Nacional | 04-06-2022 12:53

“Desertos de Notícias” estão quase todos localizados no interior do país

“Desertos de Notícias” estão quase todos localizados no interior do país

Investigador fez levantamento dos concelhos onde não há qualquer jornal nem rádio, mas não há estudos sobre a qualidade de informação dos restantes

Portugal tem 61 concelhos onde não há jornais nem rádios de informação que ali tenham a sua sede, revela o estudo ‘Deserto de Notícias’, da investigador Giovanni Ramos. No estudo são apontadas as regiões de Trás-os-Montes e Alentejo como as mais afectadas, mas com excepção da zona litoral, há desertos de notícias  em todo o país.

O ‘Deserto de Notícias’ é um estudo que começou a ser feito nos Estados Unidos com o objectivo de saber quais eram as localidades que não tinham noticiário local, ou seja, que estavam sem jornal e sem rádio local, tendo também sido feito no Brasil e agora em Portugal.

O investigador associado da Labcom/UBI – Universidade da Beira Interior e autor do estudo, Giovanni Ramos, explica que “são regiões que não possuem noticiário local. São comunidades onde a população, se quer saber o que acontece na sua cidade, na sua comunidade, precisa” de procurar “meios informais porque não há um jornalismo para atender isso”. De acordo com dados de 2021, 19,8% dos concelhos portugueses estão no deserto de notícias.

Este ‘deserto de notícias’ ocorre “em regiões mais distantes dos grandes centros urbanos e com menor actividade económica”, explica o investigador.”No caso português, a situação é mais evidente em Trás-os-Montes e Alentejo mas o distrito de Portalegre, por exemplo, é também bastante afectado”, acrescenta.

Estas regiões “são distantes dos grandes centros, são regiões com menor actividade económica” e “no caso de Portugal têm um detalhe muito importante que é a questão populacional”, já que são concelhos muito pequenos, justifica o investigador.

“Essas vilas não conseguem manter uma estrutura de um jornal ou um modelo comercial a funcionar”, são comunidades “que acabam sendo, digamos assim, abandonadas, porque ficam sem essa informação local” de imprensa e rádio, tornando-se dependentes das televisões para informação do país e do mundo e utilizando meios informais, com a Internet, grupos de Facebook, WhatsApp, “mas aí não é jornalismo profissional”, tratando-se de “um terreno extremamente fértil para a desinformação”, considerou.

.Para além da falta de meios de comunicação social há questões não abordadas no estudo como a qualidade dos conteúdos daqueles que existem por estarem muitas vezes vulneráveis a interferências políticas ou empresariais, embora isso seja difícil de apurar caso a caso. E há também o caso dos chamados jornais fantasma que, apesar de se apresentarem como veículos de notícias, não têm recursos para fazê-lo – o que os faz existirem “apenas nominalmente.

O investigador, que está a fazer um doutoramento em comunicação, adianta que em Outubro vai ser divulgado um outro estudo que analisa os concelhos que estão no ‘Deserto de Notícias’ e dados da abstenção nas últimas eleições legislativas e autárquicas para saber se há alguma correlação.

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