Entrevista | 17-02-2021 10:00

“Tenho dificuldade em lidar com a falta de brio profissional”

“Tenho dificuldade em lidar com a falta de brio profissional”
TRÊS DIMENSÕES
Tiago Monteiro

Tiago Monteiro, 38 anos, presidente da Assembleia-Geral da Associação Popular de Apoio à Criança da Póvoa de Santa Iria.

Tiago Monteiro é da Póvoa de Santa Iria mas vive em Alverca. É jurista de profissão e tomou posse em Dezembro para um segundo mandato como presidente da Assembleia-Geral da Associação Popular de Apoio à Criança (APAC). Em pequeno foi utente da APAC e fez amizades que ficaram para a vida. Diz que é importante devolver à comunidade um pouco do que ela faz por nós.

Fui utente da APAC três meses depois de ter nascido e ainda tenho muitos amigos que fiz na instituição. Sou da Póvoa mas aos oito anos fui viver para Alverca quando os meus pais mudaram de casa. Vivo em Alverca ainda hoje mas estou próximo de toda a família. Gosto da cidade e de toda esta zona. É o meu espaço. Acredito que temos mais qualidade de vida aqui do que em Lisboa. Quando temos crianças é importante estar perto da família porque nos dão um suporte essencial. Tenho dois filhos, a Leonor e o Miguel.

Somos uma terra de gente hospitaleira que recebe bem quem a visita. Quando vejo o que foi feito na nossa frente ribeirinha sinto um grande orgulho. Faz todo o sentido que exista um passeio ribeirinho, até para que aos fins-de-semana possamos passear com os miúdos, estarmos em comunidade e apanharmos ar puro.

Temos sempre de pensar no que é melhor para os mais pequenos. Queremos as nossas crianças felizes. O nosso objectivo é servir a comunidade. Vejo futuro pela resposta social que damos porque a necessidade existe. A associação faz parte da história da Póvoa e do concelho. Quando me convidaram para integrar os órgãos sociais da APAC aceitei sem demora e já vou no segundo mandato. Tomei posse em Dezembro. Não tinha como recusar.

A fome está escondida mas existe. Com esta crise provocada pela pandemia há crianças que a única refeição quente que têm é a que a escola dá. E a APAC está envolvida desde o ano passado a fornecer as refeições a várias escolas.

Ser altruísta é uma forma de egoísmo. Porque é ver o sorriso dos outros que nos acrescenta e complementa. Sinto-me muito mais realizado desde que me envolvi no associativismo. É uma forma de darmos à comunidade uma parte do que ela já nos deu e ao mesmo tempo um meio de podermos crescer como pessoas. Quero passar isso aos meus filhos porque o futuro passa por eles. Dar-lhes a melhor educação possível e transmitir um espírito solidário e positivo. O meu sonho é vê-los alcançar os seus sonhos.

Tenho pena de ver as pessoas pouco envolvidas na vida associativa. Gostava que os sócios aparecessem mais nas assembleias-gerais porque 95 por cento das pessoas que aparecem são funcionários, que são parte interessada. Gostava de ver os pais mais envolvidos.

Adoro o que faço. A minha paixão pelo Direito começou ainda novo a ver filmes e séries na televisão sobre advogados e a dinâmica dos tribunais. Houve um filme que me marcou muito, “Filadélfia”, pelos actores e pela defesa das causas que apresentou. Foi uma lição de vida para o advogado. Ele próprio aprendeu e ficou melhor pessoa depois de toda a situação. Venceu o preconceito.

O livro que tenho à cabeceira é “Como fazer amigos e influenciar pessoas”, de Dale Carnegie, de 1937. É um livro que nos dá muita perspectiva sobre como lidar com pessoas e dá-nos inteligência emocional. Há muito pouca coisa que me tira do sério mas confesso ter dificuldade em lidar com a falta de brio das pessoas no que fazem. Sejam carpinteiros, professores ou médicos. Que façam bem, com dedicação e com amor à profissão que escolheram.

Quando o confinamento acabar a primeira coisa que farei é passar tempo de qualidade com a família. Não acredito que vá logo para o estrangeiro. Vamos aproveitar para estarmos juntos e sem máscaras, se possível. E ir à praia. Poder abraçar as pessoas de família e estar verdadeiramente com elas. Tenho saudades de ir ao cinema e de apanhar ar puro. Saudades de sair de casa apesar de querer acreditar que o teletrabalho veio para ficar.

Associações como a APAC não estão em declínio, pelo contrário, são cada vez mais necessárias sobretudo depois da pandemia. É verdade que as instituições de solidariedade social estão a passar por dificuldades e isso não se resolve apenas com linhas de crédito às empresas e moratórias. É preciso aumentar a capacidade de resposta destas associações. Temos dado uma resposta a médio e longo prazo e é dessa forma que temos de encarar o futuro.

Por mais bem geridas que as associações sejam há limites para tudo e o dinheiro esgota-se. Não se pode pedir mais aos pais porque há pessoas a passar grandes dificuldades. Temos de apelar a um esforço solidário dos pais mas também do Estado que deve aumentar as comparticipações dadas às IPSS.

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