Opinião | 23-07-2022 09:12

No dia dos avós

Santana-Maia Leonardo

António Maria de Santana Maia começou por ser meu avô e acabou por ser meu pai e o meu mestre. Apesar de ser de pequena estatura (1,60m de altura), foi até hoje o único homem ao pé do qual eu, com o meu 1,92m, me senti sempre pequeno.

No dia 26 de Julho de 1990, dia de Sant’Ana e dia dos avós, faleceu o meu avô Santana, o homem que mais me marcou e que eu mais admirei em toda a minha vida. António Maria de Santana Maia, de seu nome, nasceu no Casal da Figueira, em Mouriscas, no dia 26 de Maio de 1903. Filho de Severino Lopes Maia Pita e Maria Lopes, teve 6 irmãos, todos nascido no Casal da Figueira: João Gualberto Santana Maia (médico em Mouriscas e dono do Colégio Infante de Sagres), Manuel Agostinho Santana Maia (médico no Hospital da Misericórdia de Abrantes), Ermelinda Lopes Maia, Eugénia Lopes Maia, Martinha Lopes Maia e Maria José Lopes Maia.

Como curiosidade, o apelido dos três irmãos, que, em princípio, também deveria ser “Lopes Maia” como o das irmãs, foi alterado para “Santana Maia”, por influência do Monsenhor Martinho Lopes Maia, irmão de Severino Lopes Maia Pita, que os ajudou a educar e que fez questão, desta forma, de recuperar o nome “Santana” da sua família materna, que, entretanto, tinha ficado pelo caminho.

António Maria de Santana Maia começou por ser meu avô e acabou por ser meu pai e o meu mestre. Com efeito, com a morte do meu pai, no dia 1 de Dezembro de 1967, com 37 anos de idade, quando vivíamos em Setúbal, a minha mãe, com 29 anos de idade, eu, com 9 anos de idade, e a minha irmã, com 7 anos de idade, viemos viver para casa dos meus avós maternos em Ponte de Sor.

Dinheiro, propriamente dito, nunca me deu. Mas aprendi com ele que só dá dinheiro aos filhos quem não tem mais nada para lhe dar. Ou, como ele me dizia: «só se deve dar dinheiro a um filho quando ele não precisar dele».

Quando o conheci, já era um homem considerado e respeitado não só em Ponte de Sor, onde fixou residência, como no distrito de Santarém e Portalegre. Advogado brilhante e conceituado, muito para além das fronteiras destes dois distritos, foi ainda notário, presidente da Câmara Municipal de Ponte de Sor e agricultor.

Como Presidente da Câmara, cargo que ocupou apenas durante um curto período e com a condição de não se filiar no partido do regime, a ele se deve o primeiro Plano de Urbanização de Ponte de Sor, conseguido contra muitas resistências, em virtude do mesmo prever a expropriação de terrenos de algumas famílias importantes e com peso em Ponte de Sor. E como Presidente da Câmara soube ainda resistir à tentação de utilizar o cargo e a sua influência para impedir, com o eclodir da guerra colonial em 1961, que o seu filho embarcasse para o Norte de Angola num dos primeiros contingentes de soldados portugueses. Enquanto, para uma larga maioria, os cargos públicos são um meio para obter favores, para outros, impõem-lhes o dever moral de dar o exemplo.

Homem íntegro, de palavra, de convicções e de coragem, soube guiar toda a sua vida pelos padrões morais do berço humilde onde nascera. A sua cultura impressionava. Nunca houve uma palavra, um conceito, uma dúvida, um livro de que eu lhe falasse ou que lhe perguntasse que ele não conhecesse ou que não soubesse a resposta. Apesar de ser de pequena estatura (1,60m de altura), foi até hoje o único homem ao pé do qual eu, com o meu 1,92m, me senti sempre pequeno.

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