O MIRANTE | 22-11-2019 07:00

“Temos boas vias rodoviárias mas não temos bons transportes públicos”

“Temos boas vias rodoviárias mas não temos bons transportes públicos”
32º ANIVERSÁRIO

João Moutão - Professor, 42 anos, Vice-Presidente do Instituto Politécnico de Santarém

Quando se sai de Lisboa e do Porto deparamo-nos com um país em grande parte deixado ao abandono. O Tejo é um bom exemplo desse estado de abandono. Acho que se sente isso de uma forma generalizada por parte de quem vive e trabalha em instituições fora dos grandes centros urbanos.

Portugal é o país da União Europeia onde existe mais concentração de estudantes nos grandes centros urbanos. Chega a ser de 70%. Nas outras capitais europeias esse valor ronda os 20%. A opção nesses países passa por desenvolver pólos de ensino superior fora dos grandes centros urbanos onde se pode ter acesso a um custo de vida mais baixo e mais qualidade de vida e por construir infra-estruturas com baixo custo, como residências e laboratórios, dando melhores condições de vida aos estudantes.

As Instituições de Ensino Superior localizadas no interior são excelentes ferramentas para o combate à desertificação. É um crime fazer com que as famílias tenham de pagar quartos a 700 euros por mês nos grandes centros urbanos. Já para não falar da drenagem de capital humano a que se assiste no interior, contribuindo para a sua desertificação.

Hoje em dia através das redes sociais e de uma forma muito simples posso desejar as Boas Festas a todos os amigos e familiares. Isso seria impossível se tivesse de enviar postais pelo correio. Aceito que o que se ganha em escala se perde em personalização mas esta é uma realidade a que já não podemos fugir.

Actualmente conduzo um carro híbrido. Faço-o por questões ambientais e ideológicas. Infelizmente as viaturas eléctricas ainda estão muito inacessíveis e a rede de carregamentos é muito diminuta. Para além da mudança digital, a mudança de fontes de energia fósseis para fontes de energia renováveis é algo que iremos assistir na sociedade actual. Neste capítulo orgulha-me a que Portugal seja um dos países mais avançados do mundo.

Vivo em Rio Maior há cerca de vinte anos. Nunca pensei mudar porque me sinto bem. Tenho acesso a boas escolas públicas para os meus filhos, o custo de vida não é alto, as pessoas cumprimentam-se e são educadas, a gastronomia é fabulosa, não existem horas infindáveis de trânsito, podemos sair de casa a qualquer hora em segurança… e podia continuar. Também a nível profissional estou, neste momento, num período muito desafiante de grande responsabilidade, onde me quero focar nos próximos três anos.

O Ribatejo tem tudo! Diria mesmo que tem o mais importante, que é uma identidade própria. Se souber aproveitar essa identidade e se se mobilizar num projecto envolvente de inovação territorial, implicando o poder político, as instituições de Ensino Superior, as empresas e a sociedade civil, não tenho dúvidas que se tornará num pólo muito forte de desenvolvimento. Falta esse “click”.

O distrito de Santarém está bem servido de vias rodoviárias mas não de transportes públicos. Qualquer deslocação a Tomar, Óbidos, Caldas da Rainha, Leiria, e mesmo a Lisboa é um quebra cabeças. O que não se compreende. Esta situação reproduz-se um pouco por todo o distrito. Temos situações de estudantes que têm de apanhar três meios de transporte para se deslocarem do Cartaxo até Rio Maior, com horários muito restritivos. Não compreendo.

As touradas são um tema fracturante mas estão bem presentes na cultura ribatejana. Basta entrar nalgumas salas de restaurantes da cidade de Santarém para perceber isso. É evidente que compreendo que haja quem, nos tempos que correm, olhe de outra forma para estas manifestações, em especial no que diz respeito ao tratamento dos animais.

Tenho sempre pouco à-vontade para falar sobre mim. Faz-me mais sentido que sejam os outros a fazê-lo. Estando a assumir responsabilidades numa instituição com grande impacto no desenvolvimento futuro da região parece-me poder ser interessante partilhar o que estamos a fazer de momento para que a nossa oferta formativa se torne mais atractiva para os jovens que residem na região, em proximidade com as entidades empregadoras, e inovando no ensino e na ciência, numa cultura cada vez mais internacional. É um bom tema de conversa para uma próxima oportunidade.

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