Opinião | 17-06-2022 09:59

O Coração e o Ritmo

Isabel Monteiro

O coração é o “motor” do corpo humano. Esperamos sempre que ele cumpra a sua função e acaba por ser um órgão muitas vezes esquecido, até surgirem sintomas de alguma disfunção.

O coração é o “motor” do corpo humano. O coração tem o seu próprio sistema elétrico e bate (contrai), em média, cem mil vezes por dia, três milhões de vezes por mês. Esperamos sempre que ele cumpra a sua função e acaba por ser um órgão muitas vezes esquecido, até surgirem sintomas de alguma disfunção.

Já escutou os batimentos do seu coração? Costuma medir a pulsação? Sabe o que são arritmias?

Uma arritmia é um distúrbio do ritmo cardíaco, em que temos um batimento muito rápido, muito lento ou irregular.

Alguns dos fatores de risco associados a este problema são o tabagismo, o stress diário, o consumo excessivo de bebidas alcoólicas, o sedentarismo ou, por outro lado, a atividade física exagerada, o consumo de drogas, a toma incorreta de alguns medicamentos e, em algumas pessoas, o excesso de cafeína.

Podem aparecer em qualquer sexo e idade e mesmo em corações saudáveis. No entanto, tendem a surgir com maior frequência na população adulta e estão frequentemente associadas a outras doenças do coração.

As arritmias podem ser mínimas, isoladas e sem significado clínico, como é o caso de uma extrassístole, ou serem graves, pondo em risco a vida, de forma imediata, como acontece na fibrilhação ventricular, ou de forma prolongada, como se verifica na fibrilhação auricular, que muitas vezes acompanha a insuficiência cardíaca. 

Alerta: A morte súbita cardíaca é uma das principais causas de morte nos países desenvolvidos

Metade dos doentes cardíacos morre subitamente e a principal patologia é a cardiopatia isquémica/enfarte do miocárdio. A grande maioria morre devido a uma arritmia associada (como a fibrilhação ou a taquicardia ventricular).

Para evitar a morte súbita cardíaca é necessário controlar os fatores de risco predisponentes para a cardiopatia isquémica e identificar os doentes que estão em maior risco e que podem beneficiar de um cardioversor/desfibrilhador implantável.

A fibrilhação ventricular, uma das arritmias responsável pela morte súbita cardíaca, só tem um tratamento eficaz, que é a desfibrilhação realizada por um choque elétrico o mais rápido possível após o início do episódio. É por isso necessário localizar os desfibrilhadores automáticos externos em locais públicos de maior risco e ensinar à população as manobras básicas de suporte de vida, nas escolas, nos ginásios e nas empresas.

O que é a fibrilhação auricular? Como se manifesta?

A fibrilhação auricular é a arritmia mantida mais frequente, na qual a frequência cardíaca fica muito variável, com o pulso irregular e

frequentemente rápido. Resulta de uma atividade elétrica das aurículas caóticas e pode causar cansaço fácil, palpitações e sensação de mal-estar, por vezes muito incomodativa. Tem uma maior prevalência nos homens e nas faixas etárias mais idosas (maior que 2% depois dos 65 anos), sendo a hipertensão arterial mal controlada uma das principais causas para o seu aparecimento.

Esta arritmia aumenta o risco de Acidentes Vasculares Cerebrais (AVC) – pode ser a causa de 20% dos AVC, insuficiência cardíaca, demência e mortalidade, que duplica nesta população. O diagnóstico atempado desta arritmia é fundamental, dado que parte dos indivíduos que apresentam fibrilhação auricular podem não se aperceber que têm a arritmia. Nos doentes com risco acrescido de AVC é essencial iniciar a terapêutica com anticoagulantes, a fim de prevenir esses eventos, muitas vezes dramáticos.

Quais são os sinais de alerta para a bradicardia? 

A presença de bradicardia, definida por frequência cardíaca inferior a 60 batimentos por minuto, pode ser normal, como nos indivíduos com prática regular de atividade física intensa. Contudo, quando acentuada (menos de 50 batimentos por minuto), pode causar tonturas, cansaço fácil, falta de ar, perturbações da memória e da atenção e até perda de conhecimento, com ocorrência de desmaios.

Nos doentes sintomáticos, na ausência de medicamentos ou alterações endócrinas ou metabólicas significativas, poderá estar indicado implantar um pacemaker. Os pacemakers são dispositivos altamente seguros e eficazes, de pequena dimensão (passam despercebidos porque são implantados debaixo da gordura subcutânea), colocados sob anestesia local, dispondo de baterias de longa-duração (superior a 10 anos). Estes aparelhos permitem uma vida completamente normal, sem quaisquer limitações.

Diagnosticar e tratar as arritmias

O Serviço de Cardiologia do Hospital CUF Santarém dispõe de um Departamento de Arritmologia, que inclui uma consulta específica de Arritmologia e exames complementares para o diagnóstico e caracterização dos vários tipos de arritmias, nomeadamente o Electrocardiograma (ECG), o Holter de 24h e o Detetor de eventos automático de 3 semanas. Estes exames apresentam uma alta acuidade diagnóstica e permitem uma correlação de sintomas como palpitações ou sincopes com arritmias e também a deteção de fibrilhação auricular assintomática, potencial causa de AVC. Nos casos de bradiarritmias sintomáticas com indicação para implantação de pacemaker definitivo, esta intervenção, assim como o posterior follow-up, pode ser realizada no departamento de Arritmologia.

*Isabel Monteiro, Coordenadora de Cardiologia do Hospital CUF Santarém

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