Opinião | 01-07-2022 13:25

<strong>A Estrada da Morte</strong>

Santana-Maia Leonardo

Comecei a fazer a estrada que liga Ponte de Sor a Abrantes em 1965 para vir visitar os meus tios a Mouriscas. E a verdade é que, nestes 60 anos, o traçado continuou a ser precisamente o mesmo. Quando fui candidato a presidente da câmara de Abrantes em 2009, uma das grandes bandeiras eleitorais do PS foi precisamente a construção do troço do IC9 que ligava Abrantes a Ponte de Sor ( : ) José Sócrates teve o descaramento de se deslocar a Abrantes para jurar, por todos os santinhos e ao som do foguetório socialista, na presença da candidata socialista que a construção desta ligação era uma prioridade do Governo.

No passado dia 23 de Junho, na estrada que liga Abrantes a Bemposta, voltou a repetir-se um brutal acidente de viação que envolveu um pesado de mercadorias e uma viatura ligeira, onde seguia uma família com três filhos, tendo morrido um adulto, com 36 anos, e uma criança, de 8. Por sua vez, no passado dia 11 de Novembro, no mesmo troço, um trágico acidente de viação entre um veículo pesado e uma carrinha de transporte de trabalhadores agrícolas fez duas vítimas mortais e seis feridos graves.

Comecei a fazer a estrada que liga Ponte de Sor a Abrantes em 1965 para vir visitar os meus tios a Mouriscas. E a verdade é que, nestes 60 anos, o traçado continuou a ser precisamente o mesmo. O único que mudou foi o tráfego rodoviário que aumentou brutalmente, sobretudo o trânsito de veículos pesados, o que provocou a deterioração do piso, sendo frequente a existência de buracos contínuos no alcatrão durante o período das chuvas.

Além disso, trata-se de uma estrada cheia de passagens estreitas onde é impossível o cruzamento de um ligeiro com um pesado, assim como de curvas e contracurvas apertadas que não permitem a um veículo pesado com atrelado efectuá-las sem invadir a semi-faixa contrária. E, para agravar ainda mais a situação, trata-se de uma estrada sem bermas, o que significa que o condutor do veículo que apanha com um veículo pesado de frente a invadir a sua semi-faixa de rodagem fica sem qualquer possibilidade de evitar a colisão, porque não tem qualquer escapatória.

Quando fui candidato a presidente da câmara de Abrantes em 2009, uma das grandes bandeiras eleitorais do PS foi precisamente a construção do troço do IC9 que ligava Abrantes a Ponte de Sor e que incluía a travessia do Tejo na zona de Tramagal com acesso directo à A23. E, apesar de ser evidente que se tratava de uma promessa eleitoral para ser metida na gaveta após das eleições, como eu disse nos dois debates em que participei, o primeiro-ministro José Sócrates teve o descaramento de se deslocar a Abrantes para jurar, por todos os santinhos e ao som do foguetório socialista, na presença da candidata socialista Maria do Céu Albuquerque (hoje, Maria do Céu Antunes, ministra da Agricultura), que a construção desta ligação era uma prioridade do Governo e ia ser uma realidade durante o próximo mandato.

Durante o meu mandato como vereador da Câmara de Abrantes (2009-2013), mostrámos a nossa indignação e revolta pela suspensão deste projecto, quer em artigos de opinião, quer na Assembleia Municipal, quer nas reuniões de câmara.

Maria do Céu foi eleita e reeleita, por mais duas vezes, presidente da câmara de Abrantes, foi ministra da Agricultura no 1.º, 2.º e 3.º Governo de António Costa e a variante que liga Abrantes a Ponte de Sor continua por construir.

Mas isto só mostra o cinismo dos nossos governantes que apenas se preocupam em fazer promessas para ganhar as eleições sem ter a mínima preocupação em cumpri-las. A Câmara de Abrantes é socialista, a Câmara de Ponte de Sor é socialista e a ministra da Agricultura foi a presidente da Câmara de Abrantes, durante três mandatos, assentes na promessa da construção desta variante e com a consciência da sua necessidade imperiosa, pelo que não existe qualquer justificação para que ainda não se tenha construído esta variante, por forma a evitar que o actual troço Abrantes – Ponte de Sor continue a ser uma verdadeira Estrada da Morte.

De uma coisa, no entanto, tenho a certeza: se o ministério da Agricultura fosse em Elvas, em vez de ser em Lisboa, esta variante já estava construída. Este é o grande drama do nosso país. Se os políticos e directores-gerais da Administração Pública atingissem o topo das suas carreiras em Vila Real, Guarda, Portalegre ou Beja, ninguém ouvia falar de desertificação do território ou de falta de coesão territorial. Mas como vão todos para Lisboa…

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