Opinião | 28-06-2022 11:59

A evaporação dos obstetras, as ilhas ecológicas do espaço e a balada dos melões

A evaporação dos obstetras, as ilhas ecológicas do espaço e a balada dos melões

Sardónico Serafim das Neves

Fiquei desiludido com a primeira edição do Concurso da Canção Rural que floresceu em Pinhel, Cidade do Vinho. E no entanto já estava avisado, a partir do momento em que li que o título da canção que representava Santarém era “Fiz-te um Poema” e não, “Fiz-te uma punheta de bacalhau”, ou “Fiz-te marmelada para a ceia”, por exemplo.
A culpa é da minha pícara imaginação e de tanto ouvir as ruralidades da cantora Rosinha, nomeadamente o “Eu faço de Coentrada” “ ou “Quem Mete a Minhoca Sou Eu”. Tivesse eu percebido que o circunspecto Arruda dos Vinhos, ali do Cartaxo, também estava metido naquilo e teria seguido a transmissão online com menos sobressalto.
E a minha desilusão só não foi maior porque na mesma altura assisti, tal como tu e milhões de boquiabertos portugueses, ao fenómeno da evaporação dos obstetras. Também há quem diga que foram raptados por extra-terrestres mas não acredito. Aquilo é mais coisa da ciência do que da ficção científica.
As notícias não paravam de pipocar na televisão. Fechou a urgência de obstetrícia aqui, agora ali e também acolá e mais uma e outra…e aquela e ainda mais aqueloutra. Quem havia de dizer que num país onde não nascem crianças havia tantas urgências de obstetrícia.
Fenómenos atrás de fenómenos, mas tudo explicável pela ciência, tanto a evaporação dos obstetras como a multiplicação dos pães…perdão, das urgências de obstetrícia. Será que são tantas porque também atendem homens?! Com estas modernices, já nem digo nada para não fazer figura de parolo.
E à porta de cada local de evaporação médica, digamos assim, estavam plantadas multidões de extasiados jornalistas científicos a parir desalmadamente informações, declarações e convulsões, mesmo correndo o risco de precisarem de alguma cesariana vocabular e não terem obstetra nenhum para os auxiliar.
Mais tarde descobri que os obstetras já tinham regressado ao estado sólido e estavam de novo prontinhos para atender todas as grávidas e grávidos de Portugal e arredores. Respirei fundo. O que nos vale é termos agentes funerários imunes à evaporação. Já viste se em vez de urgências para grávidas fechassem aquelas agências funerárias? Era de caixão à cova, digo eu.
Mas há outros problemas que me apoquentam. No Fórum do Turismo, que decorreu em Tomar, o presidente da câmara do Fundão afirmou que o interior do país perde uma pessoa por minuto. Pus-me a fazer contas por alto e descobri que o autarca é uma espécie de Elvira Fortunato da demografia.
Pois bem, se o interior perde uma pessoa por minuto isso significa que perde sessenta pessoas por hora, 1.440 por dia, incluindo sábados, domingos e feriados, 525.600 por ano e 5.256.000 (cinco milhões, duzentos e cinquenta e seis mil) por década. Depois disto só nos resta mesmo fugir para Lisboa.
O presidente da agência espacial portuguesa (Portugal Space) disse há dias que Portugal tem condições para tratar do lixo espacial que está em órbita. Ou seja, não conseguimos resolver o problema do lixo em terra mas no espaço, sem a força da gravidade, vamos ser uns ambientalistas do caraças!!!

Saudações incandescentes
Manuel Serra d’Aire

Mais Notícias

    A carregar...
    Logo: Mirante TV
    mais vídeos
    mais fotogalerias

    Edição Semanal

    Edição nº 1660
    17-04-2024
    Capa Vale Tejo
    Edição nº 1660
    17-04-2024
    Capa Lezíria/Médio Tejo