Entrevista | 14-06-2022 10:00

“Alverca precisa do orçamento redobrado para dar resposta às necessidades”

Cláudio Lotra recuperou gestão da Junta de Alverca e Sobralinho para o PS

Na primeira candidatura a presidente Cláudio Lotra bateu a CDU e reconquistou a União de Freguesias de Alverca e Sobralinho para o PS. Entre casa e o gabinete atende três a quatro fregueses por dia que encontra no caminho. Na sua primeira entrevista a O MIRANTE fala das dificuldades em recrutar trabalhadores, do que é urgente fazer na cidade e defende que o Estado conceda mais apoios à comunicação social regional. Homem de agenda em papel, não hesita em dizer que as freguesias do sul do concelho precisam de ser discriminadas positivamente na hora de receber verbas do orçamento municipal.

Foi o candidato improvável e ganhou. Já arrumou o gabinete?

Não encontrámos dívidas, o que é positivo. Estava tudo organizado. [O Afonso Costa] ter perdido a junta foi traumático para o PS. Tivemos de perceber onde errámos e melhorar. Não fomos a candidatura de um homem mas sim de uma equipa e andámos no terreno a ouvir as queixas.

A quem se deveu a sua escolha?

Sou autarca há 13 anos, oito na Assembleia de Freguesia do Sobralinho, quatro no executivo do José Manuel Peixeiro e um ano no de Afonso Costa. Fui indicado pela secção do PS de Alverca. Não aceitei logo porque implicou uma mudança grande na minha vida. A opinião da minha mulher foi muito importante. É a família que sofre. Ao contrário do que se pensa, um presidente não tem um horário das 9 às 5 nem fins-de-semana. Vivemos para o cargo.

Como quer mudar uma cidade dormitório?

A pandemia mudou-nos. As pessoas passaram a viver os seus bairros e estão mais exigentes. A limpeza, higiene pública e manutenção dos espaços verdes são a prioridade. Não aspiro fazer obras faraónicas.

Há muitas ruas com limpeza aquém do necessário…

Há situações que não conseguimos resolver. Os nossos trabalhadores têm uma média de idade superior a 60 anos. Estamos a contratar nove pessoas e já fomos buscar empresas para fazer o nosso trabalho no Sobralinho, Arcena e Bom Sucesso, mas o centro de Alverca é gigante e não estamos a conseguir chegar a todo o lado. Também já pedimos 12 pessoas ao Instituto de Emprego mas só nos enviaram quatro. Não há gente para trabalhar. Esperamos no final do Verão ter a situação controlada.

O orçamento de 2 milhões e 300 mil euros não chega?

Precisávamos do dobro. A solidariedade entre freguesias tem de existir mas divisões salomónicas de verbas é outra coisa. Temos de ser realistas: merecemos ganhar mais. Somos a maior área geográfica, temos as maiores empresas do concelho e precisamos de dar resposta. Não posso ficar contente quando vejo seis freguesias serem tratadas da mesma forma porque não se pode tratar por igual o que é diferente. Alverca, Póvoa de Santa Iria e Vialonga representam 80% da população. É óbvio que queremos uma discriminação positiva e vamos pedi-la ao presidente da câmara na discussão do próximo orçamento.

Lê o que dizem sobre si nas redes sociais?

Estou atento mas não respondo. As redes são um veículo que, na maioria das vezes, só servem para transmitir ódios que não facilitam o esclarecimento das pessoas e servem apenas para inquinar os processos.

Já se pode admitir que o cluster aeronáutico foi um fiasco?

O cluster ficou aquém do que era esperado na atracção de novas empresas. Temos de manter a ligação de Alverca à aeronáutica mas não podemos ser apenas isso. Precisamos ser mais ambiciosos. Temos recursos naturais fantásticos, trilhos de natureza e, em breve, o passeio ribeirinho. A CDU lançou as bases de um roteiro da aeronáutica, foi uma excelente ideia mas mal executada. Estamos a criar um novo roteiro turístico-gastronómico que vai abarcar todo o património.

Sente-se traído por Maria da Luz Rosinha ter votado contra no Parlamento a isenção de portagens na A1 entre Alverca e VFX?

Não. Os deputados têm as suas responsabilidades e têm de as assumir. Mas o trânsito na EN10 continua a ser um problema. A sua transformação em breve em avenida urbana vai ajudar a resolver muitos problemas. A ideia é depois desclassificar a EN10 e passá-la para a esfera local. É uma obra que vai causar graves constrangimentos quando for executada e temos de nos ir preparando. A Infraestruturas de Portugal está a introduzir alterações no projecto que a câmara já tinha feito para depois se lançar a empreitada. A variante continua a ser necessária mas não é de fácil concretização.

Quando resolvem o problema da legalização do Teatro Ildefonso Valério?

O Cegada faz milagres naquele espaço. Aquilo tem de se resolver e queremos ser parte da solução. Se tivermos de prescindir da propriedade para que a câmara possa fazer a intervenção necessária assim faremos. O que é importante é resolver a situação para a cidade ter um espaço cultural de qualidade.

Incapaz de lidar com a injustiça a falta de carácter

Cláudio Lotra tem 43 anos, é do Sobralinho e vive em Alverca há duas décadas. Casado, pai de dois rapazes de 9 e 14 anos, é licenciado em comunicação empresarial e começou a sua vida profissional a trabalhar na empresa de alumínios dos pais. Esteve envolvido em vários projectos de voluntariado e em 2001 foi convidado por Maria da Luz Rosinha para integrar o gabinete de apoio à presidência. Mais tarde transitou para o gabinete de comunicação da câmara onde ainda presta funções. É um dos moradores de Alverca que em breve vai ficar sem médico de família.
É viciado em café, nunca fumou e o nascimento dos filhos foram os momentos mais felizes da sua vida. Tira-o do sério a injustiça e a falta de carácter. Faz vida regular na cidade e no comércio local. Deixou de ter tempo para ir ao supermercado e prefere Netflix à televisão nacional. Quando não tem pressa gosta de atravessar a cidade de carro para perceber as dificuldades dos vizinhos. Não tem tempo para ler e acumula os livros para ler nas férias de Verão. O filme da sua vida é “Os condenados de Shawshank”, realizado por Frank Darabont.

Estado deve apoiar a comunicação social regional

Formado em comunicação, Cláudio Lotra esteve profissionalmente ligado ao gabinete de comunicação e imagem da Câmara de Vila Franca de Xira. Confessa-se um apaixonado pelo mundo dos media embora não se veja no papel de jornalista. Diz que a sua cidade sem a existência de O MIRANTE seria mais pobre e defende que está na hora do Estado começar a criar linhas de apoio para a imprensa regional.
“Os media regionais são extremamente importantes. Se estiverem dependentes dos apoios das autarquias locais, a sua independência pode estar em causa e isso só se evita se houver apoios do Estado aos jornais regionais. É muito bonito ver o Presidente da República dar os parabéns quando um jornal faz anos mas isso depois não se traduz em apoios efectivos que são os mais necessários”, critica.
Cláudio Lotra defende a criação de um canal de apoios aos media regionais que fosse “de aplicação rigorosa, com critérios claros, bem definidos e transparentes” que permitam acabar com a extinção de jornais que se tem visto nos últimos anos. “Só quando eles desaparecem é que sentimos a falta”, lamenta o autarca, que é assinante digital de O MIRANTE mas prefere ler a edição em papel. “Gosto do cheiro e do toque do papel”, confessa.

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