Opinião | 27-08-2021 09:45

Os Marqueses de Pombal

Portugal está ao nível de um pequeno comerciante, cheio de dívidas e com poucos rendimentos. Não é, pois, altura de continuar a alimentar sonhos de grandeza lançando obras megalómanas que não temos dinheiro para pagar ( : ) Aliás o interior do país é um hino ao desperdício: está cheio de cidades, vilas e aldeias onde não falta nada, excepto as pessoas para usarem os equipamentos.

O que se espera de um governante ou de um autarca é que aja como um bom administrador de condomínio, ou seja, causando o mínimo incómodo aos condóminos na fruição da sua fracção e das partes comuns. E, caso seja necessário levar a cabo uma intervenção de fundo, a mesma deverá ser programada não só para causar o mínimo incómodo mas, sobretudo, com o propósito de não se voltar a repetir tão depressa.

Acontece que eu estou com 60 anos de idade e os presidentes de câmara de Lisboa ainda não me permitiram que eu pudesse ir à Baixa sem estar constantemente a tropeçar num estaleiro de obras, obrigando-me a alterar percursos, a perder tempo, anos de vida e paciência. Aliás, os autarcas têm este péssimo hábito de trazer o condomínio permanentemente em obras, não dando aos cidadãos um minuto de sossego e de tranquilidade, achando-se no direito de destruir e alterar as cidades, a seu bel-prazer, sem dar satisfações a ninguém como se cumprissem um mandato divino.

Além disso, se, no século XVIII, as coisas eram feitas para durar toda a vida, no século XXI, tudo é efémero e com prazo de validade muito limitado, fruto de um mundo em mudança permanente. No entanto, os nossos 308 presidentes da câmara e demais governantes só agora chegaram ao século XVIII e vivem fascinados com o marquês de Pombal que querem imitar, a todo o custo.

Com efeito, não há presidente da câmara ou governante que não sonhe fazer uma obra para o milénio, com vista a perpetuar o seu nome. Se fôssemos um país rico, ainda nos podíamos dar ao luxo de ter estas excentricidades. Mas somos um país pobre, com uma mão-de-obra pouco qualificada, com baixa produtividade e com poucos recursos.

Se um pequeno comerciante pensar em recorrer ao crédito para aumentar a sua loja, tem de pensar, antes de mais, se a despesa compensa. Porque, se o rendimento que retirar da loja não for suficiente para pagar as prestações ao banco, mais vale não fazer a despesa, caso contrário fica sem o dinheiro e sem a loja. E se o crédito, então, for para fazer uma vivenda com piscina, o melhor mesmo é não se meter nisso, porque vai acabar por ficar com a dívida e sem a casa, a piscina e a loja. No entanto, os nossos governantes e presidentes da câmara olham para os fundos europeus com a mesma mentalidade do povinho que os elegeu: se um português entrar num hipermercado e vir as sacas de ração para cães com uma promoção de 80% de desconto, compra as sacas todas convencido de que fez um óptimo negócio, mesmo que não tenha nenhum cão.

Ora, Portugal está, ao nível, de um pequeno comerciante, cheio de dívidas e com poucos rendimentos. Não é, pois, altura de continuar a alimentar sonhos de grandeza lançando obras megalómanas que não temos dinheiro para pagar, a não ser à custa de muita miséria e sofrimento. Porque os custos das obras, ao contrário do que muito idiota pensa, não se esgotam com a sua realização, é necessário, depois, ter dinheiro para a sua manutenção, conservação e modernização. Além disso, é bom não esquecer que até a melhor auto-estrada só é investimento se tiver um fluxo de trânsito que a justifique, caso contrário é só despesa. Aliás, o interior do país é um hino ao desperdício: está cheio de cidades, vilas e aldeias onde não falta nada, excepto as pessoas para usarem os equipamentos.

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