Entrevista | 11-02-2022 15:00

O actor da Póvoa de Santa Iria que conquistou o Politeama

Paulo Miguel Ferreira é actor, encenador e está a espreitar uma participação televisiva no futuro

Paulo Miguel Ferreira tem 29 anos, é da Póvoa de Santa Iria e tem paixão pelo teatro desde os tempos de escola.

Há dez anos que Paulo Miguel Ferreira está no Teatro Politeama em Lisboa a dar corpo, alma e voz a peças de Filipe La Féria. Em entrevista a O MIRANTE fala do apoio miserável que recebeu da Segurança Social durante os confinamentos da pandemia, em que teve de trabalhar num call-center para viver. Fala do mundo do teatro, do sonho de encenar e de como a Póvoa devia apostar mais no seu legado e no Grémio Dramático Povoense.

Como é trabalhar com Filipe La Féria?

Tem sido uma grande experiência e um enorme crescimento. Dá trabalho a mais de cem pessoas só no Politeama, do actor ao porteiro. É uma escola de rigor, exigência, qualidade e foco. É preciso amar muito o que fazemos porque ele é muito perfeccionista. Não podemos falhar com o público e por isso temos de dar o máximo de trabalho. Estou agora na revista “Espero por ti no Politeama” e está a ser dos espectáculos que mais gostei de fazer.

Fazer uma revista deve ser desafiante pelas múltiplas variedades que encerra?

Sem dúvida. O teatro musical é das áreas mais completas de todas, temos de fazer de tudo. O canto é uma coisa em que estava mais à vontade e foi acontecendo durante a minha vida. A dança foi sendo trabalhada no palco.

Ainda há quem olhe para a revista como o parente pobre do teatro…

Ainda há preconceito para com a revista porque diz o que as pessoas não querem ouvir. Ela tem o dom de falar a verdade a rir e isso tem muito a ver com as nossas raízes populares. É importante continuar a fazer-se revista como se fazem dramas, farsas e musicais. É preciso um bocadinho de tudo. Não se pode impor a ditadura do gosto. O teatro é uma ementa, apresentamos um conjunto de propostas e o público escolhe, se quer rir, chorar ou ver uma revista à portuguesa. E muita sorte vamos tendo em conseguir ter neste país tantos pratos na mesa. A cultura está numa situação muito complicada e só a resiliência de todos nos tem permitido resistir.

Como sobreviveu aos confinamentos?

Tive um pequeno apoio da Segurança Social que era irrisório, nem dava para pagar a renda, foi um apoio miserável que não deu para sobreviver. Gastei todas as poupanças que tinha e tive a sorte de ter os meus pais, que me ajudaram. Pelo meio consegui realizar um espectáculo com sucesso durante a pandemia, o “Alice o outro lado da história”, um espectáculo imersivo que esteve na fábrica de Cabo Ruivo. 

Pensou desistir da profissão?

Sim. Fez-me ver que não podemos ter apenas um caminho profissional. Ainda trabalhei num call-center durante a pandemia porque precisava de ganhar dinheiro. Mas estava bastante infeliz, foi terrível. Ouvia todos os nomes do outro lado do telefone e dava a cara por uma empresa que defendia coisas nas quais não acredito. Sou uma pessoa de verdade e tinha de defender algo em que não acreditava para ganhar meia dúzia de tostões por mês. Tenho colegas que se despediram da cultura e foram para outras profissões. Arregaçaram as mangas e foram para supermercados e estafetas de entrega rápida. Foi muito mau e ainda continua a ser.

*Leia a entrevista completa na edição semanal em papel desta quinta-feira

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