Opinião | 03-10-2019 18:00

Cidadania e Governança: Tecnologias para uma sociedade sustentável

…tudo ficará igual se o ‘conhecimento’ não for amplamente disseminado e apropriado pelas pessoas. É importante ter em linha de conta que não se pode negar às populações dos países em desenvolvimento a oportunidade de acederem aos bens de consumo e ao conforto que as populações dos países desenvolvidos possuem.

De uma maneira geral, quando se fala em sustentabilidade, imediatamente as pessoas associam o conceito à questão ambiental. Entretanto, a sustentabilidade vai mais além do ecologicamente correto. Ela deve ser economicamente viável, socialmente justa e culturalmente aceite. Aspetos como prevenir, reutilizar, cooperar, integrar, interagir e democratizar somente podem ser atuantes quando exercidos através das boas práticas de âmbito local.

O debate sobre o ‘ambiente’ teve início nos anos 70 com a publicação do livro “Os Limites do Crescimento” (Meadows & Meadows, 1972), que continha uma crítica contundente ao modelo de crescimento económico vigente na medida em que a busca incessante por crescimento geraria inevitavelmente sérios problemas sociais e ambientais. Este debate ainda prevalece, mas não menos importante é perceber a relação entre a tecnologia e a sociedade e qual o seu contributo para a melhoria das condições sociais, económicas e ambientais, nomeadamente no combate à pobreza e às desigualdades sociais. O ponto capital para um desenvolvimento sustentável está na qualidade de vida e no bem-estar das pessoas.

É consensual que o progresso científico e tecnológico poderá ajudar a superar os obstáculos impostos pela disponibilidade de recursos naturais e até propiciar uma contínua expansão económica dos países. Assim, a tecnologia poderá auxiliar a encurtar o caminho da sustentabilidade, bastando olhar para as diferenças existentes na aplicação das tecnologias e os seus impactos nos padrões de consumo, entre países centrais e periféricos.

O desenvolvimento local sustentável para ser efetivo deve estar apoiado numa extensa análise do lugar, dos seus habitantes e das potencialidades latentes existentes. Ao desenvolver ações baseadas em boas práticas locais, tanto os governos como as empresas difundirão práticas sustentáveis de governabilidade e gestão, estimulando outras cidades e empresas para que também possam criar as suas próprias estratégias de desenvolvimento local e de responsabilidade social.

A inovação institucional terá de centrar a sua ação num novo paradigma: desenvolvimento de setores da tecnologia, comunicações e microeletrónica. Esta hipótese, estabelecida pela Curva Ambiental de Kuznets, afirma que o nível crescente do rendimento per capita acaba por determinar uma diminuição no ritmo da degradação, quando associada à incorporação de padrões tecnológicos. As novas tecnologias são a principal resposta para consecução da sustentabilidade, na medida em que podem proporcionar o acesso a consumos de bens relacionados com a produção, orientados para padrões de poupança de recursos naturais.

Mas, tudo ficará igual se o ‘conhecimento’ não for amplamente disseminado e apropriado pelas pessoas. É importante ter em linha de conta que não se pode negar às populações dos países em desenvolvimento a oportunidade de acederem aos bens de consumo e ao conforto que as populações dos países desenvolvidos possuem.

Neste contexto, é fundamental preencher as falhas de Mercado, sobretudo das necessidades sociais (identificando-as e caracterizando-as), nomeadamente por via da inovação multidisciplinar na inclusão, coesão e participação. Para tal, sugere-se às autarquias que promovam parcerias com centros de saber (academia), envolvendo cidadãos e organizações da sociedade civil que, em simultâneo, poderão facilitar o apoio ao bom governo e otimizar o retorno de capital social.

José Fidalgo Gonçalves

Investigador Católica-CESOP, Lisboa

outubro.2019

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