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Caloiro aos 64 anos

Caloiro aos 64 anos

Carlos Alves é um dos mais velhos alunos do Politécnico de Tomar

O novo estudante do ensino superior até recorreu a uma empresa de formação para ganhar conhecimentos de Informática que lhe permitissem fazer boa figura nas provas de acesso. E acabou por ter a melhor nota.

Há 49 anos que não pegava num livro escolar. Até ao Verão deste ano, quando se inscreveu no Instituto Politécnico de Tomar, no curso de Fotografia. Aos 64 anos, Carlos Duarte Alves é um dos caloiros seniores do ensino superior. Passeou por Tomar de cara pintada às riscas, andou na borga com os colegas até às quatro da manhã e já decidiu que no cortejo dos caloiros vai de cabelo pintado e cheio de gel. Os 64 anos, garante, só lhe pesam no corpo. A mente, essa, está mais que preparada para voltar à vida de estudante.A decisão de se inscrever no ensino superior surgiu após a leitura de uma entrevista num jornal, onde o entrevistado, de 33 anos, dizia ter-se inscrito na universidade. “E porque não?”, questionou-se Carlos Duarte Alves.O primeiro passo foi pedir o certificado de habilitações, na escola onde tirou o antigo curso industrial. Foi aí que soube que há precisamente 49 anos tinha fechado o seu ciclo escolar. A seguir foi ao Politécnico de Tomar e fez a inscrição ao abrigo do regime especial de acesso para maiores de 23 anos. Antes que se arrependesse do seu “devaneio”.A mulher e os dois filhos só ficaram a saber na véspera do exame de admissão e deram-lhe todo o apoio. Escolheu a disciplina de Informática para a “prova dos nove” e nem o facto de nada saber de Excel (programa informático) o levou a desistir. “Contactei uma empresa de formação e disse-lhes que tinha dez dias para aprender de trás para a frente um programa sobre o qual nada sabia”, diz o aluno, adiantando orgulhoso que, após 18 horas de treino diário, conseguiu ter a melhor nota na prova de ingresso – 14 valores.Desde pequeno que conhece a arte da fotografia. “Tinha um tio com um laboratório e lembro-me de me fechar lá com ele, a observar tudo com muita curiosidade”, diz o residente em Tomar, homem dos sete ofícios. Trabalhou numa empresa de papel, esteve 30 anos numa gráfica, dez anos numa tipografia. Desde 1974 até há pouco tempo colaborou com um jornal da cidade – “era eu que tirava as fotografias” – e esteve na fundação da primeira rádio. Nos tempos livres tirava fotografias, primeiro a amigos e conhecidos, depois em casamentos, baptizados e comunhões. Tem centenas de revistas e livros técnicos de fotografias, muito menos que as fotos já tiradas, que arquiva religiosamente em casa. É o sócio nº 425 da Associação Nacional de Fotógrafos. E quer tirar o curso de fotografia.“Sei que em termos práticos pouco me vão ensinar, porque tenho muito anos disto”, diz. Então porque é que se inscreveu? “Porque me falta a sensibilidade, um olhar diferente sobre as coisas, o olhar de fotógrafo”, admite o aluno sénior.“Sei que não vou tirar o curso em quatro anos porque já não tenho a cabeça dos miúdos de 18 mas hei-de conseguir acabá-lo antes de morrer”, diz que um dia, há 11 anos atrás, sofreu um enfarte “sem nunca ter estado doente”. “Tive 12 dias ligado à máquina e só aí me fizeram a ficha médica, veja lá”. É por isso que se sente “rijo” o suficiente para levar a aventura até ao fim. Com a ajuda da “malta”, que teima ainda em o tratar por senhor.Margarida Cabeleira
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