Opinião | 05-06-2019 09:53

Cidadania e Governança: Globalização e Indústrias Criativas

A lógica emergente da globalização tem como argumento positivo superar o tempo, através de um sistema global que se pretende acessível, instantâneo e interdependente, em qualquer parte do planeta, como é o caso da internet. Mas a temporalidade ainda se move muito ‘agarrada’ ao passado e isso atrasa o andamento neste caminho coletivo para a sustentabilidade.

Os processos de globalização têm provocado grandes mudanças, evidentes em sectores como o ambiente, a alimentação e os fluxos migratórios. Países, concelhos e cidades passam por períodos prolongados de debilidade económica: desequilíbrio comercial, dívidas cada vez maiores, inflação elevada e desemprego. As fraquezas económicas geralmente medidas pela perda de população, pelo alto índice de desemprego, pela queda de receitas e dos investimentos, estão ligados à sorte das indústrias, dos recursos e produtos do local. Estes têm vindo a ser elementos a ter em conta no desenvolvimento de novas respostas para a vida das pessoas.

Em Portugal, o crescimento populacional, sobretudo no Litoral, com os consequentes aumentos de assimetrias devido à concentração de pessoas nas grandes metrópoles, promoveu um conjunto de mudanças, resultantes da circulação de pessoas na procura de melhor qualidade de vida, desencadeando um novo mosaico habitacional, com alteração dos hábitos societais, bem como do sentido dos limites geográfico-identitários das comunidades.

A evolução da economia portuguesa tem sido fortemente condicionada pela conjuntura e pelo enquadramento das políticas económicas e financeiras na União Europeia (UE), especialmente no quadro da União Económica e Monetária, em que a gestão das comunidades é central. E, a gestão das comunidades locais está muito dependente da distribuição de fundos da Administração Central. Para alcançar um desenvolvimento sustentável é necessário inverter esta lógica, para uma outra, norteada pela identificação, otimização/racionalização dos seus ativos e recursos estratégicos, em projetos que garantam eficiência e sustentabilidade económica e social, numa perspetiva de médio e longo prazo.

Segundo o Relatório do Banco de Portugal de 2014, os riscos que impendem sobre a economia portuguesa deveriam contribuir para alargar o consenso em torno desta necessidade. A consensualização de uma agenda de longo prazo para a economia portuguesa impõe um processo exigente de negociação, compromisso e, em última instância, de apropriação pelos agentes políticos e sociais de um conjunto fundamental de opções estratégicas.

A lógica emergente da globalização tem como argumento positivo superar o tempo, através de um sistema global que se pretende acessível, instantâneo e interdependente, em qualquer parte do planeta, como é o caso da internet. Mas a temporalidade ainda se move muito ‘agarrada’ ao passado e isso atrasa o andamento neste caminho coletivo para a sustentabilidade. É preciso contrariar esta ideia procurando acertar o ritmo, sem perder de vista as lições da nossa evolução histórica. Perceber quais as potencialidades existentes em cada uma das comunidades, com enfoque nos recursos naturais distintivos e nas competências dos residentes será um primeiro e grande passo, para gerar emprego e empregabilidade local.

Veja-se a importância crescente das indústrias criativas em toda a Europa, bem como o reconhecimento público da importância estratégica das indústrias criativas em Portugal. A questão é saber se o debate em Portugal acontece devido à grande euforia internacional em torno desta nova indústria ou, se pelo contrário, assenta numa estratégia concertada com os principais responsáveis pela dinâmica local, afinal a fonte de toda essa criatividade.

O Governo nacional, em 2015, assumiu o compromisso de “promover um plano para as indústrias culturais e criativas que integre os diversos setores evolvidos, para a consolidação de uma estratégia clara de formação, acesso a financiamento, internacionalização e proteção da propriedade intelectual adequada ao potencial económico da criatividade” (Governo de Portugal, 2015:203).

Há, certamente, capacidade critica em cada uma das comunidades portuguesas, portanto uma oportunidade para pensar ‘fora da caixa’. O importante é conhecer cada realidade local e a partir de cada suporte-contexto existente (re)desenhar uma estratégia adequada aos novos padrões de desenvolvimento. Sugerimos que, para garantir uma alargada implementação, os governos locais assumam como seu, o compromisso do Governo nacional. Acreditamos que a riqueza natural e social existente em cada uma das comunidades, será o mote para incentivar o potencial criativo existente em Portugal.
José Fidalgo Gonçalves
Investigador Católica-CESOP
junho.2019

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