Especiais | 16-11-2023 12:00

Quando fecha um órgão de comunicação social regional perdemos um pouco da nossa liberdade

Quando fecha um órgão de comunicação social regional perdemos um pouco da nossa liberdade
36 ANOS DE O MIRANTE
Sónia Sanfona, 51anos, Presidente da Câmara Municipal de Alpiarça

Não obstante haver quem fale já na capacidade de os computadores desenvolverem inteligência emocional, é preciso garantir que não abdicamos da nossa humanidade. Temo que nesta voracidade científica se perca o foco na defesa da nossa espécie.

Compreendo que, por comodismo, haja pessoas que optem por receber toda a informação através das redes sociais, mas não é o meu caso. Opto claramente por procurar outras fontes de informação, nomeadamente os órgãos de comunicação social que estão registados e identificados. No entanto opto pelos sites dos mesmos, nomeadamente os de acesso livre, pela actualidade que a informação tem.

As exigências feitas a nível da comunicação social, nomeadamente de registo, identificação dos responsáveis e cumprimento da lei fazem sentido. Não podemos abdicar do rigor e da responsabilidade que deve estar subjacente a um exercício fundamental em democracia que é o da liberdade de imprensa. E esse cumprimento ajuda a credibilizar a informação.

Um povo é tanto mais livre quanto mais informado estiver. A informação e o conhecimento são condições do exercício livre da cidadania e facilitadoras da tomada de decisão, em todas as dimensões da nossa vida. Os órgãos de comunicação social públicos devem ser os principais vectores da transmissão universal da informação, de forma livre e gratuita, mas com a tecnologia que hoje conhecemos, tendencialmente, os outros órgãos de comunicação social já disponibilizam muita informação de forma livremente acessível e sem custos.

De cada vez que fecha um órgão de comunicação social regional perdemos um pouco da nossa liberdade. No exercício da democracia é determinante a existência do contraditório e a diversidade de pontos de vista. É a discussão salutar das diferentes opiniões que, permitindo-nos afirmar a nossa autenticidade, também nos permite encontrar as bases para soluções criativas e desenvolvermos projectos de consenso. Preocupa-me que existam cada vez menos jornais, até porque outras plataformas bem menos fiáveis e que servem de veículos a outros interesses estão agora a ocupar o seu lugar.

Numa ditadura eu não desempenharia as funções que hoje desempenho, já que fui eleita numa eleição livre e democrática. Viveria com certeza aprisionada dentro de uma sociedade patriarcal, sem direitos cívicos e políticos, refém de uma ordem imposta, alienada do mundo, controlada e sem liberdade. Dada a natureza inconformada que sempre tive e a liberdade com que sempre vivi, desde miúda, devia estar presa ou desterrada num sítio qualquer.

A Inteligência Artificial é algo que teremos de controlar com inteligência natural. A evolução vai no sentido de capacitarmos cada vez mais as máquinas para nos substituírem, sobretudo nas tarefas mais penosas, mas a verdade é que neste processo desumanizamos o nosso quotidiano e arriscamos perder o controlo da nossa vida. Não obstante haver hoje quem fale já na capacidade de os computadores desenvolverem inteligência emocional, é preciso garantir que não abdicamos da nossa humanidade. Temo que nesta voracidade científica se perca o foco na defesa da nossa espécie.

As alterações climáticas são uma realidade e uma evidência com que somos confrontados diariamente. Claro que vale a pena alterar comportamentos, mas isso só se consegue com um primeiro passo que é a consciencialização desta realidade. Procuro adequar o meu comportamento a esta necessidade premente, diminuindo a minha pegada ambiental, utilizando com maior frequência os transportes públicos, produzindo menos resíduos e fazendo a sua divisão, reaproveitando materiais, reciclando, etc...

A última reportagem que gostei de ler em O MIRANTE foi a da horta cultivada por reclusos do Estabelecimento Prisional de Torres Novas. É um projecto muitíssimo interessante e que serve de exemplo para o modo como a reclusão deve ser pensada sobretudo na sua dimensão ressocializadora. E ajuda a alimentar 150 famílias.

Sobre o pedido que me fazem para classificar a classe política de 1 a 10 respondo em duas vertentes. Se considerar o esforço que fazem por dar o seu melhor contributo para a governação do país, para a produção de leis que sirvam o interesse do povo, para representarem com dignidade os seus eleitores, dou-lhes uma classificação de 9 (não dou 10 porque há excepções). Se considerar os resultados obtidos, pelos quais não são os únicos responsáveis, na qualidade da nossa democracia; no ajustamento e adequação das leis produzidas e no desenvolvimento cívico e político alcançado atribuo-lhes uma classificação de 6. É muito fácil fazer juízos mas eu, que já estive no mesmo lugar, sei que muitos deles não são justos.

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