Tenho quase 70 anos, peso perto de cem quilos e gosto muito de música ao vivo. Ir a um concerto de Verão está fora de questão. Não há lugares sentados e se me sentar no chão vão ter que ir buscar uma grua para me levantarem. E isto se eu aguentar mais que dez ou quinze minutos sem ficar com as pernas dormentes ou sem uma dor nas costas daquelas que me fazem uivar. Estar de pé, posso estar, mas parado não aguento muito tempo. E há a próstata, essa malvada, cuja existência os jovens desconhecem…pelo menos até ficarem velhos.
Já não sonho fazer “mosh”, nem abanar a barriga, com pneus e tudo. Nem sequer quando tocam as bandas dos rapazes do meu tempo que, pelo menos em palco, saltam como se tivessem acabado de receber uma transfusão de sangue. O meu sonho é ter uma cadeira confortável e vista desimpedida para o palco. Num país em que por cada 60 jovens há mais de 180 velhotes como eu, passo o Verão a tropeçar em recintos que deviam ter à porta o letreiro: “Este festival não é para velhos”.
E nas festas populares, sejam de aldeias, vilas ou cidades é a mesma coisa. É verdade que sempre posso tentar sentar-me numa das tasquinhas e passar tempo a pedir petiscos e imperiais, mas não tenho sorte. Os lugares sentados, nomeadamente nas tasquinhas das colectividades, estão sempre ocupados pelos sócios, familiares e amigos do pessoal que está de serviço e o raio dos netos nunca se oferecem para assar frangos e servir sangria.
Só conheço um festival a que poderia ir à confiança, que é o “Festival para Gente Sentada”, em Braga, no Theatro Circo, mas Braga fica longe. É verdade que, com a população a envelhecer a este ritmo, daqui a umas décadas haverá mais festivais para um “público exigente”, como refere a organização dos Sentados de Braga, mas nessa altura, com muita pena minha, já estarei noutra.
Rui Ricardo