Entrevista | 22-09-2022 12:00

Autarcas têm falta de mundo e chegam a recusar investimentos para não perderem poder

Autarcas têm falta de mundo e chegam a recusar investimentos para não perderem poder

Entrevista ao fundador da Nersant e antigo governador civil de Santarém, José Eduardo Marçal

José Eduardo Marçal teve uma passagem efémera pela política em cargos públicos. O fundador e primeiro presidente da Associação Empresarial da Região de Santarém – Nersant, entre 1989-1993, foi governador civil em 1994 e 1995 e marcou um estilo de actuação discreta a mover influências para conseguir melhores condições para o distrito. Era militante do PSD, mas desfiliou-se há quase cinco anos por estar farto de ver jogos de interesses e de as ideias brilhantes não valerem nada nos partidos. 

Natural de Abrantes, onde a sua família tinha uma empresa de construção que faliu devido às crises e à falta de pagamento das instituições públicas, vai à terra natal de 15 em 15 dias. Os seus filhos já não têm ligação à cidade, que, no entender do engenheiro civil, está cada vez pior.  Aqui fica um excerto da entrevista que pode ler na íntegra na edição semanal em papel desta quinta-feira, 22 de Setembro.

E como analisa aqueles projectos de Abrantes do cemitério à americana, do campo de basebol?

Isso já entramos no humor dos Monty Python. Normalmente ele anunciava um ano antes das eleições um mega-projecto. Quando uma terra está parada, quase morta, não é um anúncio desses que resolve. Há 20 anos teria sido inovador criar uma agência de desenvolvimento de empresas de média dimensão, que fossem complementares e que levasse à criação de uma grande empresa que as aglutinasse. Mas a sua sucessora foi nitidamente muito pior.  

Estamos perante um contrassenso quando ouvimos autarcas a dizerem que querem cativar mais população? 

Acredito que alguns autarcas dizem isso porque têm mesmo falta de mundo. Eles até acreditam no que dizem, mas o único modelo de desenvolvimento que conhecem é aquele que praticam. É fundamental que os autarcas vejam outras realidades. Se chegarmos a uma localidade do interior do país, 70 por cento depende, directa ou indirectamente, da câmara.  

Mas os autarcas devem ter consciência que a instalação de uma empresa no seu concelho é importante para todos. 

Quando fundei a Associação Empresarial da Região de Santarém – Nersant, alguns autarcas aceitavam bem a instalação de empresas nos seus concelhos e outros só criavam dificuldades. Chegaram a dizer-me que os empresários eram ricos e que com os ricos não queriam nada. E não eram do PCP, aliás as câmaras comunistas na altura eram as que aceitavam melhor as empresas.  

O que é que leva um autarca a recusar um investimento? 

Perda de poder. Se uma empresa cria, por exemplo, 200 postos de trabalho, leva engenheiros, gestores, pessoas que gostam de ler, pessoas com espírito crítico. O presidente da câmara pensa que dentro de algum tempo tem concorrentes. Isto não é racional, está-lhes no subconsciente. 

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