Opinião | 22-06-2022 16:49

Saúde

P.N.Pimenta Braz

Hoje em dia já existe uma saúde para os pobres – o SNS -, outra para os remediados – os funcionários públicos com a ADSE – e uma outra, de melhor qualidade, para quem pode pagar seguros de saúde – incluindo-se nestes a maior parte dos nossos políticos. As companhias de seguros devem idolatrar a Dr Marta e o Dr Costa, verdadeiros beneméritos e obreiros do maior crescimento neste sector segurador desde sempre.

O caos em que caiu o Serviço Nacional de Saúde – SNS – só pode surpreender os incautos, visto que os inscientes, esses, continuam e continuarão a fazer o que de melhor sabem: fingir. Os primeiros porque andam sempre com a cabeça na lua, enquanto que os segundos, cinicamente, mentem, fingindo-se escandalizados ou incomodados com a situação. Neste segundo grupo inclui-se todo o governo e muitos deputados das oposições.

O estado lastimável a que chegou o SNS, já tem anos e não é algo que brotou inesperadamente do nada. Os problemas subsistem, bem visíveis e apenas um alucinado e triste dogmatismo ideológico o tem tentado esconder.

Só que o país não pode ficar impávido e sereno a imaginar épicas trovas revolucionárias cantadas por sentenciosa canora, embevecida por Marx, que mais não pretende do que tentar domar tão pobre povo.

Os problemas estruturais exigem respostas estruturais, difíceis e corajosas e não pífias comissões para soluções de contingência. Uma vez mais está a tentar varrer-se o lixo para debaixo do tapete.

Os recursos são escassos e têm de se fazer escolhas. O que é uma chatice, mas é condição para caminhar. Ora, fazer escolhas é gerir; e gerir é optar, confrontar, reestruturar, reformar e monitorizar/ controlar.

Nesse sentido, importará então recorrer a todos os recursos disponíveis existentes na área da saúde – sejam eles públicos, privados ou sociais -, convocando todos os actores em presença, de modo a conseguir optimizar-se o resultado final.

A gestão dos hospitais públicos com PPP’s colocou a nu, cruamente, a ineficácia da gestão pública de muitos dos estabelecimentos hospitalares públicos. A solução não é acabar com a gestão pública, mas sim melhorá-la radicalmente, modernizando-a, dotando-a de autonomia de decisão.

Porque motivo existem cada vez mais pessoas com seguros de saúde? Porque o SNS não responde. Porque motivo mesmo aqueles que possuem ADSE, procuram também um seguro de saúde? Porque o SNS não responde e porque a ADSE muitas vezes também já não responde. Finalmente, porque motivo a maior parte dos nossos governantes que insistem num SNS imutável, têm seguros de saúde privados? Porque, para além da hipocrisia evidente, confessam assim a sua incompetência.

Isto é, hoje em dia já existe uma saúde para os pobres – o SNS -, outra para os remediados – os funcionários públicos com a ADSE – e uma outra, de melhor qualidade, para quem pode pagar seguros de saúde – incluindo-se nestes a maior parte dos nossos políticos. As companhias de seguros devem idolatrar a Dr Marta e o Dr Costa, verdadeiros beneméritos e obreiros do maior crescimento neste sector segurador desde sempre.

Está-se perante uma sucatização do SNS, amanhã genuíno “bidonville” da saúde.

Por onde começar? Por uma rede articulada de centros de saúde, de hospitais públicos, de hospitais públicos com gestão privada, de hospitais privados e de hospitais sociais, edificando um sistema articulado, cujo destinatário final tem de ser o doente, sejam quais forem as suas posses. Ou seja, o SNS deveria constituir-se como um Sistema Nacional de Saúde.

É também elementar proceder-se a uma profunda reestruturação de todas as carreiras das diferentes profissões existentes no SNS – e não apenas à dos médicos – e aumentar as vagas para a formação de especialistas médicos, sem o qual a fuga de especialistas para o sector privado vai continuar.

O que a história nos tem ensinado é que os complexos ideológicos são sempre um caminho célere para o subdesenvolvimento dos povos. Os amanhãs que cantam, murcharam. Precisa-se, urgentemente, de um povo acordado.

P.N.Pimenta Braz

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