Opinião | 08-11-2022 06:59

Dissertação em torno do fenómeno da primeira pedra e a utilidade do Exército no combate à seca

Dissertação em torno do fenómeno da primeira pedra e a utilidade do Exército no combate à seca

Sapiente Manuel Serra d’Aire

Sapiente Manuel Serra d’Aire

Falas na tua última epístola do fenómeno das reinaugurações de coisas que já estão construídas há séculos, e que entretanto receberam uma operação plástica, como um bom exemplo de reciclagem. Concordo inteiramente. Há que mostrar obra feita. E não havendo obra nova para mostrar, então que se enfeite e recauchute a velha. Não são só as senhoras balzaquianas que têm o direito (e eu diria mesmo o dever) de se cuidarem com esmero para recuarem uns aninhos na aparência. As infraestruturas, sejam campos de futebol, igrejas, pavilhões ou lupanares, também têm direito a uma existência digna.
Para além das reinaugurações das coisas inauguradas há muitos anos, há outro fenómeno que me é particularmente caro e ao qual dedico uma média de três segundos diários do meu precioso tempo. Falo das primeiras pedras. Primeiro que tudo dizer que habitualmente fala-se em lançamento da primeira pedra, mas não é bem isso que acontece naquelas cerimónias para inglês ver, pois assim os solenes actos assemelhar-se-iam aos comportamentos das claques de futebol mais trogloditas. Não! As primeiras pedras são pacificamente colocadas no local onde se espera que um dia venha a nascer um edifício, uma infraestrutura, qualquer coisa construída. E geralmente é fixada lá uma plaquinha a assinalar os nomes das doutas personalidades que participaram em tão relevante acto e a descrição do que ali se pretende edificar.
O problema é que, muitas das vezes, a obra nunca chega a nascer. E olha que não estou a exagerar. Só em Santarém arranjo-te dois ou três exemplos, desde sedes de associações empresariais a complexos desportivos que se ficaram pela primeira pedra. E ainda bem que ficaram, pois é pura arqueologia para nos lembrar que quando o homem sonha a obra nasce, mesmo que se fique só por uma singela pedrinha e uma placa com nomes luzidios. Aliás, e não podia deixar de dizer isto, quem nunca errou que atire a primeira pedra…
Um chavão pós-moderno sentencia que não há coincidências e eu tendo a concordar com ele. Deixar as coisas nas mãos do destino é abdicarmos do nosso livre arbítrio e da nossa capacidade de influenciar o presente e o futuro. É por isso que ninguém me tira da cabeça que o Exército tem sido determinante no combate à seca. Não sei como o fizeram, mas a verdade é que assim que os militares assentaram arraiais na capital de distrito para as comemorações do Dia do Exército, que duraram quase uma semana, o dilúvio abateu-se sobre o Ribatejo. Choveu a potes e não foram granadas nem bombas, foi mesmo água. Há quem organize procissões, há quem encene coreografias para chamar a chuva (e já está mais do que na hora dos nossos ranchos folclóricos investirem nesse campo) e agora temos a tropa, que mostrou uma eficácia sem precedentes, ao ponto de terem de cancelar actividades devido às cargas de água (e não de cavalaria).
Uma continência à maneira do
Serafim das Neves

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