Crónicas do Brasil | 18-07-2022 14:52

Bala com Bala

Vinicius Todeschini

Não existe exagero em quem diz que o Brasil está exposto e sangrando como nunca, porque agora são claras as intenções das alas mais reacionárias do país em estratificar o processo de exclusão social e firmar o país como o campeão absoluto em imobilidade social.

Começou para valer o processo de eleições no Brasil e como se poderia esperar da maneira que o bolsonarismo gosta, com um assassinato. O tesoureiro do PT em Foz do Iguaçu, no estado do Paraná, Marcelo Aloizio de Arruda foi alvejado pelo policial penal federal e bolsonarista, José da Rocha Garanho. O crime ocorreu na festa de aniversário de Marcelo e as ocorrências que culminaram com a morte de uma e o ferimento de outro, porque Marcelo ainda baleado no chão conseguiu alvejar José, estão sendo investigadas, mas estão eivadas de ódio sem sentido e falta de valores civilizatórios, porque é assim que bolsonarismo trata esses valores, com bala.

                O objetivo maior é matar à democracia, assassiná-la e não há nenhuma metáfora nisso, porque esse governante não tem projeto para o país, muito menos para o povo, na Marcha para Jesus, realizada no centro de São Paulo neste domingo, os mendigos e seus pertences foram retirados rapidamente para não mostrar as mazelas da miséria de um país abandonado a sua própria sorte, enquanto o governo de dedica a criar mitologias vazias para justificar os seus atos. Há poucos meses da eleição, onde Bolsonaro não consegue emplacar nas pesquisas, montaram o chamado “Pacote de Bondades” que dura só até o final do ano, com o objetivo claro de tentar mudar o quadro negativo. Chegaram a fazer uma sessão de um minuto e meio na Câmara Federal às 06:30 da manhã para votar o tal de “Orçamento Secreto”, um dos maiores golpes na Constituição desse país.

                O Brasil passa por uma fase de exposição de suas verdadeiras faces e muitos que desconheciam o verdadeiro país em que viviam podem estar assustados, mas quem conhece o país profundamente se pergunta: por que demorou tanto tempo para esta gente se mostrar? Na verdade, isso também é um ledo engano, porque o Brasil já passou por isso em outros momentos, apenas a nossa memória histórica nunca foi cultuada e respeitada o suficiente para que se tenha aprendido as lições. A política de troca-troca entre governo e seus aliados fere qualquer suscetibilidade e não tem nenhuma preocupação com qualquer tipo de ética, porque seus seguidores acham que estão lutando contra um “movimento universal” para acabar com a família e as religiões. Como se vê, para eles religião é superstição.

                A previsão que tenho feito sobre o futuro próximo que viveremos está se confirmando, infelizmente. O país nunca sedimentou seus valores democráticos, nunca quis ver o racismo velado e hipócrita que aqui se desenvolveu, jamais olhou para as realidades paralelas que coexistiram com o enriquecimento e desenvolvimento de alguns setores da economia. Ou seja, o Brasil sempre gostou de olhar para fora e não para dentro, sempre no centro, assim como a sua capital, evitando enfrentar os seus problemas estruturais e a conjuntura perversa de bases oligárquicas que permanecem no poder.

                Bolsonaro, sua família e seus seguidores inauguraram uma nova fase para todos os brasileiros e, nessa fase, a violência em nome do delírio bolsonarista, é perfeitamente natural. Bolsonaro é um sujeito violento e a sua justificativa para exercê-la é a liberdade de expressão. Trocar, inverter e acreditar em qualquer coisa sem prova desde que esteja dentro desse espectro é válido para ele. O limite para ele é o poder discricionário em suas mãos e a eliminação dos problemas sociais através de um apartheid social, onde os pobres corresponderão ao segmento a ser segregado e eliminado por exaustão física e mental, ou seja: pela graduação progressiva de miséria a que serão expostos.

                Não existe exagero em quem diz que o Brasil está exposto e sangrando como nunca, porque agora são claras as intenções das alas mais reacionárias do país em estratificar o processo de exclusão social e firmar o país como o campeão absoluto em imobilidade social.  Manter o país aberto ao capital especulativo, apoiando o enriquecimento sem limites dos milionários, indefinidamente, é um projeto que precisa de um governo discricionário e sem ética como o atual. Muito embora, o presidente Lula nunca tenha sido uma ameaça real ao establishment, o fato de ter criado políticas que criaram mobilidade social no país foi o suficiente para cair em desgraça, ser perseguido e preso. Por aí se percebe que as forças reacionárias brasileiras nunca mudaram em seu substrato apenas em sua forma de atuar.

Vinicius Todeschini 11-07-2022

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