos e quando surgiu um concurso para tirar formação militar nos Estados Unidos da América concorri e fui admitido. Lá tirei especialização em engenharia e especialização nas áreas nuclear, biológica e química. Também estive em Grenoble (França) onde continuei a minha especialização nestas áreas.

Fui pioneiro na formação nuclear biológica e química nas Forças Armadas. A minha função era formar quadros no âmbito nuclear, biológico e químico. Já naquela altura, nos anos 80, falávamos nas potencialidades das armas nucleares, biológicas e químicas. São um grande perigo e implicam um forte controlo para não caírem em mãos erradas.

Em tempos de pandemia, em que não conhecemos bem o vírus, devemos comer carne bem passada. Se o novo coronavírus contamina os humanos também pode contaminar animais. Não sabemos. Ao optarmos pela carne mal passada nada nos diz que essa carne não possa estar contaminada. Não é científico mas pode acontecer. Todos os cuidados são poucos nesta altura.

Se fizéssemos um esforço colectivo e ficássemos todos 15 dias em casa seria mais fácil travar a pandemia. Os confinamentos não erradicam o vírus mas adiam os problemas. Abdicávamos das nossas férias pelo bem comum. Seria a melhor forma de travar o vírus mais rápida e eficazmente.

Sempre vendemos máscaras descartáveis mas de forma residual. Com o início da pandemia iniciámos a produção industrial de máscaras certificadas para ambiente Covid-19. Neste momento já podemos fornecer máscaras para hospitais. Todas as caixas de máscaras descartáveis que produzimos durante a pandemia têm o nome da minha neta Carminho, que vai fazer três anos. O tempo livre que tenho dedico-o a ela.

Produzo vinho biológico para consumo familiar e dou aos amigos e conhecidos. Tenho uma pequena quinta e investiguei sobre castas. Comecei a fazer vinho biológico. Quando terminei o meu curso construí um abrigo nuclear - o chamado bunker - debaixo da terra, que agora serve de adega. É um local fresco e tem as condições adequadas para o vinho maturar. Não o vendo, prefiro dar. Sou mais apreciador de vinho tinto.

Tenho uma enorme paixão pelo mar. Essa paixão levou-me a praticar vela, um desporto que implica muita técnica e é mais trabalhoso, mas também mais recompensador uma vez que aproveita um recurso natural (o vento) para navegar. Gosto de navegar desde a praia da Nazaré até Vila Real de Santo António, no Algarve. É um prazer que me faz esquecer os problemas do dia-a-dia. A minha viagem de sonho foi a Jerusalém. Fi-la por motivos religiosos, mas também pela sua riqueza cultural.

Gosto de cozinhar comidas complicadas, tudo o que vá para além do bife com batatas fritas. Sou adepto das comidas tradicionais da minha terra. Faço um cabrito estonado muito bom, que é o ex-libris de Oleiros. É melhor que leitão. Mas, na verdade, o meu prato preferido são batatas fritas e ovo estrelado. Mas as batatas têm que ser às rodelas, fritas em azeite e não ficarem muito torradas.

Votar nas eleições depende da consciência moral de cada um. Quem não vota também está a ser responsável pelo caminho que o país vai trilhar nos anos seguintes. É fundamental sensibilizar as pessoas para a importância de votar e de como isso vai implicar no futuro colectivo da nossa sociedade. Quem não vota não pode depois criticar quem está no poder.

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