Entrevista | 08-02-2022 10:00

“Vila Franca de Xira tem condições para ser melhor mas contenta-se com pouco”

David Pato Ferreira

David Pato Ferreira vê a política como uma missão e defende que os partidos devem estar ao serviço das populações.

Estava de pijama na cozinha quando foi convidado para ser o candidato do PSD à Câmara de Vila Franca de Xira. Aceitou porque lhe deram total autonomia para decidir. Quis fazer uma campanha diferente e chamaram-no de maluco quando recusou aparecer de fato e gravata nos cartazes. Admite que o actual presidente soube rodear-se de pessoas melhores que o seu antecessor, Alberto Mesquita, mas considera que o concelho só pode evoluir quando Fernando Paulo Ferreira se emancipar. Sobre Maria da Luz Rosinha diz que deixou um legado de pobreza no concelho por ter apostado em habitação em vez de emprego. Ao presidente da Junta de VFX aconselha que se preocupe mais com a freguesia do que em agradar ao PS.

Foi convidado a ficar com pelouros neste mandato?

Nunca seremos muletas do PS. Só aceitaria caso fosse o Desporto ou a Juventude. Um líder é tão bom quanto a equipa que tem à sua volta. Não vivemos num regime presidencialista mas Fernando Paulo Ferreira enferma desse mal. Só ele é que fala e os seus vereadores não abrem a boca.

Aprenderam a lição dos pelouros no último mandato?

A Helena de Jesus fez um trabalho excelente na Acção Social mas nunca houve uma boa comunicação e a culpa foi nossa. Não devíamos ter aceitado o pelouro que assina as multas aos munícipes. Essa responsabilidade tem de ser do PS e ela acabou por corporizar essa imagem negativa. É-me indiferente ter ou não pelouros. Não sou como um outro vereador que ficou muito chateado quando percebeu que não tinha pelouros e que não ia receber salário.

Nota diferenças em relação à gestão do ex-presidente Alberto Mesquita?

Fernando Paulo Ferreira vai ter de se emancipar. Quando isso acontecer o concelho poderá evoluir. Ele tem uma forma diferente de dialogar e soube rodear-se de pessoas mais competentes. Alberto Mesquita rodeou-se mal e por isso a única obra que fez foi o Parque de Santa Sofia. Não podemos esquecer o que Maria da Luz Rosinha deixou no concelho, que apesar de muita obra deixou um legado de pobreza. Quem tem poder de compra vai para o eixo Lisboa-Cascais e não Lisboa-Azambuja. Custa-me dizer mas só quem não vai a estas cidades pode dizer que somos melhores.

O que o leva a dizer isso?

Não podem dizer que viver na Póvoa de Santa Iria, onde para ver árvores ou o rio precisamos de um helicóptero, é a mesma coisa que viver em Oeiras, Cascais ou Sintra. As pessoas precisam de um espaço público digno e não temos de ter medo de dizer que precisamos de outro tipo de habitação. É preciso uma estratégia pujante e uma via verde habitacional para os jovens voltarem a fixar-se. Até agora é só navegação à vista. Sinto a dor de ter visto o meu grupo de amigos sair do concelho.

Onde estava quando foi convidado a ser candidato?

De pijama à mesa da cozinha (risos). Nunca pensei ser candidato mas sempre estive disponível para o partido. Já me tinham convidado há quatro anos para ser candidato a presidente da junta mas recusei por achar que ainda não tinha conhecimento suficiente para isso.

Pensa pela sua cabeça ou segue o que Rui Rei quer?

Já ouvi várias vezes dizerem que sou um pau mandado do Rui Rei. Nada mais longe da verdade. É uma ingratidão cívica e política muitas coisas que dizem sobre o Rui. Se o PSD existe e resiste no concelho tem sido graças a ele. Houve momentos em que o PSD esteve muito mal e ele aguentou-o com uma memória histórica muito forte. Como ele só me lembro do Nuno Libório (CDU).

Ficou satisfeito por o PSD ter conseguido eleger mais um vereador?

Não mas, no geral, foi um bom resultado num concelho historicamente difícil para o PSD. É uma questão sociológica. Fomos disruptivos e diferentes. Sabíamos o risco que estávamos a correr mas metade do nosso eleitorado foi para o Chega. Interrogo-me se as pessoas ao verem o que o Chega tem valido nas reuniões de câmara não voltariam atrás e não votariam em nós.

A passagem da gestão privada a pública no hospital é um problema?

A solução de gestão encontrada é totalmente danosa para o concelho. Sou a favor de uma gestão privada desde que sirva melhor a população, que era o que estava a acontecer.

Sentiu-se mais pressionado por ser um candidato jovem?

Foi uma responsabilidade maior. Houve gente do PSD que ficou em pânico e quem me avisasse que aparecer sem fato nem gravata nos cartazes era sinal de uma pessoa pouco séria e pouco competente. Não ia mudar por ser candidato. Não passei a ir ao mercado por ser candidato. A minha avó tinha uma banca de fruta no mercado e cresci nesse espaço. Não sou um líder que se esconde quando as coisas correm mal.

PRESIDENTE DA JUNTA ANDA ESCONDIDO

Vive e trabalha em Vila Franca de Xira. Como mede o pulso à cidade?

A cidade não tem um bom presidente. É verdade que a actuação da junta é limitada mas o partido do presidente deve ser a cidade e não o PS. Ainda ninguém ouviu o João Santos falar sobre o Vila Franca Centro, a falta do estádio do Cevadeiro ou dos problemas na unidade de saúde familiar. Está mais preocupado em não afrontar o PS na câmara. É um presidente competente, preparado e educado mas tem-se escondido dos temas difíceis. É mais fácil fazer política assim.

E o estacionamento?

As acessibilidades e a fiscalização do estacionamento são dois problemas graves. Moro no centro de VFX e não tenho sítio para estacionar porque as pessoas vão para a estação de comboios e deixam os carros na rua o dia todo porque não se paga.

Mas existem parquímetros… Mas ninguém os fiscaliza.

Os moradores têm um dístico pelo que o problema está resolvido. Mas os restantes devem pagar. Temos carros parados semanas a fio. Criar uma espécie de EMEL no município não é um drama e devíamos avançar. O problema é que os políticos movem-se por ciclos eleitorais e têm receio de implementar medidas que, sendo necessárias, por vezes não são populares. Continuam sem fazer daqui a quatro anos o que podiam fazer hoje: ter uma equipa de fiscalização à séria para o estacionamento e para os processos de licenciamento de obras que são um filme, um terror burocrático.

O concelho está a deixar passar oportunidades?

Não somos um concelho aliciante para trabalhar e viver. Se a bitola for o poucochinho então não estamos mal. Há diferenças gritantes entre os concelhos, adormecemos e não abraçámos a oportunidade das grandes tecnológicas. Oeiras percebeu que era melhor fixar trabalho em vez de habitação e criaram receita fiscal e emprego. Vila Franca de Xira, a Amadora e Odivelas captaram habitação e hoje são dormitórios gigantes. Temos todas as condições para fazer muito melhor e sermos dos melhores concelhos na área de Lisboa porque não há quem tenha as vantagens geográficas que temos. Mas infelizmente continuamos piores que Santarém em muitos indicadores mesmo estando às portas da capital.

O gestor que perdeu amigos por entrar para o PSD

David Pato Ferreira nasceu em Vila Franca de Xira em 1992, é casado e espera a primeira filha que deverá nascer em Março. É licenciado em Economia e gestor de negócios na indústria farmacêutica. Os pais estão ligados ao ramo imobiliário há 30 anos, quando fundaram em Alverca a Invista, e tem uma irmã mais nova.
O desporto é a sua grande paixão e quando era pequeno sonhava ser jogador de futebol mas não tinha a habilidade suficiente para fazer disso a sua carreira. Jogou dez anos no União Desportiva Vilafranquense (UDV) como lateral direito. Diz que é do UDV e só depois do Benfica. No 12º ano embrulhou-se em indecisões e foi a mãe quem o levou a ir para economia.
A política corre nos genes de família. Octávio Pato, histórico resistente anti-fascista era tio do seu avô. “Ser comunista não é nenhuma doença, é uma forma diferente de ver o mundo e as pessoas não são melhores ou piores por causa disso”, realça. Os avós paternos perderam quase tudo o que tinham em expropriações agrícolas no pós-25 de Abril. Frequentou a Festa do Avante antes de perceber que era o PSD que tinha a pluralidade de ideias que procurava. António José Matos, histórico social-democrata vilafranquense, foi o seu padrinho partidário. “Senti que houve pessoas que se afastaram de mim por ser do PSD. Há pessoas que apesar de se dizerem os donos da liberdade e da democracia respeitam pouco a pluralidade de ideias. Se ser do PSD foi um factor que as afastou então é porque não eram verdadeiramente minhas amigas”, remata.
O seu vício é fazer desporto diariamente. Cede sempre o lugar aos mais velhos ou a quem precisa. Já foi terceiro ajuda numa garraiada dos forcados de Vila Franca de Xira mas percebeu que não tinha jeito. Só dá gorjeta nos restaurantes se o serviço for bom. Prefere carne a peixe, a noite ao dia e bananas em vez de laranjas. Tira-o do sério a falta de educação.

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