Especiais | 05-05-2022 17:00

Envolvimento cardíaco na infecção e na vacinação Covid-19

Vítor Paulo Martins*

Em 25 a 30% das autópsias de doentes que morreram por Covid a célula cardíaca foi invadida pelo vírus e poderá ter contribuído para esta morte.

Cerca de 4 milhões de Portugueses já tiveram infeção por Covid-19 e destes 22 mil morreram. Cerca de 1/3 dos doentes internados por Covid-19 tem lesão miocárdica e esta leva a maior mortalidade, sendo a miocardite a sua expressão clínica mais frequente (incidência de 0.09% a 0,12%). Sepsis vírica é o nome dado à infeção sistémica pela Covid.
Em 25 a 30% das autópsias de doentes que morreram por Covid a célula cardíaca foi invadida pelo vírus e poderá ter contribuído para esta morte.
Não há tratamento específico para a miocardite por Covid. No entanto, a terapêutica com esteroides (dexametasona) parece ter algum efeito positivo pela redução da inflamação. O electrocardiograma, as análises e o ecocardiograma deverão ser os exames iniciais e a confirmação será dada pela ressonância magnética cardíaca.
Temos ainda casos de miocardite pós-vacinação Covid, sobretudo relacionada com as vacinas RNA mensageiro que estão sobretudo associadas com a 2ª dose de reforço, que pode aparecer nos primeiros 7 dias após a toma da vacina.
Afeta sobretudo homens com menos de 40 anos e as poucas mulheres com miocardite pós-vacinação estarão no grupo etário entre os 20 e os 25 anos. A incidência será de 7 casos para 100 mil vacinados, o que traduz a raridade da situação. A 3ª dose tem uma probabilidade desta complicação 10 vezes menor.
91% das miocardites pós-vacinação são homens sendo a testosterona a hormona responsável por esta situação.
A recuperação é quase sempre total normalizando o ecocardiograma ao fim de poucos meses. Os casos mais graves devem ser internados, no entanto a mortalidade é de 0,5% – inferior às miocardites por outras etiologias não Covid mas será obrigatório não realizar exercício físico durante 3 a 6 meses.
Não esquecer que o risco de miocardite pós Covid-19 é 59 vezes maior que a miocardite pela vacina pelo que é de elevada importância que todos sejamos vacinados com todas as doses de reforço.
Temos agora uma nova entidade denominada “Long Covid”, caracterizada pela persistência de sintomas vários meses após infecção Covid – fadiga anormal, falta de ar, alterações cognitivas, palpitações, dor torácica serão as queixas mais frequentes.
A prevalência pode ir de 17 a 70%, segundo as séries e afeta mais as mulheres, pessoas com mais de 65 anos, fumadores e obesos. A recuperação é demorada, mas quase sempre completa.
No entanto a positividade para Covid-19 assintomática aumenta duas vezes a probabilidade de haver complicações cardíacas graves como enfarte agudo do miocárdio, miocardites, arritmias malignas, etc.
Deste modo, devemos estar atentos às situações e consultar o seu médico se tiver sintomas porque poderá ser necessário realizar alguns exames para melhor esclarecimento e receber alguns aconselhamentos.
*Médico Cardiologista e Arritmologista, Diretor Clínico da Clínica do Coração Santarém, Diretor do Serviço de Cardiologia do Hospital de Santarém.

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