Opinião | 30-07-2022 08:54

Todo o inquisidor é um tarado sexual

Santana-Maia Leonardo

Mudaram os inquisidores e os dogmas, mas o método mantém-se. Ainda recentemente, em Madrid, Jesús Luis Barrón López, professor de Biologia há 25 anos, foi suspenso por ter dito que só existem dois sexos: o masculino e o feminino. Neste momento, já não me atrevo sequer a emitir opinião sobre esta matéria, mas de uma coisa tenho a certeza: Galileu, se vivesse hoje, teria de jurar que havia sexos para todos os gostos.

A liberdade de expressão é a trave-mestra das sociedades abertas, como ensinava Karl Popper: “Quando evitar ofensas constitui a nossa principal preocupação, rapidamente se torna impossível dizermos livremente seja o que for.” Portugal viveu trezentos anos sob o jugo da Inquisição e cinquenta anos em ditadura, o que significa que somos um povo que não só não valoriza muito a Liberdade como vive bem sem ela.

A Santa Inquisição usou a violência, tortura, ou a simples ameaça da sua aplicação para extrair confissões dos hereges. O dogma não se discute. E o próprio Galileu foi obrigado a jurar, por todos os santinhos e pela sua saúde, que a Terra não se movia.

Hoje a situação não é muito diferente. Mudaram os inquisidores e os dogmas, mas o método mantém-se. Ainda recentemente, em Madrid, Jesús Luis Barrón López, professor de Biologia há 25 anos, foi suspenso por ter dito que só existem dois sexos: o masculino e o feminino. Neste momento, já não me atrevo sequer a emitir opinião sobre esta matéria, mas, de uma coisa tenho a certeza: Galileu, se vivesse hoje, teria de jurar que havia sexos para todos os gostos e que a heterossexualidade era uma aberração cultural que não tinha qualquer base científica, sob pena de ser atirado para a fogueira das redes sociais e expulso da comunidade científica.

No entanto, é importante não confundir alhos com bugalhos. Uma coisa é o género gramatical, outra coisa é o género sexual. São duas coisas diferentes e que não se confundem. Uma pedra é do género feminino, do ponto de vista gramatical, mas não é do género feminino, do ponto de vista sexual. Penso que não é preciso ser muito inteligente, nem letrado, para perceber esta evidência.

Do ponto de vista gramatical, em latim, o género masculino é o género neutro. Ou seja, não era nem masculino, nem feminino, do ponto de vista sexual.

Do ponto de vista gramatical, o género marcado era o feminino. Ou seja, gramaticalmente, o género masculino era unissexo, enquanto o género feminino era apenas feminino.

Passando a exemplos práticos. Se eu disser: “Chamem um médico!” e me trouxerem uma médica, foi cumprida a minha solicitação. Agora se eu disser: “Chamem uma médica!“, a solicitação não é cumprida se me trouxerem um médico. Se eu quiser um médico-homem, tenho de dizer: “Chamem um médico que seja homem“. Alguma dúvida?

Não deixa, no entanto, de ser esclarecedor que sejam precisamente aqueles que querem acabar com os sexos que vejam sexo em tudo. O que só vem demonstrar que Freud tinha razão. Todo o inquisidor é um tarado sexual.

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