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31 anos do jornal o Mirante
Artur Barbosa

Artur Barbosa

51 anos, médico

Nasceu a 13 de Janeiro de 1957 na Ilha do Fogo, em Cabo Verde. Com 17 anos veio viver para Santarém com o objectivo de acabar o liceu. Desde muito novo que traçou a medicina como rumo. Médico de Clínica Geral e Familiar é, desde há seis anos, director do Centro de Saúde da Chamusca. Último de seis irmãos, é um optimista por natureza.

A escolha de medicina dá-se muito cedo na minha vida. Com nove anos, com uns primos meus, tentei fazer um transplante cardíaco entre dois passarinhos. Claro que não resultou (risos). Sempre quis ser médico embora tivesse existido uma altura, como andávamos muito de avião entre as ilhas, que me fascinava ser piloto. Cheguei a colocar essa hipótese caso não conseguisse entrar em medicina. O meu pai tinha o lema que todas as profissões eram válidas se fossem postas ao serviço da comunidade. Entrei em Lisboa, na Faculdade de Ciências Médicas, em 1976. Fiz os seis anos de curso todo seguidinho e dois anos de estágio em Cascais. Fiz a especialização em Medicina Geral e Familiar, fiz medicina do trabalho e fiz peritagem médico-legal. Curiosamente, a seguir ao meu estágio trabalhei três anos em serviço de cirurgia. Mas acabei por optar pela medicina-geral e familiar. Gosto muito de comunicar, de estar com as pessoas e o cirurgião comunica pouco. Sempre me habituei e gostei de viver em meios pequenos. Vivi em Lisboa enquanto estudante e, na parte final da minha vida estudantil, fui morar para Cascais onde estive durante quatro ou cinco anos. Mas durante esse tempo sempre tive vontade de regressar ao Ribatejo. Em 1986 concorri para uma vaga de médico na Chamusca e fui morar para o Pinheiro Grande, onde vivi durante 17 anos. Há cinco anos que moro na Chamusca. Sou uma pessoa optimista por natureza, mesmo nas situações mais adversas. Gosto muito de me rir e conviver com os outros. Tento tirar da vida o lado positivo que considero ser superior ao negativo. Como médico-legista faço autópsias e passam-me pelas mãos situações difícieis e complicadas mas mesmo assim tento ver o lado bom da vida e animar as pessoas para seguirem em frente. O meu lema é o de que se pudermos facilitar a vida às pessoas devemos fazê-lo. Sou director do Centro de Saúde da Chamusca há seis anos. Dedico cerca de quatro a cinco horas por semana às actividades de director. O meu dia profissional começa por volta das duas horas da tarde e termina às dez da noite, quando fechamos o centro. Mas não desligo o meu telemóvel. Estou sempre contactável. Por vezes podemos resolver muitos problemas por telefone. Sou médico de família e é o papel no qual me sinto melhor. Fazemos o luto com as pessoas quando as coisas correm mal e festejamos com elas quando correm bem. Num meio pequeno, as pessoas, ao fim de algum tempo, deixam de ser apenas utentes e passam a ser quase da família. Há um partilhar de emoções muito forte. Por norma não uso bata. Sinto que cria um distanciamento entre o médico e o paciente. Na vida de um médico acontecem muitos episódios engraçados. Sou benfiquista e, certa vez, apareceu-me uma senhora, na casa dos cinquenta e tal anos, a dizer que “o seu Benfica” não estava muito bom. Eu concordei e respondi que realmente o nosso Benfica não andava bom. Ao que a senhora me replicou surpreendida: “mas os homens não têm menstruação?!!!” (risos). Este episódio passou-se quando tinha 29 anos. Fiquei bastante atrapalhado porque nunca me passou pela cabeça que a senhora usasse esta metáfora (risos). Os meus tempos livres são passados a passear e a mexer na terra. Sou casado e tenho três filhos, de 24, 15 e 5 anos. Aos fins-de-semana dedico-me à agricultura. Gosto muito de semear e lavrar a terra. Quando era mais novo gostava muito de andar a cavalo mas tive uma queda que me traumatizou. Foi um hobbie que pratiquei durante alguns anos mas que pus de parte. Gosto muito de touradas e das tradições ribatejanas, que vivo desde os 17 anos. Acho que é uma forma brava e muito leal de enfrentar a fera, porque o toureiro está cara a cara com o touro e ganha porque é mais inteligente. É a inteligência contra a massa bruta que está em jogo. Para mim é uma competição muito leal.
Artur Barbosa

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