Opinião | 19-04-2019 18:00

O ddrraamaa...  a ttrraagéddiiaa... o hóórrroorr...

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OPINIÃO

Emails do Outro Mundo

Grandoleiro Serafim das Neves
Os que gostam de celebrações vão celebrar os quarenta e cinco anos do 25 de Abril. Eu também o celebro com uma feijoada regada a tinto do Cartaxo, partilhada com uma família que vai tolerando esta mania. Os mais novos estão convencidos que a escolha do feijão remete para memórias de artilharia pesada e gaseamentos em massa. Remete para revoluções. E eu não os desminto.
Os menos novos ou querem um novo Salazar ou querem um novo 25 de Abril, duas utopias. Salazar está a fazer tijolo e não aprovaria crédito fácil para viagens às Caraíbas nem greves de professores e enfermeiros. Os que fizeram o 25 de Abril em 1974 já não estão em condições de repetir a façanha devido às dores nas articulações e mesmo que estivessem já aprenderam que se é para levarem coices vez de obrigados, o melhor é continuarem a gozar a reforma. Além disso só o facto da senha para a saída das tropas dos quartéis poder ser o “Parti o meu telemóvel”, do Conan Osiris, em vez do Grândola Vila Morena, tira-lhes o que resta da eventual tusa revolucionária que ainda possam ter.
Sou um grande admirador do jornalismo actual. Dos jornalistas e editores actuais, melhor dizendo. Da sua prodigiosa capacidade de transformar tudo... mas mesmo tudo, em drrraaammmmaaa... ttrrraagéddiiiaaa... e hóóórrrrroooorrrr, seja a uivante sensação experimentada por um desditoso cidadão que entalou um dedo na porta do carro, sejam os ataques às liberdades individuais dos nossos jovens a quem não são servidas pizas nas cantinas das escolas.
Durante anos e anos andei a gramar intelectuais da batata que achavam que o espaço noticioso devia ser ocupado com assuntos de interesse público. Agora, para minha felicidade, a primazia passou a ser dada aos assuntos com interesse para o público. Temas virais, por assim dizer, seja o caso da mulher que foi viver com a amante do marido e descobriu que ela era um travesti, ou o do rottweiler que comeu os tomates do dono quando este estava a trocar de boxers porque as cuecas tinham imagens de gatinhos e cheiravam a peixe.
Graças a esta nova política editorial, o outrora agonizante jornalismo rejuvenesceu e ganhou milhares e milhares de visualizações. Visualizou-se, melhor dizendo. A minha vizinha deu um pequeno golpe no dedo indicador direito quando estava a descascar uma cebola. Aqui há uns anos um assunto tão grave e dramático não merecia, infelizmente, uma linha no jornal da terra. Agora torna-se viral em menos de um fósforo. Tão viral, tão viral, que se as redes sociais não tivessem acabado com as vacinas, seria preciso inventar uma.
O Verão está à porta e os inclinómetros que seriam determinantes para a reabertura o troço Estrada Nacional 114, entre a ponte D. Luís I e Santarém, tardam em aparecer. Já ouvi vezes sem conta falar destes aparelhómetros mas nunca vi nenhum, nem ao vivo, nem em fotografias. Se tiveres alguma ideia de como são, diz-me por favor. Eu gostava de os ver antes de eles serem colocados. Imagino-os cilíndricos e com luzinhas a piscar mas queria ter a certeza. Seja como for, é incrível que uma coisa de que tanto se fala não tenha ainda sido apresentada ao público em geral. Queres ver que os inclinómetros são como as notas de 500 euros? Aquelas de que tanta gente fala mas que vão sair de circulação este ano sem que ninguém as tenha visto?
O cão do meu vizinho do segundo esquerdo é um como um íman. Coloquei uma foto dele no meu perfil do Facebook e já recebi mais de mil e quinhentos pedidos de amizade. Quem é que havia de imaginar que uma página de um Manuel Serra de Aire com a foto desfocada de um bulldog e um perfil onde diz gostar de ópera do Burkina-Faso e de canto gregoriano tailandês, iria atrair tanta gente?

Saudações revolucionárias
Manuel Serra d’Aire

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