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Quem quer ser ama?

Núcleo da Cruz Vermelha do Cartaxo quer criar alternativas às creches superlotadas

No Cartaxo existem mais de duas centenas de crianças em lista de espera para integrar as três creches do concelho. Para minimizar o problema da sobrelotação das instituições o núcleo da Cruz Vermelha está a criar o serviço de amas do concelho do Cartaxo.

Na última semana Joana, dois anos de idade, tem andado muito calada. Maria Helena Vicente, 31 anos, a ama que a acolhe desde o primeiro ano de vida, desconfia que a menina adivinhou que está a chegar a hora de começar a frequentar a creche.Hoje, sexta-feira, é o último dia de Joana em casa de Helena, no Cartaxo. Os pais preparam-se para partir de férias e no próximo ano lectivo a jovem terá uma nova educadora. “Já me fartei de chorar. Afeiçoamo-nos às crianças e custa quando vão embora”, desabafa Helena, que assistiu aos seus primeiros passos da pequena Joana.O marido, Luís, que nas horas livres costuma ajudar a esposa a tratar das quatro crianças que tem a seu encargo, também já teve que refugiar-se no quarto para não deixar escapar umas quantas lágrimas frente às crianças.Tal como Joana, também Oceana, Marco e Carolina permanecem aos cuidados da ama durante toda a semana. Para muitos pais as amas são a única alternativa que encontram para poder deixar os filhos enquanto vão trabalhar. No concelho do Cartaxo as três instituições que possuem valências para crianças entre os três meses e os três anos estão sobrelotadas e têm grandes listas de espera.Para tentar criar mais soluções o núcleo da Cruz Vermelha do Cartaxo tomou a iniciativa de apresentar ao Centro Distrital de Solidariedade e Segurança Social uma candidatura para criar o serviço de amas do concelho do Cartaxo. “É uma resposta social que não existe ainda no Cartaxo. Existem amas, mas muitas não estão devidamente licenciadas para exercer a actividade pela segurança social”, explica o sociólogo do núcleo da Cruz Vermelha, Dário Costa, responsável pelo projecto.A taxa de cobertura de creches no concelho é de 24 por cento. Segundo os dados estatísticos de 2001 das 660 crianças entre os três meses e os três anos existentes no concelho, apenas 158 se encontravam a frequentar creches. A lista de espera ultrapassava as 220 crianças. “Há pessoas que logo que engravidam vão inscrevê-los nas creches, mesmo antes de nascerem”, exemplifica.Dário Costa lembra no entanto que nem todos os pais querem colocar as crianças em creche. Muitos optam por entregá-las ao cuidado dos avós ou permanecem em casa para acompanhar os primeiros anos de vida.Uma actividadedesgastanteDário Costa lembra que exercer a actividade de ama é uma profissão desgastante. “A pessoa está na sua própria casa e o convívio com outras pessoas é muito menor. Estamos a falar da conciliação com a vida de quatro famílias”.Que o diga a ama Maria Helena Vicente que acolheu uma bebé cujos pais trabalham de noite. A menina permanecia com a ama entre as quatro da tarde e as duas da manhã e tinha ainda de tratar das outras crianças durante o dia. Esteve à beira de um esgotamento. Hoje Maria Helena já consegue facilmente adaptar-se aos horários das quatro famílias. Para Dário Costa a oferta de amas pode ser uma resposta mais flexível e ajustada às necessidades actuais dos pais. O projecto do serviço de amas do concelho do Cartaxo prevê a criação de uma rede de 12 amas que acolherão 48 crianças. O processo de recrutamento e selecção das amas será complexo e exigente. “Não se está só a tratar das condições de habitação das candidatas, mas sobretudo das condições pessoais e familiares para poderem exercer essa actividade”.Depois da fase de inscrição, que decorre até ao final de Agosto na sede do núcleo da Cruz Vermelha, os dados de cada candidata serão analisados. Posteriormente, com a equipa técnica da segurança social, serão realizadas visitas domiciliárias para avaliar as condições de habitabilidade.As entrevistas individuais concluem o processo de selecção das candidatas escolhidas para a formação de amas: A acção deverá iniciar-se no final de Setembro e durará mês e meio. O exercício da actividade de ama está sujeito a um número máximo de quatro crianças. O núcleo da Cruz Vermelha do Cartaxo funcionará como instituição de enquadramento, responsável pela ligação entre as amas e a segurança social. A instituição companhará todo o processo de funcionamento da valência, desde a admissão das crianças, passando pela formação e pagamento das amas até às reuniões com os pais das crianças.Dário Costa lembra que muitos pais não estão sensibilizados para colocar as crianças em amas, mas considera que é importante que percebam que se não há alternativa em creche pode haver outra solução que oferece também “qualidade e segurança”. Ana Santiago

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