Saúde mental: fechar os olhos aos sintomas não acaba com a doença
Elsa Teixeira quebrou o silêncio para falar de depressão, ansiedade e bipolaridade a propósito do Dia da Saúde Mental. O psicólogo Ricardo Luciano alerta que faltam respostas consistentes e clínicos num país onde a “saúde mental é maltratada”.
Dois filhos amados, uma casa, trabalho e um marido atencioso. Elsa Teixeira parecia ter tudo para ser feliz, mas não conseguia libertar-se de uma tristeza profunda acompanhada de uma revolta interior. Nos dias em que se ia mais abaixo não queria sair do quarto, tomar banho, trabalhar e nem os filhos conseguiam ser motivo de alento. Só queria “ficar no escuro, sozinha”. Durante anos ignorou todos os sintomas: os tremores, a dor no peito, o choro constante, o cansaço e o primeiro ataque de pânico que a derrubou.
“Não sabia o que me estava a acontecer. Fiquei toda encarquilhada, não conseguia mexer os braços, babava-me e urinava. Estava numa paragem de autocarro e achei que ia morrer naquele dia”. Ficou dois dias internada no hospital, mas depois de sair Elsa Teixeira, agora com 41 anos, não procurou ajuda. O motivo? A resposta divide-se entre o pensar tratar-se de uma fase passageira e o medo de “ser considerada maluca”.
Em Portugal mais de um quinto da população (22,9%) sofre de uma perturbação mental, sendo o segundo país com a mais elevada prevalência de doenças mentais da Europa. E apesar de “a pandemia ter trazido um outro tipo de leitura à sociedade acerca das patologias”, na opinião do psicólogo clínico e da saúde, Ricardo Luciano, “a saúde mental continua a ser maltratada”.