Opinião | 15-08-2019 06:01

Uma greve de camionistas com dois advogados a guiarem as operações

Aveiras de Cima é um dos cenários principais de uma greve que pretende paralisar o país e que nasce de um clima de raiva e ódio entre patrões e empregados.

Pedro Pardal Henriques é o herói/vilão do momento; ele e os seus clientes, dois sindicatos independentes de camionistas de matérias perigosas, tomaram conta do país como se fossemos um principado ou um território em auto-gestão. Os debates nas televisões entre sindicalistas e representantes dos patrões têm sido lições de serviço público que vão ficar na História, pela negativa, e servem para adaptar às matérias do ensino sobre cidadania nas escolas. Ficamos a saber que a greve foi decretada sem que tenha havido negociações; a guerra entre camionistas e empresas é motivada apenas pela raiva, pelo ódio e pelo desprezo que existe entre uns e outros. Os ordenados baixos e a exploração da mão-de-obra barata nas horas extraordinárias, só para dar dois exemplos, ficaram para segundo plano. Ninguém contabilizou, até hoje, o número de sindicatos que ficaram de fora desta greve, nem tão pouco o número de camionistas que não aderiram nem estiveram solidários com os colegas destes dois sindicatos que comandam a luta.

O Governo de António Costa desta vez não dormiu em serviço; e todas as televisões mostraram reuniões de emergência de ministros, e conferências de imprensa, como se estivesse em causa a independência do território; e o caso não é para menos; com esta facilidade em parar um país de 10 milhões de pessoas, o mínimo que podemos esperar é que tenhamos um primeiro-ministro com os tomates no sítio.

Neste meio tempo os jornalistas da TVI tiveram vagar para descobrir os podres da vida de Pedro Pardal Henriques que, pelo vistos, nunca guiou um camião; foi um empresário falhado que ficou a dever dinheiro a muitos colaboradores; e apareceu como vice-presidente da direcção de um sindicato numa altura em que estava proibido pelo tribunal de exercer qualquer cargo público ou sequer de gerir empresas. Mas ninguém falou com os sindicatos que não aderiram à greve; e não houve tempo para ouvirmos as associações das gasolineiras, que são a parte importante deste negócio. Como todos sabemos, a Galp, a BP e a Repsol, só para citar três grandes marcas, são verdadeiros colossos da economia portuguesa e, aparentemente, tentaram passar à margem desta guerra como se não tivessem nada a ver com o conflito, que pretendia, e ainda pretende, levar a economia portuguesa a um coma profundo.

Pedro Pardal Henriques fugiu às câmaras de televisão durante alguns debates mas nunca saiu dos noticiários; a sua putativa candidatura a deputado no partido de Marinho e Pinto ainda é notícia. E o seu adversário, o igualmente advogado André Matias de Almeida, representante dos patrões, não fica melhor na fotografia de uma luta entre patrões e empregados que encontrou um chefe de Governo em forma, sereno mas determinado, no meio de um silêncio partidário que é único na vida política portuguesa. JAE

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