*Ana SantiagoPoucos minutos passariam das sete da manhã de uma terça-feira de Setembro - dia de fecho de edição do jornal - quando dei por mim às portas do Hospital Distrital de Santarém. Entrei na maternidade, não na minha habitual condição de repórter, mas como simples cidadã prestes a viver uma das experiências mais emocionantes que a natureza nos permite.Habituada a registar os pormenores dos acontecimentos, a observar os ambientes e a fazer perguntas lembrei-me do lápis e bloco de notas que tinha colocado no fundo da mala na esperança de conseguir escrever algumas linhas, mas a intensidade do momento impediu-me de o fazer. Apercebi-me então que estava a viver a grande reportagem da minha vida do lado de dentro. As perguntas que não consegui conter foram feitas na qualidade de mãe e foi com o coração que vivenciei cada minuto de silêncio e movimentação.Dizem os manuais de jornalismo que o profissional da comunicação deve primar pelo rigor, imparcialidade e distanciamento. Apesar de ter sido uma testemunha privilegiada do acontecimento (que em termos puramente jornalísticos serviria apenas para engrossar o vasto rol de estatísticas) esta seria uma reportagem que nunca poderia escrever.*Jornalista