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Um “circo” sobre rodas

Etapa da Volta a Portugal em bicicleta atravessou o Ribatejo e terminou no Cartaxo

O mínimo que se pode dizer da passagem da Volta a Portugal em Bicicleta pela região é que foi uma grande festa. A caravana passou pelos concelhos de Abrantes, Constância, Chamusca, Alpiarça, Almeirim e Santarém, terminando no Cartaxo, onde um mar de gente esperou várias horas pelos ciclistas.

Há 34 anos que o Cartaxo não recebia uma chegada da Volta a Portugal em Bicicleta. O “jejum” só foi quebrado este ano, com a segunda etapa da 66ª edição da mais importante prova velocipédica portuguesa a terminar no coração da cidade, mesmo ao lado do edifício dos Paços do concelho.A “fome” era tanta que a zona central do Cartaxo se encheu com milhares de pessoas. Os dois lados da estrada nacional número 3 estavam repletos de gente de todas as idades que não quis perder esta oportunidade de ver, ao vivo, a chegada da grande caravana. Os melhores lugares, mesmo junto à linha de meta, começaram a ser ocupados ainda os ciclistas estavam em Abrantes, a cerca de duas horas do final da etapa. Mas uma chegada da Volta a Portugal em Bicicleta não se resume à vinda dos ciclistas. É impressionante o aparato que é montado junto à chegada. Os últimos duzentos metros são totalmente vedados com barreiras metálicas, para que ninguém tenha a tentação de se atravessar no meio dos ciclistas e o trânsito em toda a recta da meta fica interdito desde cedo.No caso do Cartaxo, praticamente toda a subida desde a rotunda à entrada da cidade (para quem vem do lado de Azambuja) até à Igreja Matriz, esteve com o trânsito cortado entre as 8h00 e as 18h00, o que dificultou enormemente a circulação no centro da cidade. O troço entre o largo da câmara e o tribunal também esteve cortado nesse período. Ir aos bancos, à câmara, ao mercado ou à junta de freguesia era assim bem mais complicado.A maior confusão começou no entanto por volta das 15h30. A circulação foi cortada na circular urbana, impedindo o trânsito de todas as viaturas durante mais de uma hora. O Cartaxo parecia uma cidade cercada. Uma dor de cabeça para alguns condutores e para a polícia, que tinha de estar com atenção para evitar que alguém furasse o “cerco”. Como o condutor de uma velha motorizada, que por duas vezes tentou, sem sucesso, apanhar o polícia distraído na rotunda sul para passar em frente, mesmo em direcção à zona de meta.No local da chegada, um ecrã gigante transmitia a emissão da RTP 1, o canal televisivo que emite em directo as partes finais das etapas. Assim que os corredores saíram de Santarém foi-se notando uma espécie de nervoso miudinho. Afinal os heróis do pelotão estavam quase a chegar e havia uma enorme expectativa sobre quem seria o primeiro. As opiniões dividiam-se, mas a maior parte sonhava com uma vitória de Gonçalo Amorim ou Renato Silva, dois ciclistas naturais do concelho que participam nesta edição.Nos cafés e pastelarias da zona da meta, discutia-se o mesmo e com os mesmos favoritos. Os estabelecimentos que tinham televisão foram os mais procurados por quem queria fugir ao calor (29 graus) mas não queria perder pitada da aproximação dos corredores.As sirenes das motas e carros da brigada de trânsito da GNR, que se começavam a ouvir cada vez mais perto, eram sinal de que os corredores estavam a chegar e iam aumentando o suspense. Quando os ciclistas apareceram no início da subida, o barulho tornou-se quase ensurdecedor. As palmas e os gritos de apoio abafaram tudo o resto e os poucos segundos que o pelotão demorou a cortar a meta pareceram ser recompensa suficiente para quem perdeu várias horas para ver chegar a volta. Pelo menos as caras estavam alegres e naqueles minutos poucos se terão lembrado dos problemas do dia a dia.Ganhou Cândido Barbosa, que se impôs ao pelotão num sprint vigoroso, mas para muitos isso pouco interessou. É que oportunidades destas não há muitas e as recordações ficam para toda a vida. Para o ano o Cartaxo vai ser local de partida para uma etapa, mas a emoção não será a mesma.Brindes para todos os gostosFalar da Volta a Portugal em bicicleta é muito mais do que falar apenas em ciclistas, bicicletas, etapas e classificações. Há muito que as empresas perceberam a popularidade da modalidade junto do público e a caravana publicitária é hoje parte integrante do ciclismo.Ao longo de toda a etapa, antes dos ciclistas passarem, surgem os patrocinadores, que vão deixando cair brindes e folhetos junto do público, mas a zona da meta merece sempre uma atenção especial. Este ano os chapéus, da Rádio Renascença, os megafones em papel, do Licor Beirão, as garrafas de água da Aquarel, e as “mãos” em plástico, com publicidade a várias marcas, foram os brindes mais populares de um enorme lote que incluía ainda réguas e bolinhos, distribuídos a quem estava perto da chegada.As meninas de mini-saia também chamaram a atenção com as suas coreografias ensaiadas e caras sorridentes. Os mais novos tinham um mini jardim infantil para poderem brincar, saltando em colchões insufláveis, jogando futebol, ou fazendo pinturas na cara.A volta da televisãoA RTP 1 transmite em directo a última hora de cada etapa da Volta a Portugal em Bicicleta, mas a passagem da caravana ciclista é aproveitada pela televisão do estado para fazer uma mini-volta a Portugal olhando a cultura e as tradições de cada terra que acolhe a chegada da etapa.No Cartaxo não foi diferente. O jardim da Quinta das Pratas foi o local escolhido para a televisão assentar arraiais e transmitir durante mais de uma hora um programa dedicado ao Cartaxo onde participaram ranchos folclóricos, artesãos e autarcas, entre outros. Não faltaram também os campinos e a referência ao vinho da região.Um “speaker” ribatejanoO ribatejano Paulo Cintrão, natural de Pernes, concelho de Santarém, é o comentador e animador (speaker) das chegadas da Volta a Portugal em bicicleta. Jornalista da rádio TSF, Paulo Cintrão abdicou das férias para experimentar esta nova sensação. Está a gostar mas não pensa repetir.“Está a correr tudo bem, todos me tratam de forma espectacular mas sou jornalista e gosto mais de estar do outro lado. Não estou muito talhado para estas questões da animação”, disse ao nosso jornal.Paulo Cintrão fala diariamente com muitos ciclistas, mas reconhece uma maior afinidade com Gonçalo Amorim e Renato Silva, ambos do Cartaxo. “Estou sempre a meter-me com os óculos do Gonçalo”, conta.Habituado a dedicar-se essencialmente ao futebol - ainda recentemente acompanhou diariamente a selecção portuguesa no Euro 2004 - o jornalista da TSF mostra-se agradado com o ambiente que rodeia o ciclismo. “Contrariamente ao que acontece no futebol, no ciclismo chego ao pé de qualquer pessoa e posso falar com ela, seja atleta, treinador ou dirigente. No ciclismo já perceberam a importância da comunicação social para o desenvolvimento da modalidade e promoção das equipas. É um exemplo que devia ser seguido”, conclui.

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