Entrevista | 12-08-2022 10:00

O pior que um menino pode ver é os pais levantarem a voz para um professor

Maria João Amante, professora e dirigente associativa, foi distinguida com o galardão de mérito da União de Freguesias de Alverca do Ribatejo e Sobralinho pelo seu percurso profissional e cívico

Pela sala de aulas de Maria João Amante passaram centenas de crianças dos concelhos de Alenquer e Vila Franca de Xira. A professora, que nunca bateu num aluno, sentou-se com o O MIRANTE num dos jardins da terra onde vive, o Sobralinho, para falar do ensino, do papel dos professores e da sua crescente perda de autoridade.

Os professores do primeiro ciclo são os mais importantes no futuro escolar dos alunos? 

A primária é a porta de entrada na sociabilização. Os professores da primária são fundamentais para que a criança venha a ser um bom aluno. Se tivermos uma atitude proactiva conseguimos fazer a diferença, mesmo que a turma seja difícil. Um mau professor primário desgraça um grupo de alunos. Felizmente há sempre jovens resilientes que dão a volta por cima.  

Reguadas na escola, sim ou não? 

Levei algumas e lembro-me de quando estava na escola pensar que quando fosse professora não iria bater nos alunos. E assim fiz. Nunca bati num aluno. Quando tinha vontade de fazer alguma coisa mais agressiva saía da sala e eles percebiam que tinham errado. Tive algumas turmas com meninos difíceis, mas temos de tentar ter uma dose grande de carinho, compreendê-los, falar com eles e não os expor perante a turma.  

Os professores hoje sofrem de uma grande falta de respeito por parte dos pais… 

Passámos de um extremo ao outro. A primeira coisa que os pais perguntam ao filho é o que o professor lhe fez e não o que ele fez para o merecer. Foi uma mudança drástica. As pessoas abraçaram a liberdade como um sentimento de poderem fazer e dizer tudo o que lhes apetecer. O professor tem de saber andar de braço dado com os pais e eles têm de aprender que estamos com os miúdos cinco horas por dia e precisamos do apoio deles. Só pedimos que não falem mal do professor à frente do filho, senão perdemos autoridade na sala e eles acabam por não saber onde está a razão, se do lado dos pais ou do professor. Há pais que fazem esperas aos professores à porta das escolas. O pior que um menino pode ver é os pais a levantarem a voz para um professor. 

A escola não educa? 

A educação vem de casa. O problema é que a família desestruturou-se muito na última década. Os filhos saem cedo da casa dos pais, perdem o acompanhamento e devíamos sentar-nos todos para conversar sobre isto. Os pais hoje não têm tempo para os filhos. Veja-se os meios tecnológicos: são bons para eles fazerem actividades mas não pode ser a toda a hora. Muitos pais dão o tablet aos miúdos porque querem comer sossegados ou ficar a descansar no sofá depois de um dia cansativo no trabalho. Os pais demitiram-se das suas responsabilidades para ficarem no silêncio. É uma fuga. Uma fuga muito negativa. 

*Leia a entrevista completa na edição semanal em papel desta quinta-feira, 11 de Agosto

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