O MIRANTE dos Leitores | 26-04-2022 20:59

Mulheres que sentiram no corpo a violência obstétrica

Há atitudes e comentários que ouvimos que ficam marcados para sempre. Para quem trabalha na área é mais um bebé, para nós é o nosso bebé.

Há atitudes e comentários que ouvimos que ficam marcados para sempre. Para quem trabalha na área é mais um bebé, para nós é o nosso bebé. Quero acreditar que alguns profissionais não têm noção do quanto marcam determinados comentários nessas horas. Como exemplo, após chegar ao hospital, às 23h30, com as águas rebentadas, duvido que tivesse, nessa altura, grande líquido amniótico. De início não se ouvia a minha bebé, depois consegui ouvir. Na manhã seguinte, ainda antes de ela nascer, uma enfermeira teve o “cuidado”, antes de sair, às 8h00, de me dizer: “sabe, ontem fiquei assustada. É que ultimamente têm nascido muitos nados-mortos”.
Passaram-se 10 anos e recordo cada palavra. Até ao parto foram algumas horas de ansiedade para ter a certeza que estava tudo bem. A minha filha mais velha adormecia profundamente passado 10/15 minutos de amamentação. No dia seguinte eu estava a dar de mamar e a mexer-lhe para ver se mamava mais um pouco. Uma enfermeira chegou e comentei a situação dizendo que talvez adormecesse por já estar saciada. Ao que a enfermeira respondeu de imediato: “Não necessariamente… a mãe pode pensar que a bebé está a dormir e ela estar desmaiada”. Na altura eu tinha 24 anos, uma filha. Passaram 21 anos e recordo cada palavra e o medo que se instalou em mim na altura. Não conseguia dormir com medo que ela desmaiasse e eu não percebesse.
Célia Valério


Entrar em trabalho de parto é o momento no qual a mulher está mais sensível. Tem em sua mente a ansiedade, a incerteza do que poderá acontecer e pede quase que inconscientemente ajuda e compreensão. Os profissionais envolvidos deveriam ter isso em conta e serem mais solidários tendo em conta a fragilidade da parturiente.
Helena Canhoto

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