Opinião | 19-07-2022 15:00

A comédia do novo aeroporto e o must da nova praia fluvial de Constância

A comédia do novo aeroporto e o must da nova praia fluvial de Constância

Estrondoso Manuel Serra d’Aire

Já não há adjectivos para classificar a novela do novo aeroporto de Lisboa, em cena há mais de meio século mas que não cessa de surpreender. O episódio do despacho do ministro das Infraestuturas a anunciar um aeroporto para já no Montijo e outro para daqui a uma dúzia de anos no Campo de Tiro de Alcochete (que se localiza grande parte em Samora Correia) e o primeiro-ministro a desautorizá-lo no dia seguinte e a obrigá-lo a revogar o despacho e a um humilhante mea culpa foi um momento digno dos grandes argumentistas deste século.
Não sei do que gostei mais: se das desculpas esfarrapadas de um homem que não se demite (aliás, há algum ministro que saia pelo seu pé?) e que se deixa pisar em público pelo chefe como se fosse um vulgar capacho à entrada de uma igreja; se da retórica e do calculismo político de um primeiro-ministro que parece um sempre em pé e que se consolou a desancar em público o ministro que tinha a mania que era esperto. No meio disto tudo ficou tudo na mesma e ninguém sabe ainda onde vai aterrar o novo aeroporto. Razão tem o presidente da Câmara de Benavente, Carlos Coutinho, parte interessada neste imbróglio, que se confessou espantado com este episódio que adjectivou de hilariante e digno de um filme de comédia. E olha que os comunistas não são propriamente pessoas de riso fácil…
Em Constância o município decidiu criar uma praia fluvial no rio Zêzere no ano de pior seca das últimas décadas com o principal acesso ao rio em obras e, cereja no topo do bolo, com esgotos a correr a céu aberto a uma ou duas centenas de metros, no rio Tejo, junto à confluência dos dois rios. Se no caso do novo aeroporto os nossos políticos têm andado com tibiezas e hesitações há décadas, na Vila Poema é ao contrário: quando todas as variáveis parecem estar contra é quando a maioria socialista na câmara opta por criar uma zona balnear para banhistas. E se há quem pague para tomar banhos de lama em spas, em Constância, à borla, a dois passos das espreguiçadeiras e guarda-sóis, podem ter a experiência radical de chafurdar no meio da trampa e partilhar o momento com as sempre presentes fataças. Um must!
Fiquei a saber que Portugal vai participar na reconstrução de escolas na Ucrânia e fiquei preocupado. Já não bastava aos ucranianos lidarem com os traumas da invasão russa e ainda tinham de levar com uma notícia destas. Espero que não leiam jornais portugueses, nomeadamente O MIRANTE, senão já sabem o que os espera. Lá para o fim do século devem ter as escolas prontas, se entretanto não houver um holocausto nuclear antes. Que os sucessivos governos portugueses prometam obras e mais obras e depois não cumpram – e as escolas são disso um bom exemplo – ainda vá que não vá: fica tudo entre nós. Agora exportar a nossa inércia e desfaçatez, ainda para mais para um país depauperado e destruído, parece-me maldade pura e desnecessária. Pobres ucranianos…
Saudações do acalorado
Serafim das Neves

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