Opinião | 05-10-2022 06:59

Aeroporto?

P.N.Pimenta Braz

Fica-se, pois, com aquela desagradável sensação que alguém anda a gozar com o pagode; que alguém anda a empurrar com a barriga uma decisão que até já foi tomada vezes sem conta ( : ) Sonho mau: eu apostava que em Dezembro de 2023 tudo vai ser de novo adiado. É tudo tão previsível que até dói.

TAP e aeroporto desenham e consubstanciam o “pendant” da indigência do nosso triste fado colectivo. Nem levantamos voo, nem temos local para aterrar. Vegetamos deleitados no limbo do faz-de-conta, da pura ficção.

Perante tamanha indecisão e controvérsia indecorosas, todos nós passámos a perceber de actividade aeronáutica. Já não bastava o futebol e a política; agora também sabemos de aeroportos. Quem já não ousou emitir opinião sobre o celebérrimo novo aeroporto, seja no hemiciclo do Palácio de S.Bento, seja numa qualquer recôndita tasca algures no Portugal profundo?

As movimentações rocambolescas e tristes que decorrem à volta da temática da construção de um novo aeroporto ilustram, de modo extraordinariamente eloquente, os motivos pelos quais este pequeno país se arrasta cada vez mais, sem apelo nem agravo, para a cauda da Europa: desgoverno endémico e murcha gente.

Só assim se compreende que o Dr. Costa se tenha atrevido, sem nenhuma indignação nacional, a formar uma enésima comissão para estudar uma enésima localização de um aeroporto com o objectivo de elaborar mais um enésimo conjunto inconsequente de putativos novos estudos.

Perante este desaforo, uma vez mais os portugueses comportam-se como um acervo de gente dormente e desmemoriada: caros concidadãos e para a eventualidade de estarem distraídos, informo, serenamente, que já existem os estudos técnicos pretendidos pelo Dr. Costa – elaborados por distintas comissões e instituições – sobre as localizações de Rio Frio, Ota, Alcochete, Montijo e mesmo sobre a não construção de um aeroporto. Estão devidamente identificados e oneraram densamente o erário público! Algumas localizações até têm mais do que um estudo.

Bem a propósito, gostaria de destacar uma entrevista, na TSF, ao então candidato a bastonário da Ordem dos Engenheiros – Prof. Fernando Branco -, no qual o mesmo explica, límpida e transparentemente, tudo o que está em causa sobre esta matéria. Cristalino! Ah, o antónimo de cristalino pode ser fétido…

Só não existe é um estudo sobre a hipótese de Santarém, o único projecto que carece ainda de uma análise técnica – já agora, permitam-me um conselho aos seus promotores: se pretendem tornar credível o empreendimento, convinha então cativar e enamorar a opinião pública, divulgando, até à exaustão, todas as premissas que o envolvem. Contudo, tudo o resto já foi estudado.

Se tudo já foi estudado, porquê novos estudos? E ainda acreditam na história da carochinha? Encarnicem-se mulheres e homens de Deus!

Fica-se, pois, com aquela desagradável sensação que alguém anda a gozar com o pagode; que alguém anda a empurrar com a barriga uma decisão que até já foi tomada vezes sem conta, formalmente, pelos respectivos Conselhos de Ministros – Ota, Alcochete e Portela + Montijo; que o Dr. Montenegro foi também “abraçado pelo urso” com a promessa de uma decisão final em Dezembro de 2023, caindo assim numa das conhecidas e previsíveis armadilhas políticas arquitectadas pelo fino e sonso Dr. Costa; e que, provavelmente, não há é dinheiro para nenhum aeroporto e que o revogar consecutivo de decisões com o travestir de novas, evidencia que o Dr. Costa não quer ficar sozinho, com o ónus dessa confissão.

Sonho mau: eu apostava que em Dezembro de 2023 tudo vai ser de novo adiado. É tudo tão previsível que até dói.

P.N.Pimenta Braz

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