Opinião | 16-09-2022 17:59

Reviver a bela tradição do calote, criar um pelouro municipal da consulta médica e ver televisão à luz da vela

Reviver a bela tradição do calote, criar um pelouro municipal da consulta médica e ver televisão à luz da vela

Indomável Serafim das Neves

Indomável Serafim das Neves
Não me admiro nada que Azambuja venha a ostentar, em breve, o título de Capital do Calote, com ou sem placas alusivas a enfeitar as entradas na terra. Depois de há uns anos ter ficado a saber que os inquilinos da habitação social estavam a dever mais de 250 mil euros de rendas, li agora que a dívida dos pais das crianças, relativas às refeições escolares, já vai em 49 mil euros.
E se no primeiro caso as rendas são de 10 ou 50 euros mensais, cada almoço na cantina, dos mais caros, digamos assim, não chega a um euro e meio, custando os mais baratos metade daquilo. Penso que isto diz bem do esforço popular para a atribuição do tal título de Capital do Calote à sua terra, provavelmente em mais uma edição das Maravilhas de Portugal.
Para quem possa querer desvalorizar o feito com as habituais distorções étnicas, diga-se desde já que, no caso das refeições, as dívidas referem-se a quase trezentas crianças e não há por aqueles lados segmentação populacional que tenha tanta filharada…nem lá perto. Ou seja, não são só uns a puxar para o calote. São mais, muitos mais. É um esforço transversal à sociedade, como diriam os analistas.
E no caso das rendas não pagas havia devedores que estavam a trabalhar (e repito trabalhar para não ficarem dúvidas) em Lisboa ou França, por exemplo, usando a casa da Azambuja como casa de férias. Se não pagavam não era por falta de dinheiro, mas apenas para colocar Azambuja no tal pódio.
E ainda há quem diga que o bairrismo está em decadência. Nem o bairrismo, nem a ancestral tradição do calote, que as tradições são para defender, digo eu. Depois da Feira de Maio, de homenagem ao campino, será que ainda vamos ter a Feira de São Nunca, de homenagem ao caloteiro bairrista?
E não saio de Azambuja sem outro elogio à capacidade imaginativa das suas gentes. Não é que os vereadores da oposição descobriram que a falta de médicos de família é culpa da maioria que gere o município? É muito p’rá frente ou não é?
Já tinha ouvido dizer que a culpa era dos governos antigos e do Governo de agora; dos privados e da falta de bons ordenados no Serviço Nacional de Saúde; dos doentes que batem nos médicos e dos médicos que não querem trabalhar; do envelhecimento da população e da desertificação do interior ostracizado, ou lá o que é, mas afinal andava tudo enganado. É da câmara, Serafim. Da senhora câmara, pois claro.
Resta saber se uma simples transferência de competências da Ordem dos Médicos para o Gabinete Municipal da Protecção Civil e a criação de um pelouro da receita médica e do controle da diabetes, resolvem o problema?
E termino com o entusiasmo nacional pela entrada de mais de cinquenta mil jovens no ensino superior. Percebo que os licenciados fazem muita falta, aqui pela região, para trabalharem como caixas de supermercados, mas todo o progresso tem o seu custo. E depois quem vai construir casas, arranjar canalizações, varrer as ruas e cavar batatas?
Um abraço iluminado
Manuel Serra d’Aire

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