O MIRANTE dos Leitores | 21-08-2022 14:59

Os doentes são paisagem no mar das exigências de médicos, enfermeiros e corporações

Ninguém quer saber dos doentes quando se discute o Serviço Nacional de Saúde.

Ninguém quer saber dos doentes quando se discute o Serviço Nacional de Saúde. As televisões só divulgam a vozearia dos representantes das corporações, sindicatos e interesses instalados. Os doentes são paisagem. E se aparecem fugazmente, é para dar razão a essas reivindicações e para passar a falsa ideia de que só existe caos nos hospitais públicos.
Nos hospitais e clínicas privadas, pelos menos a avaliar pelas queixas que vão sendo divulgadas pelas entidades que as recebem, também haveria o tal caos, se a isso se prestassem as televisões. E os hospitais e clínicas privadas não estão presentes e todo o país, não recebem todos os doentes da emergência médica, não fazem medicina preventiva de doenças como diabetes, hipertensão, etc e não prestam um serviço gratuito como o Serviço Nacional de Saúde.
A somar a isso, as consultas nos privados têm sempre um custo, mesmo quando a pessoa tem um seguro de saúde…e o valor não é o das antigas taxas moderadoras, agora extintas para a maior parte dos casos. E qual é, por exemplo, o Instituto de Oncologia dos privados e quanto custa um internamento e os tratamentos?
Os jornalistas só ouvem os que reivindicam mais salários e regalias e menos tempo de trabalho. Raramente questionam o que é dito. Ninguém me explica, por exemplo, o que significa esta última moda dos “pedidos de escusa de responsabilidade” que são noticiados diariamente. E nos casos de demissões de chefes de serviços dos hospitais públicos, ninguém me diz se quem está nessas situações trabalha em exclusividade para o Serviço Nacional de Saúde ou se também trabalha em hospitais e clínicas privadas. E isso faz toda a diferença, ou não faz?
E alguém consegue explicar como há médicos que têm índices de produtividade tão baixos no Serviço Nacional de Saúde e tão altos no privado?! E esses médicos, a quem o Estado paga 14 ordenados por ano em troca de onze meses de trabalho e lhes paga também uma parte da segurança social, seguros, subsídios de refeição e outros, têm algum vínculo com os privados com pagamento dessas mesmas coisas, ou só lhes pagam as horas efectivamente feitas, podendo assim receber valores muito mais altos porque quem os contrata não tem encargos?
Como li aqui há tempos nesta secção de O MIRANTE, há doentes transferidos de hospital para hospital, durante a noite e madrugada, sem qualquer necessidade ou benefício para a sua saúde (antes pelo contrário), ficando a ideia de que isso é feito apenas para facilitar a gestão das vagas dos serviços de internamento ou porque o transporte de doentes nessas horas é mais caro e isso beneficia quem os transporta. Volto a dizer o que disse no início. O que menos interessa para certas corporações são os doentes.
Felizmente, a grande maioria dos profissionais de Serviço Nacional de Saúde, mesmo aspirando a ter melhores condições de trabalho e mais regalias, não se desresponsabiliza. E não acredito que um médico, enfermeiro, ou qualquer outro profissional a sério faça depender a qualidade ou quantidade do seu trabalho de um salário maior.
Rui Ricardo

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