Opinião | 29-05-2021 07:00

Toiros

Sim, gosto de toiros. Gosto de touradas. Cresci junto de um grande amigo vizinho bandarilheiro, que me levava para dentro da monumental Celestino Graça sempre que ia fazer a sua preparação física. Ele corria à volta na arena e eu, pequenote com 5/ 6 anos, jogava à bola contra as “tábuas”

Escrever sobre toiros, para mim, poderá ser duplamente complicado: porque, por um lado, embora aficionado, não sou um entendido na matéria e, por outro, é uma temática cuja análise encerra, em si mesma, a falta de liberdade resultante do tão em voga politicamente correcto. Ou seja, a critica pública à festa brava, além de constituir sinónimo de grande modernidade e de identificação com a cultura “caviar” bem-pensante – “caviar” urbana de esquerda e alguma “caviar” urbana de direita -, resulta também – dizem - do simples exercício de um valor inestimável e inquestionável: a liberdade.

Porém, quem publicamente defende a corrida de toiros, além de não ser escutado, é coberto por impropérios da maior boçalidade, apenas porque, também, exerce a sua opinião no simples exercício do mesmo valor inestimável e inquestionável: o da liberdade.

Ora, a liberdade, segundo alguns, apenas pode ser exercida por aqueles que compartilham as mesmas opiniões. É a liberdade para concordar e elogiar. São esses mesmo que não conseguem perceber que a falta de liberdade foi, e é, um fenómeno transversal a um conjunto de regimes ditatoriais, quer sejam culturalmente de direita, ou de esquerda. A opressão não tem cor. Quem defende a liberdade, tem de estar sempre nos antípodas daqueles regimes e quejandos. Todavia, nem sempre tal sucede: subsiste sempre uma carga social e cultural de pertença - e de “berço” - que conduz, invariavelmente, a um colossal maniqueísmo de análise.

Sim, gosto de toiros. Gosto de touradas. Cresci junto de um grande amigo vizinho bandarilheiro, que me levava para dentro da monumental Celestino Graça sempre que ia fazer a sua preparação física. Ele corria à volta na arena e eu, pequenote com 5/ 6 anos, jogava à bola contra as “tábuas”. Imagens que ficam de tempos onde ainda ninguém corria na rua.

Mais: gosto do toureiro a pé e dos toiros de morte em Espanha. Vá lá, vá lá, párem de gritar. Gosto sim e não há nada a fazer. Não sei se os meus filhos vão continuar esse gosto. É da inteira liberdade deles. Estou à vontade quanto a “tribos”: nunca fui forcado, nunca estive sequer perto de o ser, não conheço cavaleiros e não tenho nenhum familiar envolvido nessas ou em actividades conexas. Gosto de toiros e pronto.

Não vou deixar de afirmar que gosto de toiros e julgo que quem gosta deveria fazer o mesmo. Sempre que possível e publicamente. Porquê? Porque julgo que é hora de, no exercício saudável da liberdade, criticar de frente o politicamente correcto, exercendo o contraditório e gritar aos ventos que a “liberdade também passa por aqui”. Criticar o politicamente correcto é, tão só, ir contra opiniões que tentam afogar outras de se manifestarem.

Quanto à “festa”, a mesma também se deveria adaptar aos tempos que vão correndo, mudando para garantir a tradição: p.e., já ninguém aguenta espectáculos de 4 horas! Basta estar nas bancadas para ver que, depois de hora e meia, já todos bebem gin e cervejas e já poucos ligam à arena. Senhores dos toiros, mudem, porque, caso contrário, arriscam-se também um dia a ficar a falar sozinhos.

Pedro Pimenta Braz

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