Opinião | 13-08-2021 09:49

A cultura da estupidez

Quando Messi estava no Barça, esta gentinha criticava-o por não sair da sua zona de conforto (como diziam) e jogar noutra liga. Agora que saiu é criticado por não ter ficado no seu clube de sempre, apesar de ter aceitado o contrato que o Barça lhe propôs. Mas, para esta gentinha, uma redução de 50% não é suficiente para demonstrar o seu amor ao clube

Sendo sócio do Barça, foi doloroso ver partir Messi e sobretudo nas circunstâncias em que aconteceu, ou seja, no preciso momento em que Messi se preparava para assinar o contrato que o Barça lhe tinha proposto (redução de 50% com pagamento faseado), o que nos apanhou a todos de surpresa: sócios, directores, jornalistas e o próprio Messi.

Para se perceber o que aconteceu é importante, em primeiro lugar, não confundir a liga espanhola com a liga portuguesa. O que aconteceu ao Barça era impossível de acontecer na liga portuguesa onde Benfica, Sporting e Porto fazem o querem, se apropriam de todas as receitas, não há centralização dos direitos televisivos, nem fair-play financeiro preventivo.

Em segundo lugar, não se deve confundir também o fair-play financeiro da liga espanhola com o da Uefa. O fair-play financeiro da liga espanhola é preventivo e muito mais exigente, ao contrário do fair-play financeiro da UEFA que é punitivo. A UEFA avalia os gastos de cada clube nas três épocas anteriores e, se as despesas superarem as receitas, impõe sanções ao clube. A liga espanhola, pelo contrário, fixa todos os anos o tecto salarial de cada clube com base nas receitas da época anterior e, se a massa salarial exceder os 70%, o clube não pode inscrever novos jogadores. Ora, com a queda de 485 milhões de receitas por causa da pandemia, a massa salarial do Barça atingiu este ano os 110% das receitas, o que significa que não pode inscrever jogadores, enquanto não conseguir a redução para os 70%, o que não é fácil neste momento, tendo em conta os altos salários dos jogadores com contrato. É claro que a liga espanhola podia abrir uma excepção este ano, como aconteceu com a UEFA, tendo em conta a pandemia. Mas Tebas, presidente de LaLiga está em guerra aberta com o Barça e o Real Madrid por causa da Superliga Europeia e recusou-se a seguir o exemplo da UEFA.

Como todos sabemos, o futebol profissional é profissional, não é amador. Por isso, é natural que os jogadores e os treinadores não joguem nem treinem de borla. Até porque o futebol é uma das indústrias que gera mais receitas no mundo pelo que é natural que aqueles que geram mais receitas sejam os que mais ganhem.

No entanto, não deixam de ser esclarecedoras as reacções, quer no comentário desportivo, quer nas redes sociais, dessa gentinha, pequenina, mesquinha e invejosa que cresce como ervas daninhas neste jardim à beira-mar plantado.

Quando Messi estava no Barça, esta gentinha criticava-o por não sair da sua zona de conforto (como diziam) e jogar noutra liga. Agora que saiu é criticado por não ter ficado no seu clube de sempre, apesar de ter aceitado o contrato que o Barça lhe propôs. Mas, para esta gentinha, uma redução de 50% não é suficiente para demonstrar o seu amor ao clube. Messi, o jogador do mundo que gera mais receitas, tinha obrigação de jogar de borla?!... Uma coisa que nem o Barça lhe propôs, nem podia propor, para além de não resolver o problema (o problema não é o contrato de Messi, mas a impossibilidade de inscrevê-lo na Liga).

Além disso, será que existe algum pai capaz de exigir a um filho que fique a trabalhar de borla para si, como demonstração do seu amor e da sua gratidão, se houver uma empresa que lhe ofereça 50 milhões de euros por ano? Isso significa que o filho não gosta do pai?

No entanto, mesmo que Messi jogasse de borla, isso também não seria suficiente para esta gentinha. Porque, nesse dia, passavam a exigir que pagasse para jogar no Barça.

Em Portugal a inveja é elevada ao extremo da estupidez. Enquanto a cultura desportiva dos países civilizados é a do respeito pelos adversários, em Portugal, a cultura desportiva é da arrogância e da falta de respeito pelos outros e por si próprios, como o ataque a Alcochete, os comportamentos de Sérgio Conceição e o ataque ao autocarro do Benfica são um bom exemplo.

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