Identidade Profissional | 20-06-2022 21:00

“Há pessoas que em vida pagam e explicam como querem o funeral”

Paula Martins é a gerente da Nova Agência Funerária de Azambuja e Aveiras de Cima há quase 40 anos

Há quase quarenta anos à frente da Nova Agência Funerária de Azambuja e Aveiras de Cima, Paula Martins diz que as práticas funerárias têm vindo a alterar-se. Os funerais são cada vez mais personalizados e a morte é encarada de forma mais leve. Mas nos momentos de dor, defende, não pode faltar a honestidade, rigor, rapidez e a dignidade com que se trata o corpo dos que partiram.

A forma como se lida com a morte está a mudar. Os funerais estão mais leves e há cada vez mais quem opte pela cremação com o objectivo de tornar o momento menos sombrio e desprendido do culto da preservação do corpo. Pois embora nunca se esteja preparado para lidar com a morte de um familiar, numa cremação “fica a ideia de que a despedida não custa tanto porque não se vê a urna a descer para a cova e a ser coberta de terra, que dá a ideia de fim”. Quem o diz é Paula Martins, fundadora da Nova Agência Funerária de Azambuja e Aveiras de Cima, que está no ramo há quase quatro décadas.
Paula Martins, 72 anos, é do tempo em que os corpos se velavam em casa e as vestes pretas, além de serem como que uma obrigação para se poder participar numa cerimónia fúnebre, eram a indumentária dos dias, às vezes meses ou anos seguintes. Actualmente, imposições são geralmente as daqueles que partiram porque “há pessoas que vêm em vida pagar e explicar como querem que seja o seu funeral”. Nalguns casos porque não querem deixar despesas aos familiares, noutros porque “querem assegurar que o funeral é feito de acordo com a sua vontade”.
Nesses casos, prossegue, é feita uma ficha de cliente onde ficam registadas todas as exigências da pessoa. E os pedidos podem ser do mais banal, como deixar anotada a roupa que querem levar vestida, aos mais insólitos como pedir a presença de uma banda de música, bandeiras e todo o tipo de merchandising de clubes de futebol. “Hoje tudo está mais personalizado e os funerais não são excepção. Nós, enquanto profissionais, temos o dever de respeitar a vontade da pessoa que faleceu e da família. Nunca fomos nem seremos uma agência robô, mas um porto de abrigo que nas horas de maior dor trata, resolve, respeita e dá consolo”.

“Na hora de escolher uma funerária pesa o rigor e a rapidez”
Paula Martins, natural de Évora e a residir há 37 anos em Aveiras de Cima, concelho de Azambuja, já realizou funerais por todo o país e até no estrangeiro. O motivo é simples: “Na hora de escolher uma funerária, além do preço pesa a honestidade, o rigor e a rapidez” – valores que acredita serem fundamentais para se prestar um serviço de qualidade. “Mas infelizmente ainda temos pessoas a trabalhar neste ramo que são desonestas e apresentam valores diferentes no orçamento e na factura final”, diz, acrescentando que atitudes dessas contribuem para que a profissão não seja bem vista por todos.
“As agências funerárias são obrigadas por lei a ter o preço nas urnas e a afixar os custos do serviço. Só não podemos ter o custo do cemitério e dos direitos paroquiais porque não depende de nós, mas das câmaras municipais, juntas de freguesia e dos padres”, explica, dando como exemplo que enterrar uma pessoa em Azambuja custa cerca de 81 euros e na freguesia vizinha de Aveiras de Cima cobra-se 140. Ainda assim há um orçamento entregue à família que é respeitado e onde os quilómetros não são cobrados a menos que a realização do funeral implique longas distâncias.

“O corpo de alguém que partiu merece ser tratado com dignidade”
A trabalhar apenas com elementos da sua família – o marido, a filha e o genro – a dignidade com que se trata o corpo de alguém que partiu é uma prática da qual se orgulham. Porque “o corpo de alguém que partiu merece ser tratado com a máxima dignidade e respeito”, defende Paula Martins, acrescentando que pedem sempre à família que antes de verem o seu ente querido os deixem trabalhar para amenizar a imagem da morte com maquilhagem. “Quando terminamos e a família olha, o mais comum é dizer-nos que parece que está a dormir”.
Antes de fundar a sua própria agência funerária, que tem serviços de florista próprios, Paula Martins trabalhou numa outra agência, onde ganhou experiência e o gosto pela profissão. Ao longo dos anos foi acompanhando a evolução do sector, como assegurar a manutenção e limpeza de campas – um serviço que tem vindo a ser cada vez mais requisitado – ou colocar a necrologia numa página da Internet com a devida autorização da família. Mas neste campo do digital, defende, tem que haver limites pois não faz sentido algum o “negócio de acender velas online”. Uma homenagem a alguém, remata, “dever fazer-se presencialmente ou, quanto muito, na impossibilidade de não se conseguir estar presente fazendo um telefonema ou enviando um ramo de flores”.

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