A arrogância matou o príncipe perfeito

Duarte Marques*

As três primeiras conclusões das audições iniciais da CPI ao BES e as coisas inacreditáveis que ouvimos; pessoas de grande prestígio que participavam em decisões sobre temas dos quais nada percebiam, ou que simplesmente assumiam cargos sem preparação ou conhecimento para tal. Pior ainda foi ver e perceber que gestores da suposta elite do país, como Zeinal Bava, Henrique Granadeiro, entre outros, se prestavam a papéis ridículos, mentindo, passando por ignorantes perante o país e o povo, apenas para poderem fugir a uma qualquer condenação judicial.

Após as primeiras audições dos reguladores (Banco de Portugal, CMVM e Instituto de Seguros de Portugal) dos diferentes membros do Governo, atuais e anteriores, e dos administradores do grupo ou do universo do Grupo Espírito Santo, várias situações começaram a ficar claras para mim e, acredito, para a maioria dos deputados da Comissão.

ARROGÂNCIA MATOU O PRÍNCIPE PERFEITO

Até à bancarrota quase todos os decisores públicos se rendiam ao encantamento de Ricardo Salgado e do BES; faziam o que ele pedia ou, pelo menos, eram facilmente enganados por aquele que parecia ser o “príncipe perfeito” dos empresários portugueses. Pareceu-me óbvio que Ricardo Salgado passou de herói a vilão quando a sua vaidade e arrogância o impediu de assumir problemas no Banco como todos os outros, e passou a maquilhar, ou aldrabar, as contas para disfarçar o seu “buraco”, ou a manipular e a sugar outras empresas, como a PT, para obter rendimentos extra para financiar o seu grupo que caminhava para o abismo.

Se Ricardo Salgado fez do BES um dos melhores grupos portugueses, foi também a sua personalidade que o destruiu. Pelo poder que tinha e pela influência que garantia junto de empresários e políticos, Ricardo Salgado sentia uma certa aura de impunidade, e contava com proteção política que lhe permitiria fazer quase tudo. Com o que ex-líder do BES não contava é que o Governo liderado por Pedro Passos Coelho lhe dissesse que não. Durante demasiados anos, à sombra da defesa dos alegados interesses estratégicos do país, e das empresas portuguesas, cometeram-se muitos disparates e encobrimentos que afinal não serviam o país, mas apenas os interesses desses empresários que sem a proteção “divina” do Estado não sobreviveriam. Esse tempo acabou com a troika e com a integridade do ex primeiro-ministro do PSD (entretanto esse “colinho” parece ter regressado com António Costa). 

FAMÍLIA DE IGNORANTES

No universo do Grupo BES, salvo raras exceções, quase todos os elementos da família eram ignorantes ou figuras decorativas. Ricardo Salgado tinha a sua própria equipa de gestores que respondiam por um simples estalar de dedos, como Amílcar Morais Pires, Rui Silveira ou Joaquim Goes. Os restantes eram meros executores, peões de brega. Após todas as audições, da família Espírito Santo sobram, com dignidade, José Maria Ricciardi, que denunciou diversas práticas de Ricardo Salgado e que tinha claras competências de gestão, e José Manuel Espírito Santo, homem de grande dignidade que em plena CPI, e com grande dignidade, pediu desculpa em nome da família pelo que aconteceu, e explicou tudo o que fez e não fez. A esse propósito recomendo a leitura do texto da revista Sábado que está online José Manuel Espírito Santo pediu desculpas aos clientes – Portugal – SÁBADO (sabado.pt) Foi provavelmente o único membro da família que saiu com elevação destas audições. A esmagadora maioria da família e dos gestores, ou eram ignorantes ou fingiram que nada viram. Alguns, mesmo que vissem também não tinham faculdades mentais para perceber o que quer que fosse, como era o caso de Manuel Fernando, que talvez tenha sido o mais ridículo de todos.

RASCA ELITE OU ELITE À RASCA

O rol de empresários, gestores, professores e políticos, que passaram pela CPI, incluiu grande parte da suposta elite do país. Estamos a falar de ex ministros das Finanças, Ex ministros da Economia, ex governadores do Banco de Portugal, presidentes e CEO´s das maiores empresas públicas e privadas, num palco a que o país assistiu como se fosse uma telenovela. Mas uma das conclusões a que rapidamente cheguei é que a nossa elite era muito fraca. Recordo-me de perguntar várias vezes a mim proprio: mas esta é que é a elite de Portugal? Assim sendo não admira o fracasso.

Ouvimos coisas inacreditáveis, pessoas de grande prestígio que participavam em decisões sobre temas dos quais nada percebiam, ou que simplesmente assumiam cargos sem preparação ou conhecimento para tal. Pior ainda foi ver e perceber que gestores da suposta elite do país, como Zeinal Bava, Henrique Granadeiro, entre outros, se prestavam a papéis ridículos, mentindo, passando por ignorantes, perante todo o país e o povo, apenas para poderem fugir a uma qualquer condenação judicial.  

Duarte Marques

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