Entrevista | 15-02-2022 10:00

Novo vice da Câmara de Santarém quer deixar obra feita

João Leite assume vontade em ser candidato a presidente em 2025

João Teixeira Leite é o novo número dois da Câmara de Santarém e não esconde que gostava de chegar a presidente do município, embora diga que ainda é cedo para falar nisso. Aos 37 anos, tem nas mãos alguns dos pelouros mais relevantes, como o das obras municipais, e garante que neste mandato vão ser…

João Teixeira Leite é o novo número dois da Câmara de Santarém e não esconde que gostava de chegar a presidente do município, embora diga que ainda é cedo para falar nisso. Aos 37 anos, tem nas mãos alguns dos pelouros mais relevantes, como o das obras municipais, e garante que neste mandato vão ser finalmente materializados alguns projectos que se têm arrastado no calendário. Está satisfeito com a aliança com o PS e quanto aos processos de corrupção envolvendo o anterior presidente, Moita Flores, diz que a justiça deve fazer o seu trabalho e que ninguém está acima da lei.

Em 2013 deixou o executivo da Câmara de Santarém por não ser escolha do então presidente e recandidato Ricardo Gonçalves. Nas autárquicas de 2021 surge em número 2 na lista do PSD com o mesmo Ricardo Gonçalves como cabeça-de-lista. O que mudou nestes oito anos?

 Rectifico: eu na altura era presidente da JSD distrital e anunciei que queria fazer uma pausa na minha participação activa em lugares públicos. Tinha o mestrado para concluir, queria avançar para um doutoramento e avisei muito tempo antes que não queria continuar. Houve, talvez, e de forma pragmática, uma junção de vontades. Vi isso com muita naturalidade, até porque eu não tinha vontade de continuar e o presidente Ricardo Gonçalves queria renovar a equipa.

E em 2021 foi outra junção de vontades que levou ao seu regresso à Câmara de Santarém?

Houve uma conjugação de vontades quando há dois anos o presidente Ricardo Gonçalves me desafiou para regressar a Santarém. Demorei alguns meses a responder ao desafio de presidir ao conselho de administração da Viver Santarém. Depois de uma ponderação profunda, porque estava a administrar um hospital, em Leiria, decidi que devia voltar e dar o meu contributo porque o projecto também me mobilizava.

Com a saída de Inês Barroso para a Assembleia da República vai ser o número dois do executivo no último mandato de Ricardo Gonçalves. Fala-se que poderá ser o cabeça-de-lista do PSD à Câmara de Santarém em 2025. Está preparado para isso?

Julgo que não é o momento para essa discussão. Temos poucos meses de mandato, temos um presidente eleito, e muito bem eleito, temos muitos projectos para concretizar e no momento certo, quando essa discussão for colocada, lá para o final do mandato – e também acredito que será um processo natural e pacífico – eu direi presente a um desafio dessa natureza, pelo amor e paixão que sinto por Santarém.

Também se fala que o próximo candidato do PS já pertence ao executivo e que até partilha um pelouro consigo, o do PDM…

É uma possibilidade e digo-lhe que o trabalho que está a ser desenvolvido com os vereadores do PS está a ser uma agradável experiência. A equipa está a trabalhar de forma muito coerente e muito transparente. Também é importante dar nota que isso tem um responsável, que se chama Ricardo Gonçalves. Está a liderar o processo de uma forma que nos está a motivar a todos delegando competências mas com diálogo constante.

Não têm havido atritos e choques entre autarcas do PSD e do PS?

Nenhuns. Um bom exemplo disso foi a construção do orçamento municipal para 2022. O trabalho foi profícuo porque houve essa transparência e diálogo constantes.

Acredita que este acordo de governação entre PSD e PS na Câmara de Santarém vai durar os quatro anos do mandato?

Espero que sim. Se as coisas correrem como nestes meses tem todas as condições para durar quatro anos.

Porquê esta opção, tendo em conta que, em 2013, o PSD também não teve maioria absoluta e governou sozinho a autarquia?

O presidente Ricardo Gonçalves desafiou sempre, com maioria absoluta ou sem maioria absoluta, o PS a aceitar pelouros. Foi uma escolha do PS, que então não aceitou.

Também houve contactos com o Chega. Não houve condições para acordo?

O que fizemos foi falar com todas as forças partidárias que tinham assento na câmara municipal. De forma muito pragmática digo que desde a primeira reunião percebemos que seria muito difícil estabelecer um acordo com o Chega porque há discursos nacionais e frases feitas que não se colam a realidades locais.

Ou seja, há linhas vermelhas que não se podem ultrapassar?

Claramente.

PSD e PS não vão ter dificuldade, nas próximas eleições autárquicas, em afirmar as suas diferenças perante o eleitorado, tendo em conta que o que de bom e mau for feito será associado aos dois partidos?

Julgo que não. Existem algumas diferenças claras entre PSD e PS que irão ser postas em cima da mesa quando for o momento, nas eleições autárquicas, e a população terá a capacidade de as avaliar.

“Ninguém está acima da lei”

Em 2013 era considerado um dos homens de confiança de Moita Flores, que deixara a autarquia no ano anterior em ruptura com alguns dos seus anteriores companheiros de equipa. Mantém a admiração que então confessava ter pelo ex-autarca?

O actual presidente e muitos militantes do PSD tivemos admiração pelo dr. Moita Flores. Não mantenho contactos com ele desde essa altura, portanto não posso admirar actualmente uma pessoa com a qual não mantenho contactos. O PSD não renega o passado, pelo contrário. Desde 2005, quando vencemos a primeira eleição, até hoje, fizemos obra material e imaterial da maior relevância para o concelho. Temos muito orgulho da obra que realizámos, todos sem excepção. Por exemplo, hoje Santarém celebra as Festas de São José como antes não celebrava. É uma obra imaterial de que nos orgulhamos, tal como o Reino de Natal ou a Passagem de Ano. Temos muita obra feita desde 2005 até 2022.

Como vê os litígios entre o anterior e o actual presidente da Câmara de Santarém que, inclusive, envolvem processos em tribunal?

O actual presidente da câmara fez aquilo que deve ser feito. Quando o município acha que algum processo pode ter irregularidades deve encaminhá-lo para as entidades competentes. E foi isso que o actual presidente da câmara fez. Esses processos estão a ser analisados pelas entidades competentes. É assim que deve ser feito, ninguém está acima da lei.

As notícias de possíveis actos de corrupção em processos como a construção do Jardim da Liberdade não mancham a imagem da autarquia?

Sei pela comunicação social do que está a decorrer e esses processos chocam qualquer munícipe, a serem verdade. Estão a ser tratados nos locais próprios e devemos esperar pela sua conclusão. É evidente que a actual câmara municipal e os técnicos sempre fizeram tudo de acordo com os termos legais e, aliás, não há nenhum processo contra o actual presidente nem contra a câmara.

Temos o Tejo aos nossos pés e é impensável não o aproveitar

Tem o pelouro das obras e projectos municipais, um dos mais delicados, até porque há várias empreitadas que não têm corrido bem. Foi uma batata quente que lhe foi parar às mãos?

Não. As pessoas por vezes não conseguem ter essa percepção, mas temos hoje 17 milhões de euros de investimento em obras municipais a decorrer. São mais de uma dezena de empreitadas em simultâneo, o que obriga a uma logística grande do ponto de vista financeiro e de recursos humanos.

Penso que as pessoas têm essa percepção, até porque há obras que se arrastam há anos…

Faço este enquadramento para dizer que com tantas obras em simultâneo, há umas que correm dentro da programação e outras nem por isso. Isso acontece em intervenções de maior complexidade como a do mercado municipal, neste caso devido a um problema estrutural detectado logo no início.

A empreitada do mercado parece seguir a um ritmo muito lento.

Mas não está! Nos últimos meses houve um reforço dos trabalhos e a nossa intenção é que a obra possa estar concluída em 2022. Vamos, ainda no primeiro trimestre, lançar o procedimento para termos um novo paradigma para a gestão do mercado. Vai ser similar ao que foi colocado à discussão no anterior mandato.

O PS já aceita a concessão da gestão do mercado a privados?

Já estamos a chegar a um entendimento relativamente a isso. Mudámos alguns aspectos, mas não vou entrar em pormenores até porque essa solução será levada a reunião de câmara em breve. É um procedimento para lançar já, de forma a acompanhar a recta final da obra. Essa, de facto, é uma obra que tem estado a correr menos bem.

Outra obra que se tem arrastado é a de consolidação da encosta de Santa Margarida, em parte devido ao litígio com o proprietário de uns terrenos nas traseiras do antigo Teatro Rosa Damasceno, onde as máquinas estão impedidas de entrar. Há solução à vista para esse imbróglio?

Estamos em conversações com o privado e acredito que essa situação possa ser resolvida em breve e que Santarém não saia prejudicada com isso existindo bom senso, que é aquilo que estamos a exigir à parte interessada.

A arqueologia é outro factor que pode levar à derrapagem dos prazos.

Qualquer intervenção na zona antiga da cidade exige, e bem, a questão da arqueologia, que pode levar a que a obra possa arrastar-se. A requalificação do Largo da Alcáçova e da Avenida 5 de Outubro, com a criação de um miradouro e esplanada, a requalificação da Avenida António dos Santos e do Largo Ramiro Nobre são empreitadas complexas mas que vão fazer com que o nosso centro histórico ganhe uma dimensão acrescida como espaço público moderno.

Há três locais emblemáticos da cidade que há muito aguardam intervenções de fundo: a frente ribeirinha, o Campo Emílio Infante da Câmara e a antiga Escola Prática de Cavalaria. O que pensa a Câmara de Santarém fazer para alterar este cenário de alguma inércia que se tem verificado nas últimas décadas?

Eu tirava daí a palavra inércia. Percebo a provocação mas, de facto, projectar todas estas intervenções de que falámos e as que estão em curso não pode ser feito em simultâneo. A requalificação da Ribeira de Santarém para este executivo, e para os anteriores, é prioritária não só para o espaço público e para a população, mas também para a cidade reforçar a afirmação como destino turístico de excelência. Temos o rio Tejo aos nossos pés e é impensável – e não me iria perdoar – se neste mandato não tivéssemos uma solução para aquela zona.

Não está a colocar a fasquia demasiado alta? É que já houve vários antecessores que fizeram promessas semelhantes…

Mas eu não fiz! Temos que olhar para a questão com pragmatismo e avançar com projectos que sejam realizáveis. Nada de projectos enormes, de muitos milhões, isso não é possível. Temos no orçamento para 2022 a verba para o projecto de execução. A ideia é, em 2022, darmos continuidade à ampliação da área desportiva na Ribeira de Santarém e, junto ao rio, vamos criar uma zona de lazer, um parque verde urbano, com passadiços que sejam realizáveis. O projecto de execução será feito em 2022.

Em relação ao Campo Emílio Infante da Câmara como está o processo?

Estamos a finalizar com a Faculdade de Arquitectura de Lisboa uma solução que esperamos ter consolidada nos próximos dois meses. Apresentaram-nos quatro cenários para a requalificação daquela área urbana, que é muito grande. A intervenção terá que ser feita de forma faseada. Queremos que seja um espaço para usufruto da população, com infra-estruturas para prática desportiva informal, zonas de lazer e espaços verdes e um espaço multiusos para eventos. Tenho esperança que neste mandato possam ser elaborados todos os projectos de execução e que estejamos em condições de poder, através do próximo quadro comunitário ou do PRR, encontrar financiamento para darmos início à requalificação.

E quanto à antiga EPC?

Estamos a lançar o procedimento para criar o masterplan e termos uma visão global do espaço sendo que já temos hoje vários espaços destinados. Vamos ter a ampliação da cidade judiciária com a criação do Palácio de Justiça 3.

A antiga EPC tem um projecto-âncora que é o Museu de Abril e dos Valores Universais – MAVU, também falado há muito tempo.

Lançámos um concurso para termos uma visão e um projecto para o MAVU, que vai ser tornado público em breve. Será para desenvolver numa das paradas do antigo quartel e julgo que a população irá gostar daquilo que vamos mostrar.

O MAVU estará pronto a tempo do cinquentenário do 25 de Abril como inicialmente se pretendia?

Não tenho condições para me comprometer com essa data, mas é uma possibilidade se houver enquadramento com fundos comunitários. A concretização do MAVU é um esforço muito grande do ponto de vista financeiro. Para além desses projectos-âncora temos outras obras a que queremos dar início em 2022, como complemento à requalificação do centro histórico em curso, como as intervenções nos pisos das ruas Capelo e Ivens e Serpa Pinto no âmbito da mobilidade acessível para todos.

A revitalização do centro histórico é outra questão falada há muitos anos. Todas estas obras, só por si, são o suficiente para atrair pessoas e investimento?

O conjunto das intervenções em curso e as que estão planeadas para breve; o projecto dos bairros digitais, que vai trazer tecnologia e modernidade ao centro histórico; o plano local de habitação com 20 milhões de euros para requalificar o parque habitacional; todas estas intervenções de investimento público vão criar uma dinâmica inevitável. E estou convencido que essa dinâmica, agregada à parte do turismo e grandes eventos, dá todas as condições para Santarém se afirmar no contexto nacional. Queremos vender o produto Santarém como destino turístico de qualidade, na vertente da valorização do património cultural e natural, da gastronomia e das nossas tradições, onde o cavalo e toda a temática taurina são uma marca presente.

Para quando também a requalificação da entrada norte da cidade?

A nossa intenção é criar condições de mobilidade e dignidade naquela que é uma das principais entradas da cidade. Em 2022 vamos fazer o projecto de execução para termos capacidade de agarrar fundos comunitários e executar a obra. Esta é outra obra que também digo claramente que estará pronta até final deste mandato.

Um autarca ainda jovem mas já com muita experiência

João Leite nasceu em Santarém em 16 de Outubro de 1984. É casado e pai de um casal. Licenciado em Economia, com mestrado em Gestão e um executive master de Administração de Serviços de Saúde, é doutorando em Políticas Públicas. Foi durante quatro anos administrador do hospital da Misericórdia de Leiria e nos últimos dois anos presidiu à empresa municipal Viver Santarém. Já tinha sido vereador em Santarém no mandato 2009-2013, foi eleito da assembleia municipal no anterior mandato e, em termos partidários, foi líder distrital e concelhio da JSD sendo actualmente vice-presidente da concelhia do PSD de Santarém.

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