Opinião | 28-01-2022 18:45

A batota eleitoral

Santana-Maia Leonardo

Este ano os portugueses puderam assistir a debates de 25 minutos entre os principais candidatos dos partidos com representação parlamentar. Acontece que, a seguir aos debates de tão curta duração, seguiam-se longos debates de várias horas sobre os referidos debates levados a cabo por comentadores-adeptos.

Não deixa de ser curioso verificar como as eleições portuguesas reproduzem os mesmos vícios do futebol português.

Este ano os portugueses puderam assistir a debates de 25 minutos entre os principais candidatos dos partidos com representação parlamentar. A justificação para os debates serem de tão curta duração assentava no facto de serem muitos debates. Até aqui parecia que o argumento não só tinha fundamento como era inatacável.

Acontece que, a seguir aos debates de tão curta duração, seguiam-se longos debates de várias horas sobre os referidos debates levados a cabo por comentadores-adeptos, tal como acontece com os jogos de futebol onde os jogos são comentados durante toda a semana por comentadores adeptos do Benfica, Sporting e Porto e onde os restantes clubes não tem assento nem direito a ter comentadores para defender os seus clubes.

Ora, isto é uma manipulação grosseira e um condicionamento grotesco do eleitorado, na esmagadora maioria pouco informado, na medida em que os líderes dos pequenos partidos vêem destruídos os seus argumentos por comentadores-pastores do centrão lisboeta, sem terem direito, nem tempo para defenderem as suas propostas e os seus pontos de vista.  Ou seja, aos líderes partidários concede-se-lhes 12 minutos para exporem as suas propostas e contraditarem as dos seus oponentes e aos comentadores-pastores do centrão lisboeta concede-se-lhes todo o tempo do mundo para manterem unido o rebanho contra as ténues investidas concedidas aos lobos maus que lutam contra o centrão.

Da mesma forma, é inadmissível que se consinta que um programa de humor numa televisão generalista, em pleno período eleitoral e sobre as eleições, faça censura, convidando todos os líderes, excepto um. Ricardo Araújo Pereira tem o direito de ter as suas preferências clubísticas e partidárias. Mas se quer levar a cabo um programa de humor sobre as eleições, durante o período eleitoral, das duas uma: ou não convida nenhum líder partidário ou convida todos. Até porque, ao não convidar André Ventura, transmite a sensação de cobardia que não é benéfica para a democracia. Com efeito, se Ricardo Araújo Pereira gosta tanto de fazer graçolas com André Ventura, podendo mesmo dizer-se que é o seu candidato preferido, devia ter coragem para o enfrentar cara a cara e gozar com ele num frente a frente.  A força da democracia reside precisamente na força da sua argumentação contra a argumentação totalitária. Quem tem receio do debate e da liberdade de expressão e, por isso, recorre à censura, são os regimes totalitários, não são as democracias, nem os democratas.

Não tenho a mínima simpatia nem por André Ventura, nem pelas suas ideias. Mas sou um defensor intransigente das democracias liberais, pelo direito à liberdade de expressão e pela igualdade de armas, para mais em período eleitoral. Partilho totalmente a opinião atribuída a Voltaire e que, não sendo dele, reproduz de certa forma o seu pensamento e o meu: «Não concordo com o que dizes, mas defenderei até à morte a liberdade de o dizeres.»

Sendo certo que não deixa de ser revelador da extrema hipocrisia dos comentadores e jornalistas da Corte, escandalizarem-se tanto com um populista que dá voz às queixas das populações mais desfavorecidas, quando são tão bajuladores de políticos de marca branca cuja única ideologia é dedicarem-se ao saque e à pilhagem dos fundos comunitários e do dinheiro dos nossos impostos, assim como de políticos que defendem, convictamente, os regimes democráticos da Coreia Norte e da ex-União Soviética. Santana-Maia Leonardo

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