Política | 07-05-2022 12:00

Edição Semanal. Desfile contra o fascismo junta uma centena de pessoas em VFX

Mais de uma centena de pessoas juntaram-se à União de Resistentes Anti-Fascistas Portugueses para marchar, no Dia da Liberdade, contra o fascismo

União de Resistentes Antifascistas Portugueses recordou como era a vida antes da Revolução dos Cravos e partilhou o desejo de um mundo mais unido, sem guerras ou extremismos.

Mais de uma centena de pessoas juntaram-se à União de Resistentes Antifascistas Portugueses (URAP) para marchar, no Dia da Liberdade, contra o fascismo. Antes do desfile, que terminou no largo da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, o grupo coral da Associação de Reformados Pensionistas e Idosos de Vialonga cantou três canções em frente à estátua de Alves Redol, escritor vilafranquense considerado um dos expoentes máximos do Neorrealismo português.
O MIRANTE esteve à conversa com Álvaro Pato, 72 anos, um dos maiores símbolos da resistência antifascista no concelho. Foi estudante no Instituto Industrial e Comercial de Lisboa, onde começou a ser perseguido pela Polícia Internacional para a Defesa do Estado (PIDE), por estar envolvido em lutas contra o regime. Depois de ter sido expulso do instituto andou pela semi-clandestinidade, até ser forçado a cumprir serviço militar. Em 1971 ingressou no curso de sargentos milicianos, em Tavira, mas, após cumprir a recruta e a especialidade, desertou, tornando-se, aos olhos do Estado Novo, um inimigo de Portugal. Na clandestinidade adoptou o nome de António Gomes da Silva e fundou a Juventude Trabalhadora para lutar contra a Guerra Colonial e a ditadura de Salazar.
Em Maio de 1973 foi preso pela PIDE e torturado, durante 11 dias, para lhe tirarem informações sobre camaradas e amigos anti-regime. Nunca cedeu e por isso foi colocado mais três meses numa cela isolado, até se juntar a outros presos políticos. Foi libertado a 27 de Abril de 1974, da prisão de Caxias, e retomou a sua vida em liberdade. Casou, foi pai de dois filhos, de quem tem quatro netos. “É uma história normalíssima de um português que vive num país em liberdade” conta, em jeito de brincadeira.

Mais do que um desfile, é uma mensagem
O desfile contou com a presença de trabalhadores de vários ramos de actividade, antigos presos políticos, jovens, idosos e até crianças a acompanhar pais e avós. “Mais do que um desfile, o importante é a mensagem que passa para os mais novos. De que a liberdade que hoje usufruem custou muitas vidas e custou muito a conquistar”, refere a O MIRANTE Ana Santos, uma das participantes no desfile.
Cláudia Martins, da URAP, também se mostrou satisfeita pelo sucesso da iniciativa e por se ter conseguido passar a mensagem que a democracia e o livre-arbítrio são princípios fundamentais para a vida em sociedade. Cláudia Martins adiantou que o número de membros da URAP no concelho duplicou nos últimos dois anos, algo que é “motivo de orgulho” para o grupo.
Álvaro Pato encerrou as intervenções com um discurso que recordou a vida e a história de muitos “camaradas antifascistas”. As lágrimas escorreram-lhe pelo rosto, assim como em várias pessoas que escutaram com emoção o seu discurso. Como é habitual, a iniciativa terminou com todos os presentes a cantar a uma só voz a música “Grândola Vila Morena”, de Zeca Afonso, e o Hino Nacional.

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