Identidade Profissional | 02-05-2022 15:00

Repartir com o Estado o lucro de um ano de trabalho é uma injustiça

Victor Matos trabalha na restauração há mais de três décadas

Victor Matos, 51 anos, proprietário do restaurante/churrasqueira O Vítor, em Santarém.

Com um leque de clientes fidelizados Victor Matos não se queixa do negócio mas lamenta que em Portugal parte do lucro de quem investe e trabalha vá parar às mãos do Estado. Especialista em grelhados o dono do restaurante O Vítor começou a manobrar a grelha a carvão aos 14 anos. Hoje, diz, não há mãos que queiram trabalhar.

O dia de trabalho de Victor Matos começa às 08h00 e não termina antes das 23h00. Depois de fazer as compras dos produtos frescos necessários à preparação dos pratos da ementa, acende o carvão da grelha onde confecciona os grelhados, a especialidade da casa que baptizou com o seu nome. A sua tarefa principal deveria ser dedicar-se a criar um ambiente hospitaleiro na sala que senta cerca de 90 pessoas, mas a falta de mão-de-obra empurrou-o para trás do balcão.
O problema não é novo mas esta escassez é, segundo o empresário, cada vez mais sentida no sector da restauração e tem sido um grande entrave ao crescimento e recuperação de um negócio muito abalado pela pandemia. “Ter uma boa equipa é fundamental para o sucesso de uma casa porque se não houver simpatia, educação e dedicação, não há cliente que volte”, diz, explicando que apesar da dificuldade em recrutar novos funcionários que aceitem os horários do sector mantém um “núcleo duro de bons profissionais no atendimento e na cozinha”, do qual fazem parte a sua esposa e irmã.
A sala de ambiente acolhedor e decoração rústica recebe clientes que vão desde “o pedreiro, ao engenheiro e doutor”, porque a qualidade e sabor dos pratos e a hospitalidade continuam a estar no topo da pirâmide na hora de escolher um restaurante. E no seu é o próprio quem encontra o tempero e o ponto certo nos grelhados porque a brasa, explica, também tem a sua arte e saber.
Victor Matos nasceu em Angola mas cedo se mudou para Portugal, primeiro para Viseu e depois para Santarém, cidade onde vive e trabalha há 40 anos. É o mais novo de cinco irmãos mas não quis esperar muito para sair de casa e tornar-se financeiramente independente. Aos 13 anos começou por aprender mecânica numa oficina de automóveis mas passado um ano já estava agarrado à grelha e ao carvão numa churrasqueira da cidade que viria a ser sua depois de completar 19 anos. “Tornei-me empresário neste sector por vocação e com a ambição de ser alguém na vida”, confessa, acrescentando que antes de abrir  O Vítor, há sete anos, geriu um restaurante juntamente com os irmãos.
Sem medo do trabalho e das horas de sono que fica a dever à cama, define-se como um empresário e profissional exigente com os seus funcionários e dedicado aos seus clientes. “Em 99% das vezes, mesmo que não a tenham dou-lhes a razão porque afinal de contas o meu negócio depende inteiramente deles”, sustenta.
Quanto à sustentabilidade do negócio, Victor Matos lamenta que depois de uma pandemia que retirou os clientes da sala, uma guerra na Europa tenha feito disparar abruptamente os preços dos produtos. “O óleo, por exemplo, subiu 40% numa semana. Num sector que ainda está a tentar recuperar, se aumentarmos os preços da ementa o mais provável é o cliente fugir”.
Além da falta de apoios, o empresário também não se conforma com os ataques do Governo aos que geram algum lucro e contribuem para o crescimento da economia nacional. “Os encargos fiscais são demasiado altos, mas uma coisa são os impostos que pagamos, outra é a injustiça de sermos obrigados a repartir com o Estado o lucro que temos ao final de um ano. Trabalhamos, investimos o nosso tempo e dinheiro e depois temos um Estado que lucra sem nada fazer”, remata.

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